terça-feira, 27 de outubro de 2009

salve santa clara

"ela vem chegando e eu feliz vou esperando, a espera é difícil," mas eu espero escrevendo...

fazia tempo que eu queria falar disso assim, desse jeitinho, dessa forma disforme de falar de amor... esse amor maior, inacreditável, impossível, inviável, falar desse sentimento tão batido, tão surrupiado, tão folhetim... queria falar do amor não só pra ser romântica, pra ser amável, pra ser humana... queria falar do amor como forma de vida, como fonte de inspiração, como amor puro e simples... e na idéia surgiu "Salve Santa Clara"... essa história que fala de amor de um jeito humano e quase simples... fala desse sentimento que talvez não precise mesmo ser plantado, ou que precise ser plantado sim... dessa dúvida de sempre e da beleza que é sentir...
fazia tempo que minhas escritas me faziam rir, estava procurando motivos pra escrever de dentro, pra ir lá fora, me inspirar e voltar pra mexer nas minhas coisas, mesclar tudo e escrever... e numa noite dessas de domingo, veio inteira a idéia que me fez pensar em sentimentos não tão rasos... e me fez sonhar, e me fez emocionar...
fazia tempo que eu queria dizer o que sinto aqui dentro, fazia tempo que eu queria falar disso assim... o tempo desta fala chegou e eu não me calei...
salve santa clara...

agora com trinta e agora...

eles vieram, já avisavam faz tempo que viriam, eu sabia que chegaria o dia de trinta na cara, nas pernas, em todo corpo... sabia mas não ligava, não atendia... e numa manhã de segunda acordo com eles piscando em letras garrafais na minha frente, me dizem "tcharammmmmmm"... e agora com trinta e agora???... será que tudo realmente muda, que tudo se assenta, que tudo se fixa... o que será agora depois dos vinte e pouco que foram muitos e agora casa cheia 3 + 0... milhares de pensamento, mudanças queridas e outras nem morta, pensamentos e colágenos na bolsa, protetor solar e pílulas, coisas que ficam e outras que não... sugestões de leitura (balzaquiana??)... palavras que odeio... balzaquiana... e agora com trinta vergonha na cara, juízo, crescimento, envergadura... e agora talvez depois do susto desta que veio e nem disse nada fica a certeza que bom mesmo é temer os 40... o relógio já está fazendo seu tic... passado o susto devo perceber que nada muda a não ser o tempo que está passando...o tempo todo!!!

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

feliz ano novo pra mim!!!

SALVE JORGE... SALVE OGUM!!!

Chagas abertas, Sagrado Coração todo amor e bondade, o sangue do meu Senhor Jesus Cristo, no corpo meu se derrame hoje e sempre.
Eu andarei vestido e armado, com as armas de São Jorge. Para que meus inimigos tendo pés não me alcancem, tendo mãos não me peguem, tendo olhos não me exerguem e nem pensamentos eles possam ter para me fazer mal.
Armas de fogo o meu corpo não alcançarão, facas e lanças se quebrarão sem ao meu corpo chegar, cordas e correntes se arrebentarão sem o meu corpo amarrarem.
Jesus Cristo me proteja e me defenda com o poder de sua Santa e Divina Graça, a Virgem Maria de Nazaré, me cubra com o seu Sagrado e divino manto, me protegendo em todas minhas dores e aflições, e Deus com a sua Divina Misericórdia e grande poder, seja meu defensor, contra as maldades de perseguições dos meus inimigos, e o glorioso São Jorge, em nome de Deus, em nome de Maria de Nazaré, e em nome da falange do Divino Espírito Santo, me estenda o seu escudo e as suas poderosas anulas, defendendo-me com a sua força e com a sua grandeza, do poder dos meus inimigos carnais e espirituais e de todas sua más influências, e que debaixo das patas de seu fiel ginete, meus inimigos fiquem humildes e submissos a vós, sem se atreverem a ter um olhar sequer que me possa prejudicar.
Assim seja com o poder de Deus e de Jesus e da falange do Divino Espírito Santo.

saravá ogum...

