domingo, 29 de novembro de 2009

caminho

da busca ao encontro, que se fez, que desfez o rosto em águas, que desfez o semblante em uma dor latente que se fez tão dura como as pedras que pisou... como as pedras que bateu, como as que ao rio arremessou... na vastidão de um mundo vão fica a dor de uma lacuna que não será preenchida por falta de uma vida que se foi... ficam os braços que não se perdem nos abraços, mas se encontram mais adiante, numa curva, numa beirada, numa outra parada ou num ponto onde muitos descem e poucos sobem... fica o calor da mão e palavra certa que inspira o incerto das realizações... fica o joelho dobrado e batido que se desdobra na direção da dor que se desfaz depois da agonia e só depois do ar que falta, do aperto e da sensação de se perder a vida que já se foi... das lágrimas molhando o rosto, molhando o chão, criando um rio de saudade e dor... um rio que leva e deixa, que traz de novo o novo que virá... o mar se agita em ondas que fulminam o próprio peixe que lá está, que deixam a sereia do mar preocupada cantando notas em baixas toadas pra acalmar a solidão... que vem como tempestade certeira que varre a areia e molha por dentro do coração...
e novamente nasce o sol e seca as molhações que estavam até então e deixa seco e deixa secando ao sol as dores, as emoções... e deixa no peito o nada de sempre, o vazio habitual de uma saudade que já não dói, sendo ela a certeza de que foi melhor... sendo ela a certeza de que quando o peito precisar ficará cheio novamente, de amor se preencherá... fica a mão preza na outra que nunca mais solta, que nunca mais sozinha, que nunca mais solidão... já que em outras estradas agora em carreira se encontra caminhando ao lado de quem ama e vendo de cima os que sempre amou... sinto não mais a dor que esmagou meu peito, o afogamento das emoções, sinto a paz de um mundo inteiro que está nas costas mas com fio-barbante sendo puxado por quem já se foi...

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

virtualidades

eu temos de verdade as virtualidades
que nos levam prum mundo
que nos tiram de outro
tão real
tão irreal
tenho medo de me tornar máquina
de escrever, de descrever, de não viver
tenho medo de virtualizar
de começar a esquecer
como se faz na verdade
pra viver
tenho medo de me chipar
de me raquear
de deixar entrar em mim um vírus
que destrua o programa
que me torna humana
tenho medo de acordar um dia
estar dentro de uma tela
de não mais falar
só digitar
só digitalizar
só pixalizar
de não sentir
as virtualidades estão cada vez mais presentes
mas no futuro eu temo
que não se saiba mais
como lidar com pessoas ao vivo
nesse mundo tão morto
das virtualidades

aos abutres com carinho

vou retirar meus olhos da face e jogar aos abutres, vou contratar uma dúzias deles para me seguir até o fim do mundo, onde jogarei meus olhos como pagamento pelo trabalho...
vou retirar da face sem lacrimejar e atirar ao alto, vou gritar bem alto números de um até três e arremessar para que sejam devorados ao vivo, ao morto, para que sejam devorados e tenham mais serventia como alimento de estômagos do que tem servido à minha'alma...
vou retirá-los de onde agora estão já que não me cabem, já que não mais me servem, já que olham o que não se pode ver, olham o que não devem... vou retirá-los e deixar de aviso para que os demais órgãos possa saber de maneira cruel e pontual o que é que acontece quando um deles desobedece os meus desmandos...
vou retirá-los sem aviso, sem prejuízo ao meu juízo abalado pelas fotografias que tiram meus olhos sem que ao menos eu possa me defender, me revelar... vou caminhar sem sentido no sentido da minha intuição, tateando no escuro a beira do muro da minha sanidade mental...
vou retirá-los e esquecer que um dia os tive, que um dia olhei, que um dia vi... retirá-los e colocar no lugar duas cobras, dois escorpiões, dois venenos, dois desagrados, duas buricas foscas... colocar no lugar qualquer coisa que minta pra mim e não me revele verdades envenenadas pelas imagens que se formam adiante da minha retina...
vou retirar os meus olhos num dia de sol e jogar aos abutres, já que carcomidos eles já estão por dentro, só me resta levá-los ao júri do meu pensamento que os condena a virar alimento de ácidos e não das minhas amargas desilusões...

