sexta-feira, 16 de maio de 2014

Meter os pés pelas mãos


Você já meteu os pés pelas mãos?



 

Eis uma máxima que eu sinto todos os dias da minha vida. Sou perita em meter os pés pelas mãos. Do contra, sabe?

Sempre tenho a impressão, depois de passado algum tempo de acontecimentos importantes da minha vida, que eu poderia ter feito diferente. Sempre me vi trocando as bolas... Fazendo uma coisa e depois me arrependendo. Sou impulsiva. E isso faz com que ao invés de pensar e agir, eu primeiro aja e depois pense. 

Tarde demais...

Então vivo com a sensação de estar fazendo as coisas ao contrário. E me punindo por ser assim.
Outra máxima em minha vida é a de pensar. Ainda que tardiamente. Mas sempre reflito a respeito das coisas que me incomodam. Sempre penso o porquê disso ou daquilo. Preciso chegar a conclusões...
E nessa de pensar em meter os pés pelas mãos, acabei chegando a uma conclusão que me agradou e abrandou essa minha culpa de fazer tudo ao contrário.

Uma pequena história...

Sou a terceira filha. Minha mãe, gravida de mim, achava que eu seria um menino, devido ao fato d'eu mexer muito, chutar o dia inteiro e ainda por cima os exames pré-natais serem bastante escassos. Fomos para maternidade, 13 dias atrasadas, eu e minha mãe, que neste momento me chamava de Douglas. E depois de algum esforço e todos perceberem que por conta própria eu não iria nascer, realizaram uma cesariana. O que me salvou, pois descobriram lá pelas tantas da cirurgia, que eu estava sentada e com o cordão umbilical duas vezes enrolado no pescoço. (Olha o esforço de parecer feminina, um colar... E com duas voltas!!)
Eu nasci metendo os pés pelas mãos! Eis a grande explicação. Sou do contra mesmo! E não tem nenhum erro nisto. Sou uma pessoa que ao invés de fazer o que todos fazem, resolveu fazer diferente, inclusive na hora de nascer. E certamente isso me marcou de maneira bastante profunda. Não que eu entenda o que significa. Acho que esse entendimento é ainda mais profundo. A escolha de um bebê em ficar sentado. Essa movimentação intra uterina tão grande a ponto de dar duas voltas no cordão. Isso tudo ainda é obscuro e acredito que serão necessários outros meios para entender.

Mas o fato é que já nasci assim. De ponta cabeça. Ao invés de mostrar ao mundo cabeça e mãos, mostrei 
os pés e a bunda. Não há como mudar. E nem seria preciso. Nem todos são iguais. E respeitar a desigualdade é como deveria ser. Mesmo sendo esta a maior dificuldade do ser humano, RESPEITAR A DESIGUALDADE!

Então hoje, quando meto os pés pelas mãos... Fico menos, muito menos chateada. Não há com que se preocupar. Se existem aqueles que metem as mãos pelos pés, eu meto os pés pelas mãos e não devo estar sozinha neste mundo...

terça-feira, 6 de maio de 2014

dá pra confiar em quem não tem capacho na porta de casa?


Seria uma maneira gentil de convidar a entrar... Ou seria uma maneira discreta de bloquear, protelar ou barrar a entrada?

Sempre achei que capacho era um acessório indelével de uma casa ou apartamento. Sempre que pensei numa porta, via o capacho como um apêndice. Mas depois que me mudei algumas vezes, acabei notando aqui e ali, que várias pessoas não tem capacho na porta de casa. 

Você tem um capacho na porta da sua casa?

Eu não só tenho, como gasto um bom tempo procurando o capacho ideal para minha porta. Para mim, ele não pode ser só um tapetinho. Acho que um capacho tem que ter graça, tem que ter praticidade, tem que ter alegria, fazer com que as pessoas que vem a minha casa se sintam bem vindas, sem necessariamente ter essas palavras escritas nele. O capacho tem que limpar os pés de lama, poeira e qualquer outra sujeira. Tem que ser diferente de todos os outros capachos do prédio. Enfim... Tem que ser só tudo isso.

E então, quando eu não vejo um capacho na porta de alguém, logo imagino que não exista ninguém morando ali, imagino que o imóvel esteja vago, esperando por alguém e por conseguinte, um capacho. 

Mas nas minhas idas e vindas, notei que algumas casas ou apartamentos não tinham capachos, mas tinham gente! Gente morando, gente entrando e gente saindo. E então ficava esperando... Eles devem ter acabado de se mudar. Logo comprarão o capacho. Logo chegará a mudança e o capacho também. Logo...
E passavam um tempo e nada de chegar o tal capacho. E depois de algum tempo comecei a atinar a ideia de que certas pessoas não tem capacho!

Sim.

Elas não tem nada que separe a rua da casa delas. Elas chegam em casa e entram. Simples assim. 

E comecei a pensar em mim. Será que dá pra viver sem ter capacho? Parece bobo, mas talvez não seja tão bobo assim. Tudo nesta vida pode ser metaforizado. Desde as coisas mais complexas, até os capachos. E para mim ficou a pergunta: Dá para confiar em alguém que não tem capacho?

E com essa pergunta acabei percebendo. Tenho uma mania de limpeza, de manter as coisas de fora, do lado de fora e talvez o capacho seja meu mecanismo de proteção. Seja minha maneira de criar uma barreira entre o que está dentro e o que está fora. Talvez seja uma maneira de deixar as coisas de dentro protegidas...

E quando penso que existem pessoas no mundo que não tem capacho, fico pensando que elas não tem essa barreira. Que qualquer coisa pode entrar, sujar e ficar. 

Não sei...

Depois de pensar sobre isso, falei com alguém sobre essa minha mania por capachos. E ela me falou, assim, simples e praticamente: Já passou pela sua cabeça que ter capacho não muda nada? Existem pessoas que passam direto pelo seu capacho e sequer esfregam os pés nele. Acho que se você perguntar para a maioria das pessoas, elas não vão nem saber que tem um capacho na sua porta...

Talvez seja assim mesmo. Mas talvez a gente deva fazer as coisas para gente e não para os outros. Talvez o capacho seja para os meus pés e mais ninguém...

Talvez.