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

SOBRE BIBELÔS

vai abre a goela e fala
mas fala algo para os meus ouvidos ficarem felizes
fala com verdade
das cicatrizes
fala algo que seja mais do que duas ou três palavras foscas-toscas
fala alguma coisa que se aproveite
me aproveite
me siga
me faça sinal de ok
vai fala alguma coisa que preste
que não seja só leste ou oeste
que não seja só ingresso pra festa do interior
vai fala
comenta alguma coisa real
comenta que foi bom
que foi mau
que foi
fala
diga coisa com coisa
diga
escreva na lousa
faça alguma coisa afinal
vai abre a boca e bota pra fora palavras
mas não aquelas que você já tem decoradas
adornadas em sua mente de vagão
vai fala pra mim o que você acha
o que você perdeu
fala pelo amor de Deus
fala
não me deixa nessa raivagonia
de te ver todo dia com a mesma expressão
fala
não me deixa com essa sensação de que a escolha feita foi errada
que tua boca é só boca mal falada
que você não tem noção
fala
diz alguma coisa pertinente
nem que seja temporariamente
fala algo de coração
fala
minha filha
fala de uma vez
tira essa bola de pelo da garganta
espanta todo mundo com uma oração
fala mais do que sobre o tempo ou sobre alguma repetição
fala de alguma sensação
sensação que seja sua e verdadeira
fala da sua maneira
sem que seja ela uma bobeira
mesmo que seja alguma baboseira
pois prefiro isso do que uma gravação
fala
não concorda com a cabeça
faça
aconteça
seja algo mais do que um belo bibelô
fala
sente alguma coisa por favor
bota a caixola pra funcinar
deixa a fumaça espalhar pelo ar
mesmo que cheire a queimado
fala
dá seu recado
chega de repetição
chega de não pensação
chega de estampar as conversar com um sorriso odontológico
fala alguma coisa nem que seja o lógico
fala
pensa
seja
esteja
ouça
veja
seja de verdade
não uma peça de coleção!!!

ligação completada...

fui até o orelhão... generosa porção de fichas nos bolsos do casaco... puxei o fone até o ouvido, ouvi sinal de "podefazeraligação", coloquei as fichas e disquei os números que estavam anotados em minha mão esquerda... esperei alguns segundos, mais do que alguns, mais do que segundos, esperei por muito tempo, parada no tal orelhão... um dia, que eu já não sabia que dia era, nem onde estava e sequer lembrava da tal ligação... a chamada enfim se completou, as fichas caíram e eu ouvi o som de "chamadasendoatendida"... estava completa a ligação, estava feita a chamada e agora era só colocar em dia os assuntos, mesmo que eu não tivesse mais o que falar... muito tempo em espera gera não-falação... mas fiquei ali, com orelha no orelhão, ouvindo palavras sem sentido, com sentido, sem sentimento, com sensação... fiquei ali ouvindo e olhando para os lados, olhando para ver onde estava e se era realmente pra mim aquela ligação... meio do deserto, só eu e o orelhão, achei difícil que fosse para outra pessoa, mesmo que não conhecesse o interlocutor, achei difícil que não fosse pra mim... e fiquei ali ouvindo, ouvendo, fiquei ali e fui me abismando... a conversa foi ficando cada vez mais pertinente, fui reconhecendo aquele tom, aquela voz... e o abismo foi se criando, foi se delineando e por fim tornou-se a nova visão que eu tinha dali do orelhão... um abismo imenso e do outro lado um telefone e uma pessoa, noutro canto mais outra, noutro outra e assim fui colocando mais ficha e escutando as indicações e as fichas foram caindo uma a uma... a cada interlocução uma ficha... e por fim o abismo virou infinito, virou divisória da cabine telefônica... toda as fichas que eu tinha se foram, caíram dentro do orelhão... e no final só um tututututuuuuuuuu... era tu, não era mais pra mim. coloquei o fone novamente no orelhão, desliguei a ligação e sai caminhando por aquela imensidão de abismos, ainda ecoava em meus ouvidos o barulho de "fimdeligação", aquelas palavras mal ditas que vieram em bendito tempo... caminhando e pensando numa metáfora pra fichas caídas, nenhuma delas figurou minha mente, nenhuma... por fim, enfim pensei que tem ligações que terminam por motivos nobres, tem ligações que terminam e fica no ouvido um gosto de discar de novo ... mas tem essas ligações que fazemos e ouvimos até caírem todas as fichas e que depois disso, são só ligações que terminam, nada mais...
tem conversas que devem ser ouvidas, tem outras que devem ser desligadas... você fez uma boa ligação???
caminho mais um pouco, escuto um barulho no meu bolso, talvez nos dois... coloco as mãos pra dentro, e de lá tiro uma porção de mini-mascaras... não eram fichas as do orelhão...