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

A+3+3= 60 ANOS OU NÃO???

eu estou caminhando na direção certa? estou caminhando na direção certa agora? estou caminhando então? vocês estão caminhando e (pausa) vocês estão caminhando e (pausa) eu não estou caminhando mesmo quando vocês estão caminhando no caminho certo. vocês caminham e eu não, vocês e eu não. apague e luz, por favor. apague a luz? apague a maldita luz, por favor? apague! (grita) a-pa-gue!!!
minha mão está dormente, não há mais sangue nela? você consegue ver que não há mais sangue na minha mão agora? eu carrego uma parte do mundo comigo, como uma mala com uma muda de roupas, uma muda na mala, uma parte muda do mundo que não muda, eu não mudo! não mudo! não mudo de mão se você me ajudar e criar um mundo com muito gás hélio, eu não mudo...
eu sei dos meus papéis aqui, sabemos todos não? eu caminho quando vocês caminham e conversamos coisas banais no caminho de volta para casa, quase o nosso caminho de volta, não venta, não volta. caminhamos rumo ao conhecido caminho de volta pra casa. eu vou rir agora, vocês me acompanham? me acompanham no caminho e num risinho que pode aparecer pelo caminho de volta ao começo, pode aparecer no meio do começo!
todos conhecem essa porta, as portas mudam, muda? é nessa hora que eu pergunto e vocês me respondem. tem um "V" na portaria e um "B" na poltrona. as portas mudam, eu pergunto e "V" me indica a escada. vocês vão de elevador, eu me pergunto? vão de elevador? vão me perguntar, eu me pergunto?
a mesma porta, elas mudam, as portas mudam conforme me mudo? elas mudam de porta em porta. ela se abre num risinho. começo meu meio, movimento, movimento tentando um silêncio que ecoe um mundo mudo enquanto me mudo. espero. espero. espero.espero. o elevador não muda, não como as portas. onde sobem vocês agora? onde sobem? começo.
mais uma porta se muda. agora em minha cintura que se abre em "M", agora. soco o ouvido contra ela, escuto passos. não são números, são mais letras, são letras sem mais, sem mais são letras. minha mão dormente acorda, o sangue volta, entorna a maçaneta, giro, abro, ouço, agora são números, só agora. caminho enquanto vocês agora estão parados. apaguem a luz, por favor. apague!

terça-feira, 24 de novembro de 2009

um vestido e um amor

http://www.youtube.com/watch?v=rAQJ6mAsaqI

ESTRÉIA

DIA 25/11 ÁS 20H E 21:30H NA CINEMATECA DE CURITIBA, ENTRADA FRANCA!!!

APAREÇAM!!!

BEIJO!!!!

