sexta-feira, 21 de novembro de 2014

RESPIRA. inspira.

era uma vez.

Uma vez e um lugar. Desses lugares que são cheios de história. Carregados de emoção. Mas principalmente e incontavelmente repletos de coisinhas. Coisinhas grandes e coisonas pequenas. 

Eis a casa de Jorge e Zélia.

Com nome de Casa do Rio Vermelho. Vermelho sangue. Que pulsa. Que corre. Que irriga. Que preenche. Que torna vivo.

Na minha imaginação, antes mesmo de chegar, já tinha construído uma outra casa. Cheia de sentimento e emoção. Cheia de afeto e que me trazia lágrimas só de imaginar. Pisar o mesmo chão, entrar no mesmo lugar, ver a máquina que deveria ter as teclas gastas de tantas batidas necessárias. Na minha grande e farta imaginação já havia deixado tudo preparado para as lágrimas e arrepios que certamente iriam me tomar ao chegar.

Mas a realidade sempre tem cores diferentes do que as da imaginação.

Ao chegar ao lugar tudo era diferentemente familiar. Houve um estranhamento necessário. Houve um "eu não sou daqui... eu não tenho amô...". Subir aquelas escadas não me levou até ele. Não senti nada arrepiar. Foi estranho. Foi meio vazio.

Mas era uma casa museu. Se faz preciso visitar, entrar, escarafunchar. 

E ao botar o pé pra dentro do hall de entrada, ao ver o jardim pela janela, embarguei. Estava ali a minha emoção. Muito distante do autor. Mas perto de mim. 

Jorge era de Ilhéus, no sul da Bahia. Meu avô era de Ilhéus. Talvez fossem contemporâneos. E foi nisso que me senti tocada. Pela minha familiaridade. E ao caminhar pela casa dele, senti minha. Nada muito grande não, tudo bem pequeno, bem por dentro. Nada de rios de lágrimas, sentimentos e sensações. Só uma lembrança doce e distante. 

Então passei por tudo. Vi tudo. E tive muitos entendimentos. Não tanto como pessoa humana, mas sim como escritora.(doce ilusão...rsrsrs) Muitos sentidos sobre o fazer do escritor. Esse dia a dia que poucos conseguem imaginar. Essa artesanalidade toda que escrever requer.

As coisas dos lugares que visitou. As coisinhas da Zélia, todas tão caprichadas e cheias de sentimento e sentido. E de como se faz para carregar o mundo no bolso. Uma casa pode sim ser o MUNDO INTEIRO. Assim como eu sempre achei que fosse. E por fim percebi de quantos mundos um escritor é feito. Dos que existem. Dos que ele cria. Dos que ele cria mas não descreve. Dos que escreve. E dos que ele copia.

E quase indo. Já com um pé na porta de saída. Me flagrei do entendimento mais bonito que poderia ter. Assim, meio de revesgueio. Jorge era advogado e escritor. Era curioso e questionador. Tinha uma cara séria quando escrevia e não olhava muito para as pessoas quando elas faziam fotografias dele. Zélia era escritora, mulher e fotógrafa. Eles eram o amor. Desses de que tanto se especula e se escreve. Ao entrar na casa deles, lugar em que viveram muitos momentos e que por fim escolheram para se eternizar. Ao entrar ali, minhas expectativas me impediram de ver o que precisava ver. Mas depois de descarregar o peito (que estava agoniado quando eu cheguei) e percorrer os caminhos que o amor um dia fez com pés humanos e agora faz com outras coisinhas... E por fim ao terminar e já estar quase de saída... Ouvi um áudio sobre a eleição de Zélia para a Academia Brasileira de Letras, na cadeira que o marido ocupou por mais de vinte anos. E na hora questionei com toda minha fúria feminista-não-conformista-questionadora: É justo? Por um acaso é justo que ela tenha tido que esperar a morte do marido para só então ser escolhida e reconhecida como a escritora que foi? E depois de RESPIRAR e me INSPIRAR do amor que a casa flui percebi...



Era só o que poderia acontecer. Ele era ela. E ela não era diferente. Se completavam por amor. Por se amar eram uma perfeita compleição. E só foi justo que ela e somente ela ocupasse a cadeira que pertenceu a ele, pois aquela cadeira estava impregnada dela. Da parceria visível dos dois por todos os cantos em que passaram. Das ajudas que deram um ao outro. Dos desejos concebidos, sentidos e realizados. 

Foi justo. Muito justo. E não sei se ainda verei ou viverei um amor assim. Ou já estou vivendo e vendo e não sei. As coisas de perto não são tão perceptíveis como serão depois.

Obrigada Zélia. 