terça-feira, 20 de outubro de 2009

"baforada certeira"

a baforada já que vem, já que vem em minha direção, sem pedido, sem apelo, já que vem que seja certeira. já que se projeta como projétil, em minha direção, que venha bem no meio, que não erre a mão. que venha com toda pressa, com a qual saiu de lá. que venha sem modéstia, que venha!
a língua que se propõe, a sair de sua toca, já que se pressupõe que outra ela foca, então que saia como palavra, daquelas mal faladas, então que venha de supetão. eu não gosto de lesma. a língua tem que ser precisa, tem que ser certeira. caso contrário, de sal, a minha já estará cheia...

dele pra ela, dela pra mim

ele acha que é recado
dela pra ele
ele acha que o escrito
diz dele

ela acha que é pra ela
dela pra ela
ela acha que o escrito
diz (d)ela

eles acham que é assim
falando deles falo de mim
eu acho que é assim
falando deles não falo de mim

ele lê e interpreta
ela lê e decreta
dele fica a boca aberta
dela fica a palavra incerta

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

talvez tal vez

talvez eu queira dizer que as imagens se apagam. que nada dura muito tempo aqui dentro. que as coisas se evaporam. que se esvaem, se acabam. talvez eu queira dizer que isso não tem nada a ver comigo, nem com você. talvez tenha a ver com o tempo frio e chuvoso que faz nessa cidade. talvez com as efemeridades que a vida nos impõe. talvez eu queira dizer que ainda olho a fotografia, mas que ela já não remonta sentimento, está fria. talvez eu queira falar pra resgatar o que houve, saber o que sempre soube, o que evaporou. talvez eu queira esclarecer as minhas obscuridades, ler as minhas obscenidade, saber de verdade o que se passa por aqui quando eu não estou. saber o que tanto evapora e vai com o suor que escorre no rosto molhado de lágrimas, de desilusão... talvez eu queria falar e escrever bem rápido pra ver se passa a agonia latente, se passa de gosto amargo para pasta de dente, pra ver se consigo entender o que nunca entenderei. talvez eu precise olhar a fotografia com mais frequência, falar das nossas coisas com mais elouquencia, viver essa demência que é o nosso amor. talvez eu tenha que voltar aos primórdios, ter menos ódio do que poderia ser e não foi. talvez tenha que verificar a memória recente, retirar o apêndice, ficar de repouso e depois começar a correr. talvez eu tenha que andar sem olhar pra trás, sem olhar pros lados, sem olhar...
talvez eu tenha que aquietar o coração e deixar falar a alma, talvez eu tenha que descobrir que alma e coração tem sim uma ligação, ainda que breve, ainda que curta. talvez seja o caso de encarar o presente, desembrulhar todo dia a mesma caixa e ainda se surpreender com o que há por ali. talvez seja o caso de perceber que essas coisas de esquecimento e fotografia, não tem nada a ver com os outros e sim comigo, está bem aqui.
talvez eu precise olhar todo dia para aquela fotografia pra saber que o que muda são os dias e não o tempo, a chuva hoje não vem.

domingo, 18 de outubro de 2009

dia de estréia
coração na mão
dedilho notas no violão
me faço uma pequena canção

dia de estréia
de mostrar o escondido
de mostrar que temos medo
mas que nada está perdido

dia de estréia
dia de diversão
dia de alegria
dia de sim ou não

dia de estréia
mais que um dia corriqueiro
mais uma agulha no palheiro
dia de estar inteiro

dia de estréia
dia de respeitável público
dia de estar em público
dia de estre(l)ar

