quarta-feira, 20 de julho de 2011

bolhas de sabão

bolhas de ar são bolhas de sabão. estourando dentro de vasos. vasos são vasos sanguíneos. borbulhando por dentro pensamentos que não trazem se não uma dor inverossímil. distante quilômetros de distância. um simples pensamento cria o copo com sabão derretido em água. sabão que não daria pra lavar toda a sujeira que se acumula dentro do compartimento. e a música enlouquece até as senhoras que rezam de joelhos na brita que retém automóveis e caminhões na curva perigosa dos vasos sanguíneos que entram em ebulição com simples pensamentos bem simples. tão simples quanto imagens acumuladas dentro de uma memória que nunca se cala, que nunca para e que nunca morre. por mais que matem. por mais que deixem sem regar. a repetição é impossível de não ser notada. assim como são impossíveis de não serem notados os deslizes que você cometeu na ânsia de tornar tudo muito claro. e escurece com rapidez noturna. escurece. obscurece. perde os sentidos depois de horas ajoelhada em espigas de milho verde. ajoelhada rezando para poder levantar os olhos e olhar o que está ali adiante. mas não adianta querer olhar as fotos que não foram tiradas dos porta-retratos que não se portam de maneira coerente com as incoerências de rezar por uma alma que não reflete a luz do sol, que não reflete a luz dos olhos que ainda olham para fotos estáticas. paradas num tempo em que fazia sentido sentir. e borbulham seus olhos em lágrimas efervescentes. borbulham seus joelhos dobrados desde os tempos em que pecar estava em vigor. espera sozinha a solidão que não chega. enlouquece esperando a loucura que não chega. espera enlouquecer de tanta dor. mas não sente tanta dor assim. ou sente e não assume para não dar o braço a torcer, já que braços torcidos doem tanto no osso, como na carne, como no nervo, como na alma. e prefere esperar lá fora até que a noite acabe e ela possa ver com os próprios olhos cegos de fúria e cor que ainda existem dias e que depois deles a noite virá e tirará toda aquela claridade que lhe faz ver as coisas tão claras como a luz do dia e sente que não sabe por onde começar e resolve rezar para que tudo passe e as horas em que passa rezando não passam de horas em que passa rezando. deita e dorme e sonha com um mundo onde as coisas não se acabam, onde não se precisa comprar nada, já que não se acabam aquelas coisas que já estavam ali e sempre estarão e fica feliz por não sair dali nunca mais, por não precisar de nada, por não ter que temer o fim das coisas, por não precisar rezar por coisas que não são mais suas, já que elas sempre estarão ali, sempre estarão ao alcance de suas mãos rápidas. e os joelhos calejados rezam por um dia em que tudo acabe e que ela não precise ficar esperando as coisas chegarem ao ponto em que nunca estiveram. e a música se repete. e se repetem as bolhas de sabão que se colorem e se descolorem de acordo com vontades alheias as suas e não passam de uma desculpa rala, uma mistura rala de água e sabão, que não servem nem para lavar as imundices que povoam agora a parte de dentro daquele receptáculo de dor e de amores que não passam de reza de joelhos cansados de esperar por se desdobrar em vasos sanguíneos que se explodem e lavam o chão, os milhos verde e os joelhos se levantam com as mãos erguidas para o céu em sinal de abnegação. e ainda está marcado no lado esquerdo do seu rosto que também é seu e na sua boa inteira que também é minha. e nos olhos não preciso nem falar de fotografias que não figuram mais os nossos cartões postais.

d AÇÚCAR

ERA um homem. era a vez que este homem viu sua paixão se perder no caminho entre seus olhos e outros olhos que não os seus. era uma tarde em que chovia. era uma chuva tão fina que não era capaz de molhar nem o chão pisado e umido. era uma tarde que não temia em se tornar escura. era uma estrada. era um caminho. eram os pés no chão caminhando rumo aquela rua que era estrada. era a chuva que continuava. eram os passos no caminho. era a roupa ficando molhada de tanta chuva fina que se acumulava. era a chuva fina adentrando no corpo nu por debaixo da roupa que vestia. era um corpo de açúcar que não sabia. era a umidade. era o desfacelar lento das coisas reais. era carne. era osso. era pele. era doce. 

não é mais. 