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

experimentação

eu ando pensando numa proposta, e quando a mesa estiver posta eu vou declamá-la em alto e bom som, talvez não seja de bom tom fazer essas declamações assim, com a mesa posta e no prato principal uma posta recheada de amarguras... ando pensando umas coisinhas, umas especificações, uma degradações, umas ões, ando pensando em voz alta pelas ruas da cidade inteira, ando ficando grudada nas paredes por onde passo, paço, liberdade, flores e ruas, ando andando por ai sozinha, com meus botões ou sem eles, ando... e quando chegar a hora não vou me recolher numa rádio amadora e falar por ondas, quando chegar a hora e ela certamente chegará, já que o tempo não para de nos rodear e nos perguntar as horas essa hora vai chegar e eu desta vez não me atrasarei, chegarei mais cedo pra me preparar para quando a hora chegar... estarei sobre o palanque, banhada de suor e maquiagem, estarei de figurino pronto ou quase pronto e pronto será chegada a minha hora de falar ao vivo e em muitas cores, falarei uma cor da cada vez, eu decorei as cores, sei decór... não virarei os olhos, não virarei de costas, não virarei outra coisa se não uma porção generosa de cores-aperitivo em dia de verão... ando percebendo os jeitos das coisas e das pessoas, como elas são e como na verdade não são nada mais do que umas coisas-pessoas-coisas... ando reparando no mundo com uma especial dedicação, fico horas só nisso, reparação... fico horas, como um creme para cabelos com pontas duplas e secos e quimicamente desgastados, fico horas só em reparação, grudada no mundo que é agora o meu cabelo mau tratado e também sou creme e touca térmica e cabeleireira e esteticista e secretária e o mundo todo sabe disso e se desfaz pra mim, pra que eu possa reparar, ele para e repara como eu reparo nele e age como se nada mais pudesse acontecer se não reparar o que já foi feito, o que já foi dito e escrito e fotografado e filmado e comido, um chopp em pleno verão, em praça pública, publicamente tomado, sugado até a última gota e no fundo um recado que não se pode ler já que está molhado e borrado pelo suor que só escorre em dias de verão...verão que sei do que falo, falo com a boca gozada, cheia de expressão, um prazer imenso que vos falo, falo, falo, falo... e a voz pica, fica picotada quando o telefone toca e estamos todos dentro de um túnel, este que nos colocamos para ligar uma coisa a outra, pra ligar e receber ligação e a frase fica picada pelos mosquitos da verdade que nunca mais apareceram por conta dos repelentes que temos nos bolsos de nossas calças sarouel, com o fundo do poço arrastando e nos deixando ainda mais profundo do que nunca somos, do que nunca chegamos tão fundo assim em nós... e o blábláblá continua até alta madrugada e quando para de falar escrevo bilhetes em pequenos caderninhos e entrego aos que passam rapidinho pela rua da minha vida, uma rua sem saída em que moro desde aquele dia em que nunca mais ouvi uma boa música e nunca mais comi uma boa comida e nunca mais nada por aqui, nada em piscina seca de lágrimas que poderiam ter sido e não foram, secas de lágrimas que poderiam ter corrido olho afora, mas agora olho e nada vejo e nada e morre na praia que se transformou de tanta areia que jogo nos meus olhos contra um vento que sopra nos meus ouvidos mais um samba-canção, tiro o calção, as meias, penduro as chuteiras e perduro a sensação de que o jogo ainda não acabou, penduro os quadros negros em meus buracos igualmente da mesma cor e decoro a fala da sala que tudo isso se transformou...
acordou numa manhã comum, de tão comum que era o sol estava amarelo, as nuvens brancas e o céu azul, desejou não ter olhos e correu para o espelho para vê-los, passou rimel e batom nude, fez caretas leves e quase sorriu, calçou os sapatos baixos e pegou as chaves do carro...tinha medo de dirigir desde então... desceu até a garagem, abriu a porta, sentou no banco do motorista, colocou a chave na ignição... respirou fundo, deu partida... pegou a bolsa que estava ao lado, discou número iguais... disse o endereço, levantou, fechou a porta, trancou, colocou a chave na bolsa e caminhou até o elevador...quase chorou... foi até a portaria e esperou, realmente... o céu continuava azul, as nuvens brancas e o sol amarelo, desejou abutres...

decór

eu já sei decór
dessa sua ausência de cor
desse seu suor
eu já me decorei com flor

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

as vezes eu tenho uma saudade guardada-grudada no meio do peito, saudade de umas coisas que não sei o que são, de outras que nem vivi... as vezes eu tenho uma saudade boba de gente que não está mais aqui, dos anos que não conheci, de cheiros, de cores, de sabores que ficaram guardados... as vezes tenho saudade de um futuro tão distante e de um passado colado em mim... as vezes tenho saudade de uma ingênuidade que nunca tive... tenho saudade de ser simples, de só ser e nada mais... as vezes tenho essa saudade tatuada aqui, dentro de um peito que sofre pelo que não foi, pelo que não está por vir... as vezes tenho essa saudade, essa aqui... essa saudade de peito cheio, essa que deixa o peito vazio e se vai...

ingênuidade...