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

eu não sei

ela anda conversando com alguém
eu não conheço
desconheço
não sei quem
mas ela anda conversando com alguém

os seus olhares são furtivos
sua boca fugitiva
fingitiva da minha que tanto quer
seus olhares
eles nunca mais serão só pra mim

ela anda escondida
anda pelas calçadas das ruas
com roupas coloridas
com sorrisos na cara
está perdida

ela não é mais igual
não é mais tal qual
tal qual um dia conheci
tal qual imagem e semelhança minha
ela não lembra mais nada de mim

ela anda trocando palavras com alguém
alguém fala e ela diz amém
ela anda escutando conversas
anda fazendo controvérsias
ela... as coisas não são mais assim-assim

ela anda abrindo os ouvidos
anda deixando entrar
anda me deixando sair pra passear
ela anda pisando fora da linha
ela anda imitando bicho-galinha

ela passa hora na frente da tela
meus olhos ainda pintam ela
ela passa horas no computador
meus olhos ainda sentem amor
ela passa por ela e não por mim

ela não está normal
ela não está
ela não
ela
e

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

as vezes eu tenho o "dom" de sentir a dor dos outros, de ver o que muitos não percebem, não sentem...
as vezes eu tenho essa mania de olhar na cara dos outros e lhe roubar as dores, as tristezas, as alegrias...
as vezes eu sento no ônibus, eu ando na rua, eu subo no elevador, eu fico parada.
as vezes eu tenho a impressão que é tudo tão claro.
que claro que nada!
as vezes eu tenho a impressão que meu mundo é um paralelo do mundo dos outros.
as vezes eu não durmo direito.
quase nunca durmo direito.
sou canhota.
sou.
as vezes eu tenho a impressão que o mundo todo é cheio de energias que andam junto com as pessoas de lá pra cá, da cá pra lá...
eu sinto...
sinto muito.
muito!
as vezes...
não sempre.
só quase todo dia.
as vezes eu tenho a impressão.
de
que nem
tudo
é como
deveria
ser.
escrevo
pra
poder
reescrever
as
coisas
como
as vezes
eu vejo
ou
como
eu gosta
ria
que fossem.
as vezes eu tenho um tempo diferente.
as vezes nem tenho tempo.
só isso.

.O PONTO.

ele estava dentro do ônibus e seu maxilar ruminava o que estava em sua cabeça, martelando, batendo...
ele estava fisicamente dentro do ônibus, não tinha carro, menos ainda dinheiro para um táxi, a urgência poderia tê-lo feito ir correndo a pequena distância que o separava daquele ponto, mas não tinha mais pernas para isso... estava velho.
os dez minutos que separavam aqueles dois pontos eram imensos, talvez os maiores. sentou no fundo da caixa metálica amarela, sentou e ficou lá quase para sempre...
lembrou dos tempos de juventude, lembrou de tanta coisa, o que lhe fez pensar na lonjura de distância entre aqueles pontos, os dois pontos, o de chegada e o de partida.
lembrou que nem no dia do casamento estivera tão nervoso, tão impaciente. o tempo no dia de hoje era o mais longo e tedioso de sua vida. era um tempo injusto.
queria que passasse depressa, queria que não tivesse chegado, queria que o hoje não tivesse amanhecido, simplesmente queria que o dia de hoje nunca tivesse existido.
mas ele está, acontece a cada longo momento em que ele olha pela janela do ônibus, que ele vê os pontos passarem, mas o seu não chega...
um chapéu na cabeça onde outrora haviam vastos cabelos castanhos, olhos levemente apagados por molhações corriqueiras, mãos não tão firmes, pés inchados, calça social clara, camisa branca com listrinhas bem fininhas cinza, cinto, uma pasta amarela de documentos. os documentos, quissá pudesse acender uma fogueira no meio da praça Tiradentes e queimar todos os documentos, queimaria a pasta também.
o ônibus vazio, as pessoas em seus bancos, e ele ali, parado na eternidade de um momento vazio, inóspito, insólito... ele dentro daquela lata amarela, com calor nas têmporas, com as axilas suadas, com um trilindar de dentes que era imperceptível para os demais passageiros... tudo é passageiro, lembrou da piada tímida de outros tempos... quase sorriu, mas no exato momento em que se formou no canto da boca, o peito ardeu tão violentamente, que quase teve que levar a mão a camisa e desabotoar alguns botões.
as pessoas no ônibus, a vida correndo solta, o tempo passando, o tempo dos outros, não o dele. ele no vácuo existente entre aqueles dois pontos. as pessoas não notaram nada, nunca notarão. ele deixou a pasta em cima do banco ao lado do seu, estava vago.
o banco ao seu lado estava vago.
o banco.
o banco do ônibus.
a caixa amarela de lata.
o banco ao seu lado no ônibus.
ele estava vago.
vazio.
desocupado.
não havia ninguém ao seu lado.
ele não resistiu e sua face se contorceu em uma humilde-humilhante expressão de uma dor tão profunda que demora tempo para chegar a superfície, demora tempos pra chegar na cara do sujeito uma dor assim.
o banco ao seu lado.
olhou ao redor.
olhou 360° ao seu redor, procurou uma pequena explicação que fosse.
procurou um ponto de referência, um ponto de coesão, um ponto de apoio. um ponto!
estava na lata amarela.
o banco ao seu lado vazio.
uma pasta amarela sentada ao seu lado na lata amarela.
uns documentos.
um atestado.
um atestado sentado ao seu lado.
ao seu lado, no banco da lata amarela, uma pasta, um atestado, um vazio, um ponto, um nada.
ele balbuciou para a moça com fones de ouvido que estava em sua diagonal mais próxima. - minha esposa morreu!
a subida difícil e longa do ônibus terminou.
ela disse que aquele era o ponto, "aperte se não ele não para".
aperte.
é o seu ponto.
ele tirou os óculos de grau.
colocou no bolso da camisa branca com listras cinza.
retirou de lá um óculos escuro.
hoje sem colírio.
retorceu a cara mais um pouco.
escorreu no canto.
maxilar em diagonal, cruzado, mordida cruzada, aflição, afeição, desgaste.
pegou a pasta.
a amarela.
levantou.
deixou mais um banco vazio na lata.
apertou o botão.
disse: - quase passei do ponto.
sorriu amarelo dentro da lata amarela com uma pasta amarela.
um atestado.
desceu.
havia uma outra moça da lata.
ela pensou que as pessoas fazem isso todos os dias, entram no ônibus com pastas de documentos, entram em um ponto e descem impreterívelmente em outro, apertam o botão para descer, pedem informação para não se perder, tem tiques nervosos, tem cadeiras vagas ao seu lado, dizem até logo, dizem obrigada, não dizem, levantam, sentam, falam, rezam baixo, rezam alto, revezam.
ela pensou que a distância entre dois ponto é relativa.
pensou que seu olhos estavam molhados.
quando ele desceu, o tempo estava parado, o dele... quando ele desceu no ponto certo, era o ponto errado da história pra descer, pra sair, pra derramar e apertar botões.
quando ele desceu.
quando.
o vazio se tornou imensurável.
ele não conhece a moça.
a moça não conhece ele.
não sabem seus nomes.
mas estava dentro da mesma lata.
amarela.
verdade não se esconde, não se mascara.
só o amarelo era de lata.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

