sexta-feira, 25 de julho de 2008

"NO TIME"

eu
digo
não
e ele passa,
ele passa mesmo assim,
vagando
sob
nossas
cabeças,
ele
passa
mesmo
sem
mim
...

segunda-feira, 14 de julho de 2008

o tempo...

hoje o tempo passa sem freios no lado de fora de uma janela qualquer, dentro dela estou eu, dentro do tempo já não mais...e respiro compassado, com passado, um presente poder respirar assim, um dádiva, quase um dom...e respiro esse ar que me adentra e me sai, saio de mim...saio por essa janela de tempo que passa e me leva tempo á fora...volto pra dentro de mim...sinto o toque que me chega n'alma...um toque que me chega quando tantos outros tocam em um vão...conto o tempo em dedos da mão, conto como se houvesse o que contar, como história que passa e passa e se reproduz tempos depois...conto o tempo em dedos dos pés que me levam, que me trazem onde o tempo já não passa...dentro da janela em que tempo é coisa de fora...dentro da janela que dizem me ver na janela que eu deveria estar...

segunda-feira, 7 de julho de 2008

visita 192785264 ao psiquiatra...

SIM! doutor....eu estou com uma vontade insana de fazer uma daquelas coisas que estou proibida de fazer, uma daquelas que te deixa com os poucos cabelos restantes em pé...daquelas bem cabeludas que te deixariam com inveja...estou segurando firme a cadeira como o doutor sempre me recomenda, estou respirando fundo, mas a vontade não passa doutor!...e agora percebo que é quase justo o preço exorbitante que me cobra por aquelas consultas relâmpago...é quase justo, pois quando o telefone da sua casa tocar a essa hora e o senhor der aquela corridinha torta pra atender, já saberá só pelo toque especial que o telefone faz, que sou eu...já terá certeza do que eu fiz...terá também a certeza de que talvez uma infinidade de consultas nunca sejam suficientes e que nem todo dinheiro do mundo poderá pagar seus préstimos...e eu por minha vez terei a certeza de que talvez nem todas as consultas do mundo poderão pagar seus préstimos e nunca será suficiente o dinheiro que lhe dou...teremos entendimentos diferentes como de costume, tudo é muito costumeiro quando se trata de nós dois...como se pudesse existir um nós e um dois nessa nossa matemática ridícula!...como se pudesse haver algo além de um palerma que fingi que escuta quando um outro palerma fingi que fala...como se pudesse...mas doutor, eu estou tentando ser firme em minha última decisão ou resolução, já não sei mensurar...mas é um daqueles dias que já lhe contei, mas que não custa relembrar tendo em vista as vistas de nossas visitas...é um daqueles dias que as coisas que planejei certinho não dão certo, que as coisas de que lhe falei que estão encalacradas em mim me fazem sentir náuseas, nauseabundo seria a palavras certa, mas me recuso a usar palavras certas nessa hora...doutor...é um daqueles dias que começa como se não estivesse com nada e termina como se não estivesse com nada...me entende, estou sendo clara, mesmo á essa hora da madrugada...doutor, nesses dias como já deveria saber, eu não sei o que se passa na cabeça das pessoas, a comunicação que eu nem tento estabelecer fica complicada e não sei mais o que fazer...tudo bem, eu nunca sei, mas hoje foi diferente, eu acordei como se soubesse, doutor, hoje como quem não quer nada o dia era pra ser diferente...mas já não sei se há diferença...doutor minhas mãos já estão dormentes de segurar essa cadeira e respirar fundo está me deixando tonta!...doutor eu não posso mais...talvez se não estivesse pagando tão caro pelas consultas eu até sentisse muito...doutor eu estou banhada de suor...doutor seu telefone vai tocar...eu não pude aguentar...o seu telefone doutor...doutor...seu telefone já está tocando...doutor...o senhor não está dormindo...doutor nós dois sabemos, e nessa hora existe sim um nós dois...ah, doutor, sabemos que tenho todo tempo do mundo...já está feito...vou lhe telefonar...
eu me cansei até de você que jurei nunca mais me cansar...jurei de pés juntos e tudo mais...cansei de olhar e não ver, cansei sem parar...e não pude resistir, o gosto amargo que fica depois de tudo, eu nem ao menos tentei resistir, eu não resisti...perdi a minha paciência num jogo de paciência que dizia na legenda "fácil", me perdi, já não sabia o que me valia aquele jogo...parei de jogar com o jogo na metade...o gosto amargo, teimo em não lembrar, memória fresca que me lembra o gosto amargo de tentar não se lembrar...hoje talvez não seja um bom dia para ouvir músicas, talvez menos ainda para tentar compor...hoje talvez não seja nem ao menos um dia...penso ainda na letra que fala do costume besta da mulher fraca que chora num canto de uma sala vazia...penso ainda mais uma vez em quem escreveu aquela letra, poderia ter sido eu num dia de fúria, naqueles que juro nunca mais chorar em cantos de salas vazias...choro quieta por horas nos cantos das que são intensamente mobiliadas, seria justo chorar na casa cor...seria não fosse apenas a letra de uma música frouxa de rádio am...rádio que nunca pega direito, música que ninguém pede e mesmo assim o locutor nunca toca...ela me dizia que acha aquilo tudo muito triste...eu pensava se acha realmente tudo muito triste ou se só acha que acha triste...me perdia diversas vezes, vermelhava o rosto! perdida em pensamento sem saber o que achava....me perdia...e noutro dia, farta de tanto prometer a mim mesma as coisas que já sabia que nunca poderia sequer prometer...neste dia, ainda chorei baixinho mais uma vez ouvindo aquela música que eu tinha certeza que era de minha composição e você tinha certeza que não...odiava quando a vida se resumia a um dia assim...cantarolava baixinho a canção, na mesma altura do chorinho de canto de sala mobiliada...cantarolava em seu ouvido enquanto dormia e dizia no fim que era de minha autoria...que sabe um dia...era o que você me dizia na hora em que abria os olhos na manhã seguinte e meio que sorria, mas isso eu já sabia que não era pra mim...aquele meu grito era sim! uma prova de amor...pena eu nunca ter podido provar isso á você...mas era sim...não, não é da noite pro dia que essas coisas se alojam no peito...nunca será...e esse nunca tem o peso daquele nunca das minhas letras de música que nunca serão minhas...é deste nunca que eu falo agora...e mais uma vez ela repetiu "são bem tristes"...e meus olhos chegaram a lacrimejar....ah, mas se os seus estivessem abertos como pareciam estar...os meus lacrimejaram sabia?...eram lágrimas que eu acreditava serem de verdade, mas que verdade é essa que muda a cada moda, a cada estação...nem as meias verdades estão mais em foco, mas as minhas lágrimas "demodês" eram de verdade, uma verdades das antigas...guardei num armário e tirei para pôr no sol esses dias, resolvi usá-la naquele dia...eram verdades verdadeiras..."donde eu penso"...acho que eu tenho certeza que era exatamente isso, se não me engano totalmente, ou se não estou totalmente enganada...mas também eram tantas letras que eu jamais saberia que inventei justo aquela que já havia sido inventada...na próxima vez pouparei tempo e lágrimas de canto e copiarei a mão mesmo letra por letra da letra toda...na próxima vez, pois esta vez ainda é esta e vou experimentar escrever uma letra de música que conte a vida de uma mulher, apenas uma mulher que de besta que é chora em um canto de uma sala sem mobilia...nada mais...