morar no meio do mato, com aquele cheiro de lenha queimando no fogão... acordar antes do sol e recolher os ovos das galinhas, tirar leite das vacas, lavar roupa na mão com sabão em pedra, comer pão caseiro com manteiga de garrafa e café recém moído, passado no coador de pano e servido no bule, tudo feito em casa... passar cera vermelha no chão, vassourão pra dar brilho e óleo de peróba nos móveis de mogno... ver o dia passar pela janela de uma casinha de madeira, com pintura meio desbotada do sol e uma marca de barro uns centímetro do chão feita pela chuva, muitas toalinhs de crochê, um quadro do nosso Senhor Jesus Cristo todo enfeitado na parede da sala, sala sem tv, sem computador, sem internet e o escambau... saber o que é telefone mesmo sem ter um, colocar uma saia gasta, uma camisetinha velha e um chinelo desbotado e ir pra horta, mexer na terra com as próprias mãos de unhas não feitas... plantar salsinha, cebolinha, cenouras, alfaces, um pequeno tomateiro, cuidar de uns pés de frutas e depois ir pra dentro fazer doces e compotas com açúcar cristal ou mascavo que serão entregues na cooperativa... usar panela de ferro e uma caldeirinha... nos fundos da casa um pilão pra socar milho e fazer quirera pros bichos e fubá pra nós... e lá mais adiante um paiol, com os grão guardados, pra poder trocar com os vizinhos, arroz por feijão, milho por amendoim, verduras por outras coisas, ovos por conversas, ter erva-doce pra colocar no bolo de fubá e tomar chá da tarde sentada na varanda... jogar conversa fora nos dias de domingo depois da missa na capela...
esperar o sol ir descansar, escutar as maritacas indo dormir nos pés de ingá... ligar o rádio e sintonizar na am, ouvir aquelas músicas antigas bem bregas, como " o tempo vai, o tempo vem, a vida passa e eu sem ninguém, cadê você, que nunca mais apareceu aqui...", escutar o rádio a pilhas passando uma pilha de roupas com cheiro de sol, enquanto a água do jantar ferve no fogão à lenha... colocar um frango no fogo, fazer polenta branca, arroz com urucum (bem amarelinho), feijão com cebola e alho fritos na banha, uma salada de almeirão e tomate, uma jarra de laranjada e uma ambrosia pra sobremesa... esperar o marido, que volta da lida com a marmita vazia e a barriga também, passando roupas e olhando pela janela... comer a janta na mesa de quatro lugares, ouvir o cochicho das galinhas, fazer uma oração antes de engolir, pegar a farinha de mandioca bem branquinha que esqueci de colocar na mesa e comer de colher... sentir o gato passeando pelas pernas embaixo da mesa e o cachorro latindo pros sapos do lado de fora... pegar uma Sabrina pra ler enquanto ele escuta a hora do Brasil... ligar o lampião quando a luz elétrica desligar e deixar a revista quando começar o meu programa musical favorito de sambas-canção...
escovar os dentes e tomar banho com sabão de coco, passar leite de rosas depois, prender os cabelos num coque e ir para a cama, fechar as janelas da sala e deixar as do quarto abertas, colocar o mosquiteiro sobre a cama... vestir camisola cor-de-rosa e penhoar da mesma cor, uns chinelos de pano... deitar na cama com lençol branco do enxoval que veio de Minas, sentir de novo o cheiro de sol... sentir a mão que passa pelo meu cabelo, sentir a boca que me dá um beijo na testa, alcançar o terço no criado mudo, sobre a pequena bíblia... rezar em agradecimento por mais um dia, pedir chuva ou sol para ajudar na plantação... cobrir-se com um lençol bem fino, ouvir as pererecas cantando debaixo da janela, talvez até Godofredo, o sapo velho e gordo... ouvir o silêncio e fechar os olhos bem de leve...deixar que venha outro dia...simplesmente deixar...

domingo, 15 de novembro de 2009

efemeridades

preciso falar das coisas efemeras
preciso falar do agora
das efemeridades que passam tão sutilmente
preciso falar do que registram os meus olhos
preciso falar das minhas fotografias
das efemeridades que ficam marcadas em minha retina
preciso falar do que não entendo
preciso dizer o que me marca
das efemeridades que me abrem o peito com pressa
preciso falar e me ouvir
preciso dizer e respirar
preciso da efemeridade sempre presente
preciso da delicadeza do olhar
preciso do sorriso inocente
preciso dos meus olhos abertos
preciso das minhas mão no teclado
preciso saber que existo o tempo todo
preciso alimentar minha alma
preciso respirar seu ar
preciso que nunca me entendam
preciso que não tentem
preciso que me tentem
preciso das minhas preciosidades
preciso de uma vida efêmera
preciso efemerizar