360°

eu sempre achei que na torre em que ela estava, aquela bem alta, aquela cercada de jacarés e água, naquela sem ninguém por perto, sempre pensei que a porta estivesse fechada, trancada por fora, mas que a chave estivesse no pescoço dela... que ela não abria por que não tinha coragem, porque ficava lá e gostava da vista de 360°, pensava que talvez os seus cabelos eram curtos demais pra pedir pra alguém subir, pensava até ver o gigante...
o gigante com olhos de faísca, com palavras de chicote... andando de um lado para o outro, querendo as suas coisas na sua hora e no seu devido lugar...
pobre da princesa... dias e mais dias naquela masmorra, quem sabe morrendo de vontade de sair dali, de saber como é além do só ver... querendo sentir o que olha dali de cima, todo dia, toda noite, toda vida...
pobre princesa, nem ao menos se parece com uma princesa... parece só uma pobre mulher que deixou o tempo escapar pelas mãos e que fica ali, em forma de retrato ou paisagem, naquela horrenda masmorra...masmorrendo de vontade de sair dali...
acho que um dia ela vai perceber que o gigante tem umas manhas pra parecer tão grande, que na verdade nem tudo é o que parece ser... vai perceber que com uma das mãos bem fechada ela derruba o gigante... vai perceber que ele não passa de um anão...
acho que um dia eu rezo pra que esse dia chegue logo e ela se torne de verdade uma princesa e não uma foto na janela...

