segunda-feira, 21 de maio de 2012

ENSAIO SOBRE O INCRÍVEL



Os seus olhos não vão conseguir tocar. Não conseguirão conjugar a força desta sensação. Vão querer sorrir e chorar. Vão querer fazer coisas que não sabem ao certo o que são. Vão querer e poder. Vão poder e querer. Vão e voltarão cheios de águas deslumbrantes e brilhosas. Não serão falsos, não serão obscuros. Serão como deveriam ser desde o dia em que nasceram. Você estará num lugar que toca o incrível. Um lugar que faz parte, que cria, que faz nascer o incrível. Um incrível possível. Totalmente palpável. Visível.

O seu corpo vai querer falar palavras que ainda desconhece. Ira se pronunciar o tempo todo, com movimentos pulsantes que vem de um lugar que você julgava não existir. Seus pés andarão por caminhos gentilmente desconhecidos, sem precisar olhar. Sem precisar tropeçar em pedras. Sem precisar ser precisos ou compassados. O compasso se transformará em algo contínuo.

E sua mente se derreterá em delícias e desejos de forte ampliação. E escorrerá pelo lado de fora do seu corpo sem a vergonha de ser vista. Fará vista a uma humanidade que deveria existir faz tempo. Sua mente ficará se remoldando, se reacostumando, se customizando com visões de uma grande simplicidade.

Será e é como um começo antes do próprio começo. Antes de tudo existir, mas quando já existe. E se sentirá em casa em terra estrangeira. E as palavras flutuarão por entre seus dedos, fazendo cócegas e provocando arrepios de louvor. Será como estar em casa pela primeira vez depois de tempos ocultos. Como abrir a porta de um sonho e entrar. Como esticar o braço para alcançar a si próprio e poder sentir sua pele macia pelas pontas dos poros bem abertos.

E na boca sentirá o gosto de todos os gostos. Se plantando no céu que há em ti. Sentirá que há gosto em tudo o que há. O ar que entrar pelos seus pulmões fará com que seus órgãos internos flutuem. O ar que entrar pela sua garganta fará com que seus pés fiquem plantados, desde a planta até os dedos. E sua cabeça será como o mundo, grande, enorme, gigante, não terá peso, somente uma memória repleta de fotografia digitais tiradas por olhos ávidos por coisas comuns.

As encontrará. Coisas comuns espalhadas pelas quadras. Pelos imóveis de número ímpar, pelos pares que andam pelas ruas. Será bom. Como dormir e sonhar e acordar sonhando e decidir a hora de terminar de sonhar e preferir não terminar. E tocar tudo com as pontas dos dedos dos olhos nus. Tocar tudo com a ponta da língua em riste na frente do corpo reto que caminha sem precisar saber.

Será um presente incrível, permeado por passados futurísticos, se misturando ao que é vivido naquele momento. Serão dias reais em pensamentos oníricos. Será assim quando habitar o lugar da tua pele.


Será assim em Montevideo.