com o sol bem no meio de uma grande tempestade

o sol se abre em meio a uma grande tempestade, que tem trovões, que tem raios e explosão de geradores... um apagão em plena luz do dia... um apagão...talvez eu precise olhar mais fotografias, talvez precise fotografar mais dias assim e guardar dentro do porta-retratos, meus retratos...
meu peito com um coração dentro, bem no centro das atenções, das minhas atenções, é meia de seda, tenho unhas afiadas, um coração de meia-calça que se rasga com tamanha facilidade, com tamanha vastidão, se rasga puxa um fio que corre por toda extensão... tenho um coração de meia de seda, bem fina, bem frágil... não vivarina, não, só meia fina, de seda, vermelhinha, e unhas que volta e sempre puxam fio, desfiam o meu coração... quem dera fosse de papelão, quem dera...
lá fora o tempo corre calmo, clamo por mais uma gotas, clamo por umas a mais, mas o silêncio que vem lá de fora, de fora da minha vitrola, este silêncio silencia meus pedidos, inocenta minha boca que chama, que clama e por fim se cala, se fecha num silêncio gritante de batom vermelho...
minhas mãos poderiam ir de encontro, meus olhos poderiam faiscar, os gritos poderiam ecoar por vidas inteiras, poderiam ecoar pra dentro de sua alma, mas não... fica o que calo com uma dor resignante, fica o que deixo num ar plumbeo, fica o que é rastro da minha insatisfação perante o que meus olhos me mostram e só a mim, fica o desgosto do doce amargo que na boca se forma a cada palavra mal dita, mal falada que da sua sai e por sair deixa no ar o peso de uma vida inteira...
eu tenho o sol bem no meio e não sei o que isso significa, não sei o que significa ter um sol, nem o meio disso que não tem começo, meio ou fim... eu não sei se esse sol me ilumina ou me queima, só não sei...

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

silêncio

silêncio, é o que eu ouço agora... quando calam todos e só os pássaros tem tempo e não dormem e avisam que está próximo o colapso diário dessas veias asfalticas... eu caminho, quase flutuo pelas ruas agora tão livres como meus pés no asfalto, silenciam todos os ruídos que nos fazem acreditar que é parte nossas essa falsidades... silencia a cidade toda numa calma que clama por mais um pouco de tempo, por mais espaço agora tão vago, agora tão denso... não é verdade que a loucura é parte de tudo isto, não é verdade que o caos está intrínseco... quando o vento nos ronda a face, quando dormem as ruas, quando dorme a cidade... quando o silêncio toma conta de cada beco, de cada canto, de cada semáforo... minha boca se abre em cantos mudos pelas ruas... lhe digo e bendigo coisas, declamo poesia em plena avenida e grito baixo que é assim a minha cidade... num silêncio que me fala coisas ao pé do ouvido, dum silêncio que me cala e me faz ver o que há tempos estava oculto... quando cala a cidade é quando mais escuto os seus gritos e lamurias, é quando vejo o que na verdade não é visto, é dito o tempo todo, mas está encoberto pela lama que somos quando ocupamos estas veias, quando colapsamos a cidade...

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

samba

estou pensando em um samba canção agora... daqueles bem tristes, mas uma tristeza precisa, não difusa, precisa, um samba daqueles que falem das coisas que realmente mexem comigo, não contigo, não com ela, não com ele, comigo... estou querendo escrever umas coisas que ando pensando, penando... talvez em forma de samba, se ficar mais fácil falar dessas coisas cantando... se ficar mais fácil...talvez escrever e eu mesma cantar, eu já fiz aulas de canto...que não mudaram minha vida, mas fiz... talvez seja melhor cantfalar a letra e deixar que seja bem entendida, deglutida...deixar que seja copo de refri na tua garganta, nem tão rápido, nem tão devagar... vou divagar... fechar bem os olhos e olhar pra frente e ver o que eu quiser, o que eu quiser, não o que tiver pra olhar, não o que aparecer, o que eu quiser... vou parar de ficar dando testemunho o tempo todo das coisas que eles querem e não eu... vou ver o que eu quiser, não o tempo todo, mas quase todo ele...num dia descobri como é pisar em ovos, hoje descobri que cascas de ovos fazem crescer as plantas, quero um jardim sob os meus pés, um jardim... não uma folhagem, não um pouco de grama, eu quero um jardim crescendo bem debaixo dos meus pés, com árvores, flores, arbustos, grama farta de diversos tipos e cores, quero um lago, um rio, um mar, quero um jardim bem debaixo dos meus pés, vou pisar em ovos e deixar que as coisas aconteçam como eu quiser... sou soberana do meu mundo e é nele que vivo, é nele que nasci, é nele que cresci, nele vou morrer, e é nele que agora estou... vou usar as minhas palavras-facas pra me defender, pra defender as minhas divisas em dias de guerra ou de paz, tanto faz, eu vou usar as minhas palavras de foice pra cortas essas amarras... eu não quero mais e isso é só o que há para dizer, para cantar, para sambar... eu não quero mais... (ouve-se ao fundo um barulho de milhares de cascas de ovos se quebrando, ouve-se a grama e outras tantas coisas crescendo e uma leve risada, não gargalhada, não sorriso, uma leve risada que faz um barulhinho bom!) e ela diz bem baixinho que não quer mais...