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

na minha mesa

vou te dizer de uma beleza
que belo você diz que não é
que você não sabe
que nunca viu igual


vou te contar de uma beleza
dessas que não se compra
dessas que não se apronta
dessas que em ti não há

vou te falar de uma beleza
que é bela por si só
que não precisa de pó
que não precisa de camadas
que não precisa de cor

vou te dizer de uma beleza
que transpassa o mundo das princesas
que não está dentro das tuas delicadezas
que não tem nada haver com tua leveza
que não se compra loja inglesa

vou te contar de uma beleza
dessas que a revista não tem
que nos salões não se encontra também
que nem em sonhos você conhece
que você não tem

vou te falar de uma beleza
uma beleza verdadeira
uma beleza inteira
uma beleza fora da geladeira
uma beleza sem amém

vou te mostrar uma beleza
que não há na sua mesa
que na minha está posta
que pra muitos não passa de bosta

POEMA (DI)FUSO

FAZ CARINHA
mon'amour
faz beicinho
MY BABY
reclama dos bichinhos
não reclama de mim
fala pra dentro
mia pra fora
faz só exatamente o que sabe fazer
dissimula
descepciona
desconsola
desgasta
desgosta
falseia a vida real
nessa sua realidade boba
nessa sua realidade irreal

REBOLA
meu bem
EMBOLA
os pensamentos
é puro ouro
ouro de tolo
latão
xinfrin
nem morta podes cair
nem morta
nem morta terás um lugar seu
não é sua
não é de ninguém
não é nem

maqueia por fora
macaqueia
maqueia a cara
macaqueia as mentiras
a mentira que é
a mentira que se conta todo dia
a que acredita que te faz
que te faz uma princesa
uma princesa sapesca
uma princesa que nem beijo de principe tosco
poderá salvar
macaqueia
maqueia a cara
já que alma não é o teu lugar
não é lugar que você frequente
nunca, não frequentemente
lá você não vai
não é o seu lugar
o seu é aqui fora
o seu é na passarela
na vitrine
na inverdade das suas coisas irreais

oh, ma cherry
faz-me rir
faz-me chorar de rir
do teu jeitinho moça
mosca morta por raquete eletrizada
oh, my dear
não cai
não cai do salto
se não pode quebrar
espalhar seus pedaços disformes, te espalhar

MARIA ISABEL

MARIA ISABEL... uma maria que não é qualquer, que não é comum, que não é maria... uma maria isabel que me diz calada coisas que preciso ouvir, que preciso sentir, que preciso saber, saber que já sei...
saber que sempre soube que as coisas iriam ser assim, que teria que ir para saber que precisava voltar, que precisava de maria isabel por perto, tão perto quanto possa estar, tão perto quanto seja possível respirar e sentir a respiração...
saber que os pares são os que discordam por coisas idênticas, que por igualdade também se briga, por ser par... que as intensidades se tornam mais intensas quando juntas e que como todo fogo aquece e também queima, temos que aprender a dosar...
saber que o tempo que nos passa aqui dentro, maria isabel, nos é comum, cotidiano, mas só a pessoas como nós, poucas, quase nenhuma...
que carregar o mundo nas costas não é para qualquer um, só para nós, e isso nem sempre é bom, quase nunca é bom...
enquanto os outros se preocupam com as futilidades, com as superficialidade lá estamos nós no fundo, dentro do dentro, enquanto os demais penteiam os cabelos e passam maquiagem na cara, lá estamos nós sujas de graxa, com os cabelos desgrenhados, pintando a alma...
as vezes, sempre é preciso ir e voltar para perceber o óbvio... as vezes, sempre é preciso sair pra saber que o melhor é poder voltar... as vezes, sempre é preciso olhar de longe pra ver o desenho melhor delineado...
meu desenho é muito igual ao seu... lá de fora é o que vi... o que senti... sou mais feliz com você por perto... MARIA ISABEL...

ÚNICA

na minha forma nada mais foi feito... da minha forma nada mais... já que sou bem única e isso não é exatamente um privilégio, isso não é exatamente uma dádiva e sim uma quase solidão... um deslocamento do comum, do normal...
por fora bela viola, mas por dentro uma misturança de coisas em ebulição... um vulcão, uma pira que se mantém acesa desde 1979...
eu não me encaixo, eu não me acho, eu não... as minhas coisas são sempre tão particulares, tão peculiares, tão tão...
me distancio dos demais, porque quero, porque não quero, me distancio, não tenho meios de viver exatamente no mesmo tempo deles, no mesmo mundo, no mesmo pensamento, no mesmo lugar-comum...
é tudo tão intenso aqui dentro que contando eles não acreditam, contando parece "causo", parece exagero contar que aqui dentro é tudo tão exagerado...
fico no meu mundo de vulcões, ebulição, de lava descendo e lavando tudo o que há por dentro com o calor mortal, com a pressa, com a efervescência das minhas coisas, dos meus pensamentos, das minhas ações...
um dia eu disse paixão... um dia eu disse que tinha uma doença chamada paixonite crônica, escrevi uma crônica sobre isso, escrevi o que na hora me parecia mais parecido com o que rola aqui dentro... mas agora vejo que sou deslocada, tresloucada, sou dessas que a forma não faz mais nada, que é jogada fora depois da facção... dessas que não se encaixam, que não se copia, que não se exemplifica, dessas que só vendo pra (des)crer...
e nada disso me faz uma pessoa melhor do que as outras, talvez mais confusa, talvez mais desgastada, desgostada das coisas normais, das coisas comuns...
tenho um tempo todo meu, acelerado, descompassado, sou um samba em alta rotação... tenho que ter um tempo todo meu, nele eu me acho,, me encaixo, me encontro, me convenço de que sou mesmo única nas minhas piras e erupções...
talvez um dia seja triste ser assim, tão diferente por dentro e tão igual por fora... talvez algum dia seja complicado viver assim... talvez neste momento ser única signifique ficar só...
estou tentando entender o que há por fora e expressar o que há por dentro, pra ver se me acho, pra ver se me encontro, se encontro um encontro marcado com os demais, algo que não me agrida, que não me resfrie, que não me apague...

ainda não... ainda...

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

quem sabe da dor, da tristeza de não estar nem dentro, nem fora, talvez dela possa surgir algo novo...
talvez possa imergir de dentro do peito um sentimento que possa substituir a não vontade, possa trazer um respiro para o já tão desgastado ar...
talvez seja mais do que cumprir as tarefas que me foram dadas, talvez possa viver o que ali se passa, mesmo que sozinha, mesmo que sejam poucos os momentos em que todos me acompanham...
talvez seja hora de deixar de lado as não gosturas que a vida nos apresentar e seguir em frente, sem olhar para trás, sem olhar e sem pensar...
que sabe seja hora de seguir os instintos e deixar acontecer o que tiver que acontecer, lavar as mãos em bacia de água limpa, secar em toalha branca e passar creme para amaciar...
deixar pra o depois o que pode ser depois e só por lá...
talvez seja hora de jogar fora os pré-conceitos e deixar acontecer o que quer que seja, o que quer que esteja programado...
talvez seja hora de perceber que nem tudo é fácil e prazeroso como música e dia de sol...
talvez seja hora de fazer um pic-nick na chuva e aproveitar o dia mesmo assim...

domingo, 4 de outubro de 2009

a boa música é o gracejo da alma

e depois de um céu em cinza, cinza escuro, carregado de íons negativos, de negatividade... depois de dias fechada num canto escuro, com pedras vindo de todos os lados, de frente, de costas, de mim mesma... depois das pedras atiradas, do sangue escorrendo pelas partes atingidas, do sangue seco, das ranhuras, das dores, das decepções, das desilusão...depois de tudo...
um gracejo em forma de música, um alimento pr'alma, uma acalento...
depois do depois, a certeza de que uma boa trilha sonora nos trilha um caminho bem melhor, bem mais claro e leve...
um gracejo que permanece quando o som cessa, quando se vão os aplausos e a poltrona não é mais almofadada...
um gracejo que faz o vento dançar e levar pra longe o que não se quer, nem por perto, não se quer nem de longe...
um gracejo que ataca de cara a boca do estômago d'alma, que pega pela mão as coisas de dentro, que passa borracha no que não foi assim tão bom...
que deixa na vida um gosto de gafieira, de baile, deixa no pé do ouvido uma valsa, um pé de valsa no pé do ouvidinho...
que deixa no corpo todo um sacolejo, que apaga com corretivo os erros que poderiam não ter sido, e já que foram, merecem mesmo ser apagados com gracejos...
e a trilha sonora no fim de noite de domingo, depois de final de semana sem fim pros desafetos, pros desamores... a trilha me encaminha pra um só pensamento...
quando o batuque começa lá fora, aqui dentro outras coisas batucam que não instrumentos, batucam e deixam na boca um balaco-baco...
quando o som se propaga na caixa preta, a caixa vermelha vibra e os pés teimam em ficar pra lá e pra cá, e os quadris acompanham e acompanha logo o corpo todo...
me lembro que depois do depois, é de fuleiragem que sou feita, é pra fuleragem que tenho que ir quando mais nada me interessa, quando nada mais me agrada e menos ainda me importa...
e deixo crescer em mim o fuleiro, me deixo levar pra fuleiragem de braços e peito abertos, pernas dançantes, braços em hélice, sandália de prata...
deixo vir até mim a fuleiragem que me reconhece, me pega pela mão e me diz, que sou bem Nega Fuleira mesmo!!!
Vamborá fuleirá que a boa música é o gracejo d'alma!!!

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

borboleta sem asa ou a inutilidade dos inúteis

fiz uns escritos
esses vão direto pra você
são escritos bem miúdos
são escritos bem escrotos
um apanhado de palavras
um apanhado e batido
borboleta sem asa
perdeu toda beleza
borboleta sem asa
já não voa com leveza
te dou essa rima
tão ruim quanto o que faz
tão bom quanto o que não é
te dou essa rima inteira
rima de banheiro
rima de revés
te dou a rima dentro do poema
lusco fusco fosco fraco lasco
te devolvo
te devolvo em dobro
uma borboleta e arranco as asas
uma borboleta despenada
deixo as asas numa caixa
já não servem pra nada
já não mais


resolvi fazer uma poema
sem muita utilidade
moral
e
cívica
resolvi escrever o que penso agora
neste exato momento
um sentimento
uma pulsação fraca
que bate no meu peito
que já pulsou forte
que já escreveu fortunas
resolvi escrever pra ver
pra saber se percebe
quão ruim é ser inútil
desfuncional
fútil
sem carga
positiva
ou
negativa
sem dom
sem brilho
sem graça
desgraça
barata tonta sem pernas
que simplesmente não vai
que simplesmente não faz
que simplesmente não é nada mais
do que uma inutilidade
a dos inúteis
só pra ver se se toca
num disco não riscado
numa vitrola bem boa
se afina o pensamento
com o que tenho aqui dentro
e se toca nas partes do corpo
e se fringe como ovos mexidos
mexe por dentro
se choca
e coloca umas sacolas plásticas biodegradáveis
no lugar das ex-asas
se degrada
me agrada
fazendo
vivendo
sendo
estando
pensando
ando
ando
ando
do
do
do
do
o
o
o
o
...

o que pulsa...

pulsa um sentimento indefinido aqui dentro, não é uma confusão, não...
pulsa um sentimento que não posso definir com meras palavras, com essas que já sei, que já conheço...que já são...
pulsa um sentimento com leve tom estranho, com leve nota (des) conhecida...
não uma falação, não um blá-blá-blá... uma quase canção...quase um ninar, uma melodia melosinha...
poderia fechar, poderia nomear, poderia fazer muitas coisas, guardar, ignorar, amarrar, sumir, esconder, não sentir...verbalizar...
mas borbulha dentro, borbulha como bolhas de sabão, como flocos de neve, como copo de refri gelado em cima do balcão...
um sentimento pequeno, bem pequenininho, mas que reverbera, que reage, que refrigera minhas coisas de dentro...
uma sensação-sentimento que deixa perguntas pulsando aqui dentro, mais uma vez...
não paixão, não amor, não satisfação, não todas os outros adjetivos amarelados, uma novidade que talvez não seja tão nova assim, e é ai que reside toda força deste novo que é quase velho em mim...
não há mais ninguém metido e misturado nessas coisas, o que é impressionante, fico olhando pra dentro e forçando descobrir o que é... essa novi, essa coisa que sinto, e só sinto...
quando mais olho pra dentro menos vejo...
sinto um estranho risinho que se forma acima do umbigo, enquanto forma-se um chorinho logo abaixo do mesmo umbigo.
tenho medo e coragem ao mesmo tempo, tenho vontade e preguiça... tenho uma balaio de gato aqui dentro, mas dentro dele já sei que gato não há...
e minha ansiedade me mata de vontade de saber e dar um nomezinho carinhoso que seja pra essa ferveção toda...
e minhas coisas de dentro se perguntam, me perguntam o que será???
chegará o dia em que viver o momento será suficiente pra me deixar viver em paz...