Obrigada Jorge.

(hoje se sabe um pouco mais sobre o amor)



O amor é pequeno, quase não se vê a olho nú.

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Pela hora da morte.

Cem entre cem pessoas almejam saber qual o dia e hora exatos de sua morte.

Certo ou errado?



Provavelmente a maioria não gosta de admitir que gostaria de saber quando será o fim, ao menos não o seu fim... Mas sempre que converso, sempre que o assunto surge, a maioria se diz favorável a saber quanto tempo ainda resta. 

Essa agonia que compartilhamos de viver até não saber quando nos faz mais frágeis do que gostaríamos de ser. Nos faz, vez por outra, pensar se será hoje ou amanhã. Pensar se quando saímos de manhã vamos ter a oportunidade de voltar no fim do dia, sãos e salvos. É o famoso "ATÉ QUANDO?".

Eu sou uma das pessoas mais agoniadas que conheço quando o assunto é a morte. Eis um dessas negócios que não consigo compreender. (E quem consegue?) Muitos, com o passar dos anos, conseguem compreender a finitude do ser humano e começam, de morte em morte, a se acostumar com a ideia de que todos, num dia ou noutro, morrem. Não eu.

Eu sou dessas que acham absurdo estar aqui e agora e daqui a pouco não estar mais. Dessas que acham que as conversas que ficaram no ar tem o direito de serem terminadas. Que os assuntos pedentes tem o direito de serem resolvidos. Que todos tem o direito de ir e pode voltar. Que aquela sobremesa que você deixou para comer na volta do trabalho deve e pode ser comida sim!

A coisa toda de não existir mais me pega bem aqui no meio do peito. É uma especie de falta de ar, ainda que esteja respirando. Uma coisa esquisita, por assim dizer. Assim como é morrer. 

Então um coração que estava batendo, por algum motivo, para de bater. Então um pulmão cheio de ar se esvazia e não pode mais respirar. Uma bílis, um muco, uma saliva, uma palavra. Tudo interrompido. Tudo findo.

E aquela blusa com etiqueta não será usada. A bala não será chupada. O copo de vinho não será bebido. O  beijo não será dado. Não por quem esperava fazê-lo. Talvez por outro alguém.

E a cada dia que passa acho mais e mais absurdo este negócio de morrer e fico tentando achar coerência no incoerente. Achando motivo para morrer, por exemplo. Porque já não dá mais. Porque as coisas estão se acabando. Porque o mundo também vai acabar. (vai??) E até o clássico: PORQUE NINGUÉM FICA PARA SEMENTE.

E essa semana fui surpreendida com uma noticia que me deu uma luz nesta tremenda escuridão que me parece morrer. 

A moça descobriu uma doença grave. A moça não quer sofrer e não quer fazer sofrer. A moça pressente que não haverá saída. A moça escolhe um dia para morrer. 

Não, ela não vai se suicidar. Diriam uns.

Não, ela não tem esse direito. Diriam outros. 

Não, pode acontecer um milagre e não está tudo realmente perdido. Diriam terceiros. 

Sempre rola um DEUS DÁ A VIDA E SOMENTE DEUS PODE TIRÁ-LA.

Essa não será a questão desta questão.

A moça escolheu o dia em que vai morrer. E escolher me parece agora uma escolha um tanto equivocada. Já que escolha cai bem quando se tem como escolher. Algo como entre azul e rosa. Entre gelado ou quente. Entre isso ou aquilo. Mas entre viver e morrer, num dia especifico, não me parece combinar com a palavra escolher. E nem sei se existem opções nessas situações. 

O caso é que ela definiu uma data limite. Uma data que talvez tenha sido significativa para ela. Ou talvez não. Definiu que a partir do dia tal, de tal mês e tal ano, sabe-se lá se em algum horário pré-determinado, não estaria mais no mundo. Que sua vida tinha prazo de validade. Começo, meio e fim. 

Eu quero. Mas não consigo. Não consigo imaginar um sofrimento maior. Mas ela certamente conseguiu imaginar. Sua doença se alastrando. A dor. Os infinitos tratamentos que por fim não tratam. Os olhos de quem tanto amou vendo o fim e sem poder ou saber o que fazer. Ela sim. Eu não.

Mas depois de ter ficado dias pensando sobre isso. Depois de saber então que alguém sabia o dia da sua morte. Não um dia em que a pessoa acordou desesperada e resolveu se matar. Não o dia em que foi atravessar a rua e não viu o carro. O dia em que teve um ataque cardíaco. Não exatamente. Mas um dia em que sabia que seria o último. LAST DAY. Nada para fazer amanhã de manhã. Nada para fazer além de morrer. Morrer enquanto ainda se pode fazer isso. Assim. 