comigo e com você

as vezes eu não quero mais
mas isso não tem nada a ver
nem comigo
nem com você

as vezes eu fico olhando
as nossas coisas espalhadas
as nossas coisas pela estrada
penso em mim, penso em você

as vezes eu paro
as vezes não é sempre
mas é quase
é quase sempre

as vezes eu quero ir embora
quero sair porta afora
deixar o que passou pra trás
e isso não significa te deixar

as vezes as cores desbotam
botam o dedo na nossa cara
nos denotam como estão desgastadas
e nos desgastam ainda mais

as vezes parece covardia
acordar um belo dia
virar as coisas e sair
mas há dias em que se deve fugir

terça-feira, 10 de novembro de 2009

escre-vendo

tenham piedade de mim os meus olhos, que olham que olham, vou vendo, escre-vendo o que meus olhos insistem em mirar o tempo todo, todo tempo... insisto em insistir em visões, em palavras, em emoções que não deixo guardadas, que deixo expostas, à flor da carne que murcha ao sol, que murcha sem água, sem visão...
tenham piedade meu olhos, piedade do que aqui pulsa, do que aqui respira, das minhas pirações, das minhas coisas encaixotadas, das minhas coisas guardadas a sete chaves de portas abertas, do peito rasgado de folhas de seda, em folhas ao vento, que não se segura, que não se doma... tenham piedade de mim, meus olhos e seus olhares certeiros, morteiros da ilusões que crio, que rego com água mineral e cascas de ovos intactas, tenham piedade e cuidado para não arranhar a pintura já patinada, já queimada, já descolorida das minhas retinas...
tenham piedade de mim os meus olhos, que nunca se fecham, que multifocam, que me chocam com visões de um mundo que nunca será só meu, que nunca fará parte de mim como faço parte dele, que nunca mais será de águas claras e calmas como outrora... que agora em tempestade me deito e me levanto e que agora em tempestade ouço o canto da sereia que vive dentro em mim...
tenham piedade de mim meus olhos, ainda que não por piedade, nem por compaixão... tenham piedade ainda que por rotina, que por comodidade de não serem lavados todos os dias com a água buricada que escorre do meu peito, vermelha e segue até vocês...

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

com fuso

eu queria criar um poema
um poema sobre a confusão
um poema que esclarecesse
tudo na palma da mão

eu queria falar umas coisas
dessas que todos possam entender
dessas que não façam doer
eu queria te escrever

eu queria citar umas palavras
meias verdades inteiras
meias de nailon rasgadas
acabar com o calor das sextasfeiras

eu queria dizer bem certinho
como se fala de carinho
como se fala dessas casualidades
queria brincar de passarinho

eu queria
agora não quero mais
quero tomar fermento
e me tornar um bom rapaz

pafuáhr

se eu soubesse falar em francês o que eu diria numa hora dessas... diria algo bem afrancesado, bem biquinho, diria e repetiria vezes e vezes... onde me vou e onde me encontro, nesse canto que encanta até sereia... nesse canto de um quadrado tão redondo que diria mundo de tão pequeno... o suor escorre no corpo quando a paixão já pulsa, ainda pulsa no peito... o suor derrete os pensamentos mais santos, me restam os de terceira... cuidado com o que fala, cuidado com o que escreve, você teme, não teme?, você deve? ou não deve?... e me viro na frigideira, me desviro na lareira que se torna minha cama quando não durmo a noite inteira, quando não durmo todo dia na mesma folia de outra feira... e a sexta continua sua sina de sexta-feira, e na minha e na sua um pafuáhr...quase uma brincadeira...