covil...

tem dias em que eu me sinto como uma cobra...que rasteja lânguidamente pela floresta à procura de calor...e ao encontrá-lo mente sobre seu tamanho para impressionar, hipnotiza e dá seu bote...tem dias que eu me sinto como cobra que rasteja a procura de uma presa, algo que pulsa, do sangue quente que não corre em minhas veias...esses dias tem sido bem comuns pra mim...

quarta-feira, 2 de julho de 2008

caqui...

ela era assim...tal uma árvore de caqui, fiquei anos ali parada observando seus jeitos, seus modos, suas falas várias vezes por muitos anos...e chegado o fim , pude lhe dizer, como árvore de caqui...brotada em meio a terreno fértil, gostava de sol, era jovem, passou por secas, se adaptou, passou por chuvas e se garantiu...era tal um árvore, mas não qualquer uma delas, uma das de caqui...ficou vistosa e começou a produzir seus frutos...era isso o que dizia, frutos...eram grandes, eram verdes, eram indigesto...eram frutos do tempo...precisavam dele para se tornassem amistosos...precisavam de tempo para alaranjar, eram palavras adstringentes, precisavam ser adoçadas por alguém que bem o faz...e em algum tempo (e sol) eram doces suas palavras, ficavam amolecidas e tornavam-se atrativas a quem pudesse olhar...fazia pássaros cantarem mais altos em dias assim...fazia o sol querer brilhar mais forte...fazia...e depois dessa leva de doces alaranjados, se recolhia...esfriava junto ao tempo-clima que lhe mandava, escurecia, morria aos poucas dia após dia, queda após queda de cada uma de suas agora escuras folhas...achava que não sobreviveria...passava meses nessa solidão nua...ali nasceu, ali ficava...já não mais esperava por dias claros...já não mais esperava por nada...e sentia um formigamento nas pontas e ardiam os olhos nessa época...e vinha verde claro o que lhe nascia...e vinha...e novamente era vida...e novamente respirava e outro ciclo se seguia...encontrava as adstringências que logo se adoçavam...e era assim aquela sua vida...tal qual caquizeiro...e era assim que via as coisas, por meio de um verão e um inverno inteiro...