é a roupa ficando cada vez mais folgada. é o desfazer que anda pela chuva que não é mais fina. que se adensa. que se engrossa. que derrete. é o passo que não para. é o passo que segue no processo de se desdizer. é o açúcar que se derrete em plena rua. que se mistura com a água farta que escorre pelo lado esquerdo e direito da rua. rua que é estrada. é uma infinidade de açúcar por dentro e por fora. é que demora a derreter por completo. é duro. é denso. não é mais impossível. impassível a chuva que cai. e segue até o fim. até que é chegada a hora de abandonar roupa que não serve pra tapar o que é derretido. não detém. não é detido. derretido. e se mistura com água pura de chuva. chuva sem sabor. dissabor. sem nada. só chuva que cai de um céu que existe já que posto está. e se misturam como corpos não se misturam. como não se misturam pensamentos. como não paixões. e seguem o caminho se juntando cada vez mais. e chuva. e açúcar. e água adocicada. água com açúcar é servida aos bueiros. bocas de lobo. a cada duzentos metros, um pouco menos, um pouco mais. é neste momento. é exatamente nesta hora. a água doce. é boca abaixo. em descida plena. pelas goelas da rua. estrada. que recebe com soluços esparssos. e cura todas as mágoas que ali sempre foram depositadas. nas sarjetas. encontra. escorre adocicada. água com açúcar nos bueiros sujos das ruas. que não se importam. que não se importa. 

vai parar a chuva.

e a água secará nos riachos das beiras. ficará marcada com linhas vistas por bons entendedores. e nas goelas das ruas e dos seus bueiros e bocas de lobos o gosto terminará com os soluços de uma vez por todas. e mesmo que em futuro distante venham a ser jogados nas sarjetas outros soluços e gotas salgadas, não haverá de se apagar o dia em que havia água com açúcar. mas não haverá solução para os suspiros que teimarão em sair de bocas de açúcar que teimarão em sentir ainda um arrepio frio pela espinha dorsal do algodão doce quando defronte para olhares que emitem raios de paixão. e não haverá esquecimento capaz. não haverá.

era uma mulher. doce. que não adoça mais. era.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

PRONTA entrega.

