terça-feira, 26 de março de 2013

BRAVA GENTE BOA





Brava gente brasileira
Frita até ovo sem frigideira
Da seu jeitinho com muito orgulho
Desde o patrão até o cata-entulho


Brava gente brasileira
Que leva sol na sua moleira
Desde cedo tem que aprender
Que no Brasil não basta só nascer

Brava gente brasileira
Que sofre na pele
Mas não bambeia

Brava gente brasileira
Tem tudo que precisa
Por onde campeia

Essa gente que tem muito amor
Orgulho de viver aqui, sim senhor
Que sobe desce, que desce sobe
Que é humilde, que é esnobe

Que ainda tem muito que aprender
Mas com coração já sabe mexer
Que tem muito com que lidar
Mas seu país só sabe amar

Brava gente brasileira
Que sofre na carne
E ainda peleja

Brava gente brasileira
Chuta a bola
Faz brincadeira

Brava gente do meu país
Sofre calado, mas é feliz
Desce ladeira, sobe ruela
Come no prato e na panela

Brava gente que somos nós
Com pingo n’água roda retrós
Que não existe nenhum igual
Seja na luta, no futebol ou no carnaval

terça-feira, 19 de março de 2013

Muda


Muda



Fica muda quando tudo muda
E ainda espera uma mão para lhe despir

A tempestade absurda lá fora e ele dorme agora
Ele sempre dormiu

Nada mais lhe assusta
Nem a cozinha fria
Nem o rosto que sorri

Nada mais lhe assusta
Ela não está mais ali

E então ele chora em um dia de sol
Enrolado na cama de calor e cachecol

E então ele não quer mais dormir
Ele não percebe que ela não está mais ali

Pra lhe ouvir a respiração
Para um olho que não

E desfaz a mala noutro canto
Com aquelas roupas enxuga o não pranto

Nada mais lhe assusta
Nem a sala vazia
Nem o rosto que sorri

Nada mais lhe assusta
Ela não está mais aqui


quarta-feira, 13 de março de 2013

Yes, há 10 anos nós temos bananas...



Mas também temos peras, laranjas, maçãs, verduras e toda sorte de alimentos saudáveis. E de lá pra cá já se vão dez anos. E dez anos de quê? De uma formatura...
Sim. Eu sou formada em Nutrição. Não. Eu não pratico o "nutricionismo", sou nutricionista! Com diploma e tudo mais.
Um belo dia a gente se vê grande, e vê também que está na hora de fazer de nós mesmos algo maior. Já estamos estudando há tanto tempo, que já nem sabemos quando tudo começou. Estudamos e pronto. Sem pensar.
E então noutro dia decoramos fórmulas e inúmeras palavras que sabemos que nunca vamos usar. Mas tudo bem, na vida, as vezes é assim, ter e não usar. E passamos num tal de vestibular. E passamos a frequentar a dita cuja faculdade. 
Minha avó, já velinha, dizia que estávamos na "dificulidade". O que parecia ser apenas uma confusão senil da cabecinha dela, era uma verdade. Quantas "dificulidades" passávamos para estar ali. Fadadas a escolher, sem ao menos saber que havia escolha. Escolher uma profissão não passa de uma jogada de sorte.
E lá estávamos nós, trocentas meninas, sim, só meninas, numa sala, sem saber ao certo o que estava por vir. Um labor diário para driblar todos aqueles hormônios desencontrados. Quando 1\4 da sala estava entrando na TPM, outro 1\4 estava saindo, outro tanto estava bem no meio e as que restavam estavam felizes da vida.
E nisso tudo, com aquela pouca idade e experiência nenhuma, haviam as amigas, as inimigas e as tanto faz. Eram panelas, caçarolas, frigideiras e afins, mas todas no mesmo fogão. Lembro que na época era ver quem engordou e quem emagreceu, quem ficou e quem nem beijou, quantos xerox tinha a fulana e qual seria a nota da ciclana. As fofocas, babaleias e gogolfinhos de todos os dias. Era muito fácil querer matar a coleguinha por ter conseguido um estágio melhor do que o seu, ou por qualquer um desses motivos universitários banais. 
E depois de dez anos... E muitas de nós hoje casadas, vividas, crescidas, resolvidas na vida, muitos são os frutos e filhos daquela sala... E agora, quando encontro as "gurias", como ainda costumo falar, não consigo sentir nada menos do que uma saudade! Uma saudade delas e de mim. Um orgulho por sermos tão fortes e persistentes. Uma amizade feliz...
Me desculpem os que leram o texto até agora na esperança de saber os nomes de minhas melhores amigas e minhas arquirrivais, mas já não há mais espaço para isso aqui. Somos outras, como havia mesmo de ser. Ao menos eu sou... Vivi momentos que não deixam mais espaço para outra coisa se não o amor. Não um desses amores marqueteiros e românticos  Não. Um amor verdadeiro, humano, que sabe lembrar das coisas boas e reconhecer o que há de bom no tempo que passa por nós. Somos outras e certas coisas já não nos servem mais...

