Eu tenho um amor. Eu tenho uma paixão.
Eu te amo. Te amo e sou apaixonada por você. Mesmo
sabendo que de tão parecidos esses sentimentos não se bicam. Eles são só
parecidos, eles só caminham pelas mesmas estradas, mas no fundo, não são tão
amigos assim.
E então eu descubro, a cada dia que eu acordo ou a
cada dia que eu durmo, se neste momento é o amor ou a paixão que está em mim. E
então eu sinto. Apaixonada neste dia. Amando no outro.
Você entende isso? Não? Nem eu. Mas sinto. Sinto de
tempos em tempos. Como se amar e se apaixonar fossem passos de dança, que
dependem de musica, que te fazem se mover de acordo com o que se ouve.
E então aqui estou. Sendo interferida pelo mundo.
Pois é o mundo que faz amar você. Pois é o mundo que me faz me apaixonar por você.
Quando eu saio porta afora. Quando eu ando pela rua. Quando eu respiro o vento
gelado. Quando eu vejo os outros. Quando os outros me vêem.
Eu te amo. Numa mão que passo no seu rosto quando
você dorme. Quando você me olha dormir. Quando a gente anda descalço. Comemos
da mesma comida. Nos olhamos nos olhos. Esfregamos as costas um do outro.
Dizemos “meu amor”. Não dizemos nada. Só sentimos. Ou conversamos até
amanhecer.
Eu sou apaixonada por você. Quando espero você chegar
de noite com meu corpo quente. Quando sei o que eu quero te fazer. Quando vejo
seu corpo se mexendo. Quando sua barba encosta em mim. Quando vejo sua roupa no
chão. Quando ouço o barulho do chuveiro. Quando vejo outro alguém.
E a vida só faz sentido assim. Dia após dia. Com
todas essas interferências. Com todo mundo em volta. Sem ninguém por perto. Com
você por dentro. Só faz sentido se for pra sentir. Se for pra ter alguém ou não
ter ninguém. Mas saber que existe um mundo para ser desvendado. E que não
controlamos nada e nem ninguém. Que não controlamos sequer nós mesmos. Estamos
aqui. Amando e nos apaixonando. Esperando sem esperar.