gostava das que viviam nas ruas. não as que tinham casa e de vez em quando iam para a rua. não aquelas que escolhiam trabalhar na rua. não aquelas que passavam os dias nas ruas e depois iam se recostar em algum lugar. gostava das que viviam na rua. e viver na rua significava ficar lá uma vida. estar lá de manhã até a noite. estar lá quando chove. quando faz sol. quando nubla. estar na rua. fazer parte dela. se misturar ao asfalto. 
era bem apessoado. tinha casa, comida e roupa lavada. o básico para se viver bem. tinha uma porção de livros, que chamava de biblioteca. tinha seus afazeres, suas manias, suas vaidades, sua vida. sempre sozinho. nada de mulher, nada de filhos. só uma moça, tão gasta pelas horas quanto ele, que ia todos os dias lhe dar de comer, lhe lavar as roupas e limpar a casa. sua rotina consistia em sair e voltar. abrir e fechar. andar e parar. respirar e expirar. comer e cagar. pensar e despensar. ler e esquecer. entender e teimar.
quando saia no final do dia, desde o décimo andar até a portaria, todos sabiam o que ia fazer. pegar pela mão, entrar pelos fundos, subir pelo elevador de serviço, entrar pela cozinha, tirar a roupa, levar pro banheiro, ligar o chuveiro, lavar com água e sabão de coco, enxaguar com água limpa, secar com toalha branca, levar para o quarto, dar chocolate, dar champanha, deitar sobre, entrar dentro, sair fora, levar pra cozinha, dar lanche, colocar a roupa, abrir a porta, fechar a porta. uma vez por semana. quatro semanas por mês, doze meses por ano. 
o que faziam lá em cima só quem escreve é que sabe. não sabia nem o décimo andar, nem a portaria, nem a moça gasta do faz-tudo. só ele e a que vinha. e quem vinha uma vez, nunca mais vinha. gostava da variedade. gostava da primeireza. gostava da inocência. gostava da surpresa. dele e dela. ganhavam todos. todos se surpreendiam.
e quando depois, no dia seguinte, repensava porque fazia. se lembrava de quando era mais novo. de quando ia até o bordel e pegava uma menina. outra menina. meninas novas, meninas velhas. lembrava do que faziam, de como faziam, do desgosto que o gosto delas tinha. de como já sabiam a hora certa de tudo. e como colocar o pé ali dentro era já saber o futuro. e depois de anos na repetição tórrida do amor delivery sentiu-se cansado. sentiu que não podia mais com um amor que já sabia. e ficou um tempo bem grande, não horas ou dias, um tempo, sem amar as meninas.
e andou pelas ruas. e andou pelas avenidas. andou pelas nuvens. andou para onde podia. e um dia esbarrou no mundo. na verdade em uma de suas esquinas. surpreendeu-se de o mundo não ser tão redondinho quanto sabia. e a viu. suja. maltrapilha. sem muitos dentes. e sorria. como sorria. havia acabado de ganhar de um motorista uma nota. e já fazia planos de mudar sua vida. comprar casa, comida e roupa lavada com a nota que havia ganho. e ele se pegou olhando. amassando uma porção dessas notas no bolso. bisbilhotando a vida alheia. e não é porque estava na rua que podia ser vista livremente. sem pudor. fechou os olhos para ela e seguiu caminhando. 
mas de noite o suor que tomou conta de seus pensamentos e fez escorregar ideias para fora da cabeça. fez pensar coisas que nunca havia. fez acordar cedo e correr pra rua. e uma vez na rua a vida é outra. uma vez na rua as coisas são da rua. tem sua lógica e sua caracteristica próprias. e começou a olhar para quem não existia. começou a sentar naquele banco do ponto de ônibus da praça. passou a dar ideias aos pombos, que as comiam como pipocas.
e num fim de tarde ruivo, resolveu colocar em prática sua ousadia. resolver ver se dava para o gasto o que lhe apetecia. desceu até a rua. deixou o destino escolher por ele. não jogou conversa. foi direto e verdadeiro. como as coisas da rua. viu o sorriso desconfiado sem dente. entrou pelos fundos e desempenhou a sua ladainha. 
com o tempo passou a acertar um ou outro detalhe. uma coisa aqui e outra ali. mas duas não mudavam. a imparidade das que vinham e a pluralidade do que fazia. do banho que dava e que fazia arrepiar até cabelo crespo. da toalha branca macia que se sujava na pele que nunca limpa. da cama esperando de braços abertos. dos bombons finos. da champanha. do lanche. e da porta se fechando.
e o que rememorava das meninas da rua e que nada se parecia com as meninas da vida. como cada bocada nos bombons era a primeira e última para as da rua, quando as da vida já tinham até as suas marcas preferidas. do banho de deleite que não havia rua que pudesse dar e que as outras tomava a cada saída. da champanha fazendo bolinha na boca da garganta e que já não borbulhava nas gargantas profundas. a saciedade do estômago que nunca se sacia no lanche e das outras que pareciam viver de vento, não comiam. e do olhar de rua que davam as da rua, pensando na próxima que nunca aconteceria. quando as da vida tinham certeza de que volver outro dia.
gostava da rua e da pronta entrega de suas meninas sempre prontas. que nas outras meninas era delivery, as que se vendiam...

quarta-feira, 13 de julho de 2011

o doce amargo da paixão

que de tão doce arde os olhos e a garganta com um nó. e nem música, e nem pintura e nem arte superior se compara ao olhar nos olhos de quem é apaixonado. e a dor de não ter nas mãos o coração seco para poder molhar, espremer, apertar até sentir um pontada, uma palpitação, um "que" que seja. e um gosto amargo e doce se espalha pela boca daqueles que olham a paixão sem tocá-la, já que ao alcance das mãos sempre está. e a dor de não poder dar o que lhe é oferecido é sempre mais dolorida do que dar e não ser acolhido. ver olhos que saem do globo e penetram nos seus tão secos. pois se pra receber fosse só abrir os braços e pernas e tudo o que possa ser aberto. quando se perde a chave e fica a dica triste de que se tem alguém apaixonado por você e você não está mais. e um dia esteve, mas este dia ficou congelado e depois exposto ao sol de um outro alguém que fez derreter.