Acordar naquele dia e saber que depois dele você não poderia mais caminhar por rua qualquer. Saber que no dia seguinte você não vai mais comer. Falar. Sair. Viver. Existir. Sabe como? Saber qual é o dia, aquele dia que vai acontecer para todas as pessoas do mundo. Inclusive para você. Mas saber o que a maioria das pessoas não sabe, que dia vai perecer. Mas você sabe.

(agora me parece existir uma agonia maior do que a de não saber)

(ou não)


É um texto sem conclusão nenhuma. No dia em que ela marcou para morrer, morreu. Mesmo que tenham espalhado boatos de que havia se arrependido, de que estava bem e queria aproveitar um pouco mais. Um pouco muito, talvez... Passei dias pensando e esse pensamento ainda não se concluiu. E nem sei se algum dia irá acontecer... Mas sei que ela escolheu o dia do fim. Ela pôs fim a agonia diária da qual a maioria nem se lembra, no meio de tanto trânsito e café com leite e outras coisas tão-tão mais importantes. E talvez seja mesmo assim que as coisas funcionem. Já que não se sabe quando, que seja assim: Se perder por um infinito de bobagens tão boas, sem se preocupar com um fim que já está entre nós, numa esquina, num avião, num caroço de azeitona ou num colesterol. E quem sabe perto do fim descobrir o que ela já sabe. E nós não.

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

WTF?

Lá por certa altura do campeonato, a maioria das pessoas faz sexo e todas elas sabem do que se trata.

É ou não é?



Não se trata de algo misterioso ou enigmático como morrer, por exemplo.

É claro que dá pra morrer fazendo sexo, em todos os sentidos. Se é que me entende... Me entende, não é? 
Existe sexo das mais variadas formas e sabores. Assim ou assado. Por cima ou por baixo. Na frente ou atrás.

Mas não é sobre isso que eu quero falar...

Quero falar sobre o que não se fala. Não sobre os tabus ou sexo com as mais estranhas formas de vida. Quero falar sobre o fato de não se falar sobre sexo e sobre a palavra sexo ser pior do que colocar cianeto na boca. Sobre essa mania feia que temos de usar essa ou aquela palavra para não ter que falar essa ou aquela palavra considerada feia, tabu, falta de educação ou civilidade.

DESCULPA...

Mas eu falo sexo, transar, trepar.


Falo sim e não acho que eu seja uma pessoa melhor ou pior só por isso. Se a palavra existe, qual o motivo de ignorá-la?

Talvez o motivo seja justo este... Ignorar!

Ignorar o fato de que pessoas adultas (ou nem tanto...) fazem sexo, transam umas com as outras, pensam em sexo, sentem sua sexualidade todos os dias ou em dias de calor. Deixar de falar sexo não faz com que o sexo não exista. E ficar infantilizando com palavras toscas só para ser "educado" faz de nós pessoas piores.

No meu antigo prédio as paredes eram finas. Escutávamos os vizinhos esquentando comida no micro. descarga e o xixi. Os saltos altos. As músicas altas. A televisão. A abertura de toda e qualquer porta. E O SEXO!!
Sim. Todas as vezes que nossos saudáveis e extremamente normais vizinhos faziam sexo nós ouvíamos seus gritos, gemidos e afins. Assim como todas as vezes que eu fiz sexo alguem deve ter ouvido também. Tudo dentro da normalidade dessas grandes cidades com seus apartamento feitos de casca de ovo.
E no dia da reunião de condomínio, quando as pessoas começaram a falar sobre os problemas do prédio, as coisas que os incomodavam e tal... Uma vizinha reclamou que quando os seus vizinhos de cima "namoravam" (e riu com uma vergonha enorme) ela escutava tudo e não conseguia dormir...

Oi?

Eu namoro.
Tu namoras.

Cada um namora do seu jeito. 

Sendo que meu conceito sobre namoro inclui passear de mãos dadas, o que imagino que não fazer nenhum barulho, assistir filme está na minha lista, comer um jantarzinho com vinho, ficar sem fazer nada olhando para o namorado e sexo!! Sim, namorar também corresponde a fazer sexo, mas fazer sexo não corresponde necessariamente a namorar!!

Então quando eu falei sexo na reunião de condomínio, fui taxada como a desbocada sem vergonha safada da reunião. Que se lixem... Não estou preocupada com o visão que você tem de mim. Estou preocupada com o que eu acho sobre a vida, o mundo e outros detalhes... Talvez se falássemos mais a palavra sexo e sobre sexo o mundo seria um