Sinto muito por não poder comemorar, por estar tão longe daquele lugar que faz parte de mim. Mas sinto mais ainda pelas que mesmo podendo, preferem ficar naquela sala de faculdade que já nem deve existir mais...

Que venham outros dez anos e que continuemos mudando, sempre para melhor! Que venham outros tantos dez anos e muito mais amor entre nós!!

quarta-feira, 6 de março de 2013

RE-MÉDIO.






Eu vou criar um remédio. Assim, do nada, começar do zero e chegar num produto revolucionário. E por mais que vocês pensem que sim, não será um remédio milagroso, será apenas revolucionário. Um remédio que irá curar tudo. Desde pequenas dores do corpo até as grandes dores d'alma. Será vendido em farmácias e supermercados, bancas de revista e portas de escolas, escolas públicas ou privadas. E será comercializado em grandes doses ou de forma unitária. Terá uma bula bem grande, pois será cheio de efeitos colaterais. Terá um preço irrisório, para ser comprado aos maços.
Eu vou inventar um medicamento novo. Desses que são dignos de Nobel e tal. Será falado por tanto tempo, que não saberão mais onde começou. Não terá meu nome, pois neste caso, meu nome é pouco. Terá um nome muito mais universal, para que possa passear pelo mundo sem precisar se apresentar. Será uma invenção esplendorosa, considerada uma maravilha dos tempos modernos, não, uma maravilha de todos os tempos. 
E será baseado em regras básicas, curar tudo, sem estragar nada. Já que quando eu tomo um remédio para a cabeça, este me estraga o estômago, e o do estômago, acaba por fazer doer a gota, e o da gota aumenta minha pressão e o da pressão me faz tomar uns pros rins que já estão tão ruins quanto o resto do corpo. E depois ainda me receitam um que não me deixe ficar louco, já que tantos enganos causam coisas assim. Não. Nunca mais essa tortura, de ter medo de tomar um pra tontura e perder a voz. 
Vou inventar e pretendo começar agora. Pensando e agindo. Agindo e pensando. Será como nos filmes e será especial. Não será em comprimido, xarope ou emulsão. Será num formato inovador e com um ingrediente em formato de coração. Não vai reter receita, nem precisar de prescrição. Atenderá jovem, criança, idoso ou adulto. Será melhor do que as balinhas mágicas e do que chupar AAS infantil. Deixará na boca muito mais do que um docinho pueril.

 
Será a cura de tudo. 

Não será pois já é.

Não preciso inventar.

Um simples beijo, não é? 

terça-feira, 5 de março de 2013

Doutor?