sábado, 9 de julho de 2011

pra dentro

ou com os olhos fechados do lado de fora. do lado de dentro aberto. os poros. de quem são? e fica abrindo e fechando perto da minha bochecha e os cílios tocando a pele vazia de cor. a melancolia lhe cai bem e lhe dá uns tons que não existem. não mais. como é bonito daqui e com os olhos fechados. bem fechados quanto mais abertos estão. e nada importa, não é? não é não vai ser mais quando não for, mas ainda será. e sempre. e se você escolhe os seus calçados eles não lhe machucarão os pés pois terão piedade de dar-lhe só dor quando por ti foram escolhidos e lhe cabem e lhe fazem sentir melhor do que sair com os velhos, os mesmos de sempre. como as pontas de dedos que batem de leve que quase não se sente. como as pontas dos dedos dentro da boca que não se sente muito. como as pontas dos dedos dos pés tocando couro de sapato novo. a reprise de um sonho. quando se acorda de leve e tudo pode ser leve e se abre os olhos até então fechados. e se termina de leve um sonho que ainda persiste. e se sente que poderia dormir de volta e não tem volta o sonho que se termina e continua sonhando acordado. sem a alegria de braço abertos. sem braços. sem dedos. sem pele. de leve. como se a solidão pudesse te achar num canto escuro do quarto de hora em que se encontra sozinho. como se a saudade pudesse voltar sozinha e acompanhada da solidão que teima em não te deixar só. como se o canto não fosse um canto e sim um conto arredondado por dedos de barro que moldam o mundo que não cabe em si. como se a melancolia fizesse de ti um cachecol que carrega na bolsa e espera um dia  fazer frio aqui no sol e poder te usar no pescoço, no colo de ninar tristezas. e vai. naquele sonho que não espera você dormir. que não espera sonhar.. que só dá de volta o que recebe e ainda dá um pouco mais da solidão que lhe sobra. não mais.

infâmiazinha

ele não tinha muito o que fazer. mas como ele se tratava de deus, aquele que esteve por aqui e vai estar, o não fazer nada não tarda a findar. e ele resolveu criar uma coisinha num espaçinho ocioso que tinha no seu quintal. foi ali, fechou os olhos, imaginou e depois cabrum... surgiu uma bola redonda, com cores primárias, se vista de longe. eis que vinha pelo universo um dos seus, caminhando pela galáxia como se nada tivesse acontecido. e no fim para ele não havia acontecido nada mesmo. não tinha o dom da premonição. e então ele, que de nada sabia, tropeçou na mais nova criação de deus e caiu. tropeçar e cair é o que haveria de ser mais comum na nova criação. mas até então era erro grave. não havia como se manter o mesmo depois de ter caído...
e depois de ser um caído, ele ficou por ai. sem ter o que fazer resolveu cair mais uma vez, agora em jogatinas, apostas e tudo o que pudesse fazer o tempo da eternidade passar. e como demora quando se tem o tempo todo. e então deus não contente colocou um detalhe aqui, um outro ali, mais um acolá. e chamou de terra aquela bola redonda de terra. era terra pra tudo quanto era lado, como se redondo tivesse lado. era modo divino de dizer...
e como terra serve pra segurar algo que se possa colocar por cima, eis que surge um quadrúpede aqui, outro ali e mais um acolá. sempre que se faz uma coisa aqui, se faz outra ali e ainda outra acolá. cabala... e então numa tentativa mais experimental do que profissional, surge um que diz que pensa, mais diz do que pensa, já que se pensasse não diria e caminha sobre duas pernas ou patas, que no fim dá tudo na mesma. e então as coisas na base de uma semana se dão. é findo!
e a jogatina rolando no espaço, com aqueles que um dia também tropeçaram. que um dia também perderam o equilíbrio, com aqueles que caíram. e o tédio controla as cartadas. mas o que é um tropeço pra quem já está caído, o tal resolve dar um bordejo pela leitosa. numa dessas pra dar um chute naquela pedra que até então não estava ali e que surgiu do nada só para lhe fazer caído... e se depara com um pessoalzinho dominando o pedaço. de terra. e percebe que por mais que se digam inteligentes, lhes falta um tanto de malícia... coisa que tem aos montes os dos tropeços.
e depois de observar as peripécias dos terráquios, resolve apostar com quem tem bala na agulha. aliás, com que é por si só a bala e a agulha... e aposta como dá um nó nos pingos d'água que deus colocou sobre duas pernas. e deus de cara com o caído, mas já tedioso por ter feito a terra em sete dias, resolve confiar na inteligência do experimento. se fosse eu...
e então não preciso nem falar que deus perde, perde feio tal qual viria a ser rotina pra uma seleção de um país do bola que ele mesmo criou. e de vergonha por ter feito um experimento que não dura nada, um experimento com garantia chinesa. deus cospe no chão e sai nadando. e uma vez feito o cuspe divino, já não se deveria chamar de terra a bola, pois dali vieram oceanos, continentes, peixes, tubarões, gravidade pra manter tudo amalgamado.
e o outro voltou pra mesa de jogo. desiludido... mas teria trabalho mais adiante, como teria...

quarta-feira, 6 de julho de 2011

NÃO matarás. não ROUBARÁS. não cobiçarás.






não farás nada.






ficarás imóvel e as coisas ainda assim te acontecerão. tanto coisas boas quanto ruins. acontecerão num trilindar frenético de vozes. como se a sua cabeça, por si só, já não bastasse para guardar os mandamentos.


eu te dou uma tábua. quem sabe duas. elas são suficientes para construírdes uma casa. entende agora o que são tábuas?






ou dirás que sua mente não é capaz de guardar coisas simples como estas que lhe dou. e se não só a ti, lhes dou então.