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

como é que se fala disso assim?

perdi de vez a voz da ponta dos meus dedos, estou me estranhando, estou me esquisitando demais, perdi a fala numa hora dessas, com a cabeça a mil, com um sorriso novo estampado na cara, perdi a fala, perdi...
olhei por debaixo dos móveis, olhei dentro de inúmeras gavetas, olhei e olhei, não quis ir lá pra dentro, estava preguiçosa, talvez seria texto de 140 apenas...
olhei por aqui e achei uma fotinha perdida, olhei para ela que se mexia ao revés, ao invés de ficar paralisada como as fotos devem ser...
perdi a ponta dos dedos, gastas com as coisas que doem, e já que dessa não veio a dor, só uma cor diferente, já que desta está tudo plano, tudo calmo...fiquei assim, sem saber o que falar, sem poder paguejar, sem maldizer as coisas doloridas como abdominal...
olhei a foto por dois segundos ou mais, sorri de canto e depois de todo...sorri, entende como sorrir me deixa sem palavras em situações assim, em que normal seria chorar e não sorrir... olhei a foto, sorri, decidi e fiquei em dúvida logo em seguida, ri de mim com as pontas dos dedos escondidas pra dentro das unhas roídas, sem tinta... acho que dia desses me pinto e vou sair assim, sem pontas nos dedos e pinturas por todo o resto...
veja como parece cômico, comigo sempre é assim, se não é tragico é cômico, tragicomedia não deve ser tão risível assim, não deveria rir se não sei qual é a graça de ficar sem palavras numa hora dessas em que deveria dormir com os olhos rasos e a garganta em laço... mas a foto fica lá, me olhando de canto, enquanto o meu canto sorri...
acho que estou meio lêle das pontas, deve ser isso...querendo ficar ao léu, jogada, com uma cara que ri enquanto todo o resto não sabe o que fazer da minha vida assim. sem ponta, sem pontas...

mais um poema qualquer

de qualquer cor
eu sei decór
decorei os número
decorei as vogais

de qualquer jeito
de qualquer forma
em qualquer lugar
quando se precisa estar

redecorei os comodos
pintei as paredes de preto
coloquei pouca luz
mudei a cor do sofá

quando tudo muda
não fala
não cala
quando tudo escurece

os conceitos aprendidos
não compreendidos
estão apreendidos
um mundo de fudidos

é a lama
é o lodo
é iodo
é enegrecido

está tudo muito mudado
está tudo como deveria
abre a porta da sala
está tudo apagado, sorria

terça-feira, 3 de novembro de 2009

essa faca tem nome

nome não, melhor ela tem caracteres... em tempo de uma virtualidade intensa, não profunda já diria lia, nada profunda, apenas intensa...em tempo de virtualidade total que falamos o que queremos e lemos o que não queremos, em tempos que somos mais virtuais do que reais, que temos amigos com o mesmo formato (de tela), com o mesmo número de caracteres, com os mesmos pontos de encontro, e não mais de carne e osso e sim de chip e programa, nesses dias descobri o grande vilão, o grande matador de tudo e de todos os que se virtualizam cada vez, o matador das comunidades, das postagens de longa data e longa escrita, ainda que de próprio dedo e não de próprio punho... descobri quem me rouba aos poucos as palavras e me deixa sem caracteres pra vir até aqui e expor as minhas coisas mais virtureais... ele tem nome, ou melhor... ele tem 140 caracteres e me domina, e me diz o quanto devo escrever quando a preguiça bate e espanca as minhas melhores idéias e as minhas melhores postagens... e vai até lá e começa uma discussão sem fim com um monte de subnomes e tudo com nada mais do que 140 letrinhas que ele teima em chamar de caracteres... estamos nos descaracterizanda cada vez mais...agora bem pouco, com apenas 140 caracteres... toda hora, todo dia, se descaracterizando e descaracterizando o nosso mundo, tirando daqui pra por lá... tampando o mundo com essa peneira virtual que acreditamos nos dispensar de viver um mundo real!!!

eu tenho marcas...

tenho marcas ocultas por todo corpo
tenho marcas expostas e marcas guardadas em profundo solo
tenho ferimentos que por vezes ainda sangram
tenho esquecimentos constantes que não apagam o que se foi
tenho essas coisas humanas
humanamente possíveis guardadas bem aqui
tenho medo dos dias que poderão vir
e mesmo assim espero por eles com ânsia