quarta-feira, 14 de novembro de 2012

sobre a solidão nossa de cada dia

Não me sinto sozinha. Os meus pensamentos me acompanham em voz alta. Me dizem o que quero e não quero ouvir. E sou obrigada a ouvi-los, já que estão por todos os meus lugares. Dentro e fora deles. A solidão já faz parte, já está instalada e roda bem em mim. Fico horas e mais horas entretida com as minhas coisinhas, com botões ou letras. Fico horas olhando pela janela. Sou uma pessoa de horas. Gosto de fazer as coisas sem pressa, com gosto, com o desejo de realmente estar ali. 
E desde então ficar sozinha só me amedronta na hora de dormir. E se hoje mesmo, fosse necessário procurar um outro alguém, colocaria no anúncio assim: PROCURA-SE ALGUÉM PARA DORMIR. E nada mais. Alguém para aplacar a tristeza que a escuridão me dá. Alguém que ficasse transparente com a luz do sol. Alguém que não se importasse com isso de ser só de noite. 
Quando eu era menina, sentia muita solidão. Tenho três irmãos, mas na minha casa, mesmo sendo muito unidos, sempre fomos muito separados. Cada um tinha e ainda tem a sua visão distinta do mundo e das coisas. E mesmo dormindo no mesmo quarto durante anos, cultivei o meu medo do escuro. Em mim o escuro só ameniza quando tenho braço onde me segurar. O escuro me faz cair.
E pra fugir da constante solidão sem palavras que vivia, escrevia. Escrevia muito e tanto. Em papéis pequenos, em cadernos, no ar. Escrevi histórias que eu mesma lia. Escrevia poemas e cartas de amor que algum dia seriam para alguém. Escrevia sobre os outros, sobre mim mesma. Escrevia. E com o tempo fui descrevendo a solidão em palavras doces e amargas, grandes e pequenas. E tantas vezes que ela passou a ser um conhecida de longa data. Que chega em casa a hora que quer, sem avisar e depois vai embora sem dizer adeus. Estamos acostumadas, nos conhecemos. 
E então é assim. Só a escuridão me incomoda. De resto escrevo, descrevo, disseco e logo passo a conhecer melhor o que há e não há nada com que se incomodar.

6 comentários:

Priscilla Cesar disse...

Oi! Passei por aqui e li seu texto. Gostei bastante. Estar em busca de alguém que se torne transparente ao amanhecer é algo que já esteve por aqui também. E que volta e vai embora sem dar avisos! =) Fiquei contente por ter lido. Voltarei, com certeza! Beijos

Bárbara Lia disse...

Nana, é sempre a mesma velha história das meninas solitárias, que pode ser também quase sinônimo de livre, muito lindo seu texto e que venha o ombro na noite, mas, apenas na noite... Gostei muito desta imagem de alguém que fica invisível quando chega o sol, como o sol, como a luz que aquece de longe. Bjs.

Graciela Scandurra disse...

Obrigada querida em me convidar para compartilhar sobre a solidão nossa de cada dia....um abraço grande e apertado.

Graciela Scandurra disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Nana Rodrigues disse...

Meninas... eu é que agradeço por partilharem de minhas palavras. é um lugar pra ler, ver, e ser lido!

Sejam sempre bem vindas!!

Beijo

Nana

Geisi disse...

Seu texto simplesmente me descreve nesse momento.
No cair da noite, alguém para abraçar somente dar o braço seria algo mais que magico na luz do sol se esconder no invisível...
sem palavras.