- Eu não farei a ti, meu irmão, nada daquilo que não faria a mim mesmo.






- Eu não farei nada ao meu próximo, que não faça a mim mesmo.






- Não farei a ti.






- Nada daquilo.






- A mim.






- Não farei.





um conto insignificante.

é sobre uma caixa repleta de outras caixas de bala. as balas são de mente. aqui não devemos confundir menta com mente. não devemos cometer erros crássos ou crássicos de digitação. aqui não erramos e temos a noção do que este conto significa. as balas são de menta. cobertas por uma fina camada de baunilha. são balas doces. doces balas. as crianças as costumam chamar de "balas de bafo", tendo em vista o poder que estas tem de retirar da boca de todas as pessoas do mundo que se propõem a isso, o "bafo" e trocá-lo por um hálito saudável de menta. hálito de menta é o que se tem como padrão. para os demais hálitos verificar tabela. então se trata dessas balas de bafo e das pessoas que as consomem. num recorte específico da pessoa que as consome. se consome.
então esta pessoa compra pela primeira vez as balas e percebe, assim como quis o fabricante, que há um envoltório de baunilha em uma bala de menta. uma pequena bala de menta que consegue esconder pelo lado de fora um segredo, que se torna uma incógnita. essa pessoa de quem estamos falando ou que nos fala percebe o sabor de baunilha, que dura ínfimos instantes de fugacidade e logo em seguida sente o sabor vendido, a menta. e então depois de terminar de consumir a pequena caixa de balas de bafo. depois de refinar seu paladar, sua vida e suas escolhas mais profundas, a pessoa percebe ter uma preferência quase exclusiva pelo sabor de baunilha. percebe não fazer sentido consumir algo que não lhe apetece. toma uma decisão definitiva.
a pessoa que nos fala decide comprar uma caixa completa e fechada de balas de bafo, por assim dizer. tendo em vista que essa expressão não pode ser usada em outro lugar que não este, que é o lugar de onde esta pessoa nos fala diretamente. sabendo-se que se chegarmos em qualquer local do comercio local de varejo, jamais conseguiremos comprar uma bala de bafo, sem ter que dar amplas explicações ao vendedor especialista de doces e balas doces. a pessoa compra a caixa repleta de outras nanocaixas. a pessoa é objetiva. a pessoa já tem a sua decisão. essa pessoa que se comunica diretamente conosco chupa as balas. mas somente enquanto há o sabor de baunilha. não menta. somente a baunilha. néctar maravilhoso extraído de um lugar que desconhecemos. depois de e no exato instante em que se tem menta, a bala é expelida da boca com um cuspe econômico sem saliva extra. a bala volta ao mundo em sua forma mais cruel e justo por isso, mais natural.
a pessoa tem o filing de percebe onde começa a baunilha e onde ela acaba. não onde termina a baunilha e onde começa a menta. não menta. estamos num recorte específico sabor baunilha.
a pessoa que vos conta pessoalmente este pequeno conto insignificante sabe das coisas. e depois da caixa de balas finda. do mundo cruelmente, mas naturalmente povoado de balas de menta sem baunilha, realocadas no espaço. alguém alheio a pessoa, aos consumidores, as crianças, aos produtores de menta e baunilha, dos vendedores especializados e dos blogs de divagações, pergunta a esta pessoa o motivo dela não consumir balas exclusivamente de baunilha.
é um conto insignificante sobre doces e balas doces. a pessoa que fala com vocês que óbviamente lêem não responde. a que perguntou repete em looping a pergunta relacionada ao doce dos doces. eu não respondo nada. penso em responder. retrocedo ou tarde.
as que são de outros sabores e as pessoas que as consomem não tem como entender. é claro. officorse. as de laranja, são laranja por dentro e por fora. as de maracujá seguem o mesmo padrão internacional de não prometer retirar bafos de bocas comuns. as de cereja são somente isso.
entende que não há resposta?
entende que não há sequer o que perguntar?
não.
um conto insignificante.
compreende?