quinta-feira, 15 de novembro de 2012

PAUSA para rir de mim mesma

Eu fui ao mercado. Coisa comum. Queria pão, queijo, presunto e alguma besteira. Tenho verdadeira adoração por besteiras. Tinha...
Na verdade não é um mercado. É um delicatessen. Aqui eles gostam de chamar as coisas por outros nomes. Uns bem delicados e outros bem "diferentes". Como aquela carne que se chama "CHUPA MOLHO" e que aqui em casa nos ameaçamos dizendo: Se não fizer tal coisa, vai comer chupa molho...
Então vamos voltar. Não era um mercado, mas sim um mini-mercado com nome mimoso. Entrei com a cestinha em mãos e sangue nos olhos. Estava com fome. Toca música no merca-delicatessen. As coisas custam caro no delicado delicatessen. Deve ser pq vem da França. Também, com esse nome, o status é outro.

Comprei tudo, e na hora de pegar o pão começou a tocar uma música que tem comigo uma certa história. Ignorei. Mas o delicado, uma mistura de delicatessen com mercado, insistiu em tocar. Disfarcei bem e fui para o caixa. Temendo que depois daquela música tocasse axé e fossemos obrigados a dançar para pagar a conta. Afinal estávamos na França.
Coloquei as coisas no balcão. Não, não há esteiras rolantes no delicado, elas ainda não foram inventadas na França. E o caixa estava de cabeça baixa. Um homem grande, eu diria até que era um supermercado dentro do mini-mercado chamado... Enfim. Quando terminei e coloquei a cesta no chão, ele pegou o primeiro produto, digitou o preço (sim, na França eles não usam código de barras) e me olhou profunda e profanamente dizendo: ESSE CARA SOU EU!
Quase gritei de susto e mania de perseguição. Que cara? Onde? Como? E dentro do delicatessen? Passou os outros produtos, mexendo sempre a boca como se cantasse sem som. Esse cara sou eu, essecarasoueu, essecara... Não se sabia se quem estava mais constrangida era eu, se eram as minhas compras ou a França. E quando terminou ele deu o dito final: ESSE CARA SOU EU (agora com ênfase), SÃO 10,64.
Dei 11. Coloquei eu mesma as coisas na sacola e engoli dizer para ele que NÃO! ESSE CARA NÃO É VOCÊ! AO MENOS NÃO PARA MIM!

Voltei para casa atarantada. Quantos caras serão eu?

Essa semana, meu vizinho passou uma manhã inteira gritando que esse cara era ele. Noutro dia os caras da obra disseram que os caras eram eles. E dizem que na televisão estão dizendo que o cara é ele. Mas para mim, eles continuam não sendo os caras. 
E por fim, sem mais para onde ir. E depois de descarregar minhas compras delicadas e minha fome nem tanto. Escrevi uma carta-documento. Ela trata primeiramente de explicar ao tal Senhor Roberto Carlos, o cara sou eu primordial, que ele é infinitamente amado e idolatrado aqui no nordeste. Elogiar profundamente o lugar que ele conquistou no coração das pessoas. E solicitar gentilmente para que da próxima vez que for compor ou quem sabe escolher composições alheias para sua discografia, que o faça com mais cautela. E que por obséquio, escolha aquelas que não repitam que alguém é ou deixa de ser, e que não sejam somente refrão! Caso contrário, declararei publicamente, QUE ESSE CARA SOU EU!! E não eles, como querem nos fazer crer!

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