POR UMA LINHA



As crises são cada vez mais fortes Doutor, não, por favor, não desligue, eu não quero enlouquecer aqui sozinha. Não Doutor, eu sei que ninguém pode ser culpado pelo que está acontecendo, eu sei disso. Sei também que eu não posso receber mais nenhuma culpa, já carrego o suficiente para não conseguir me mover. Eu sei Doutor, são informações demais, compreensão de menos, dias e dias sem parar, eu sei Doutor. Doutor, o senhor ainda está ai, eu sei que a ligação foi feita á cobrar, mas eu não podia passar meus últimos minutos sozinha e não me restou nenhum trocado no bolso. Eu sei que ninguém pode ser culpado por isso também, mas tenho dúvidas quanto a isso Doutor, eu tenho várias dúvidas, tantas outras dívidas e pouco tempo para respostas Doutor. Mas Doutor se mantenha na linha, ainda que isto lhe custe devolver alguns dos tantos vinténs que lhe dei. Doutor me responda, não Doutor, as respostas me iludem num momento sem ilusões, não, eu não as quero mais. Doutor me conte uma de suas muitas histórias. Sim Doutor, sem nomes ou endereços, mas uma delas que seja de verdade, não as mesmas histórias que tenho escutado por toda a minha vida. Não Doutor, não me importa mais, só quero que seja verdadeira. Por favor, Doutor, não me negue esse último pedido, ainda que saibamos que possa não ser derradeiramente o último, mas não o negue, não a mim. Não a mim que sempre fui paciente com suas mentiras, com seus olhares que se desviavam para o além quando seu taxímetro medicinal estava ligado e eu expunha minhas dores e minhas aflições ao desdém, não a mim Doutor, que sempre mantive suas regalias quando pagava sem recibos todas as consultas inúteis em que me dizia que deveria resolver sozinha minhas dúvidas e me criava outras tantas para resolver na consulta seguinte... Não a mim, Doutor. Doutor me mantenha viva agora, já que não pode fazê-lo durante tantos anos naquela cadeira fria, faltam só mais alguns momentos, só mais alguns. Doutor, eu já lhe falei da minha infância, quando eu teimava em sonhar com coisas impossíveis de se realizar, eu já lhe falei, não é mesmo, aliás, lhe falei em todas as consultas de uma hora. Então Doutor me conte uma história de uma menina que sonhava coisas impossíveis quando ainda era apenas uma criança. Conte-me que ela sonhava com uma felicidade que dava para tocar, e sentir o cheiro, e que todas as manhãs ela regava essa felicidade como planta em seu jardim, ainda que lá fora só houvesse neve.  Conte-me que ela podia ter sim esses sonhos tolos e infantis, ainda que o tempo passasse para ela, assim como para todos os demais. Conte-me que ela cresceu ouvindo boa música e alimentando sua alma ao invés de um corpo obsoleto. Conte-me que ela sentia o chão sob seus pés somente quando queria, e quando não queria tinha a permissão de voar. Conte-me Doutor, que a culpa de uma vida sem sonhos e com uma realidade chula não é dela, é culpa da própria realidade que se mostra assim. Conte-me uma dessas histórias na qual eu acredite e feche meus olhos com um pouco só de dignidade, por favor, me conte Doutor. Conte-me como fazem as músicas melodiosas, nas quais se tem vontade de fechar os olhos e flutuar, me faça somente desta vez ouvir sua voz de maneira doce e verdadeira, ainda que não seja capaz disso Doutor. Eu ficarei aqui deste lado, sentada na poltrona como tantas vezes me viu, com as pernas fechadas e as mãos pousadas nos joelhos, minha cabeça se inclinará para trás e meus ouvidos se abrirão para que entrem seus dizeres. Não Doutor, não preciso de muito tempo, só o suficiente para me convencer de que é possível. Sim Doutor, essa será a ultima vez que nos falaremos para sempre, nunca mais voltarei ao consultório ou a discar seu número no meio da madrugada ou em qualquer hora do dia que seja, fique tranqüilo Doutor. Faltam apenas alguns minutos, e é só disto que necessito agora. Dentro em breve cerrarei meus olhos a uma verdade incapaz de me acordar. Doutor comece a história como se começa uma vida, com leveza e luz. Doutor tem que ser uma historia verdadeira, sim Doutor eu faço questão. Sei que neste momento não sou eu quem paga a conta e não posso fazer tal exigência, mas Doutor, em nome de sei lá o que, por favor. Doutor, por favor, não desligue, Doutor... Era só uma história simples com uma pitada de verdade... Eram só mais alguns minutos dentro de uma vida inteira... Era só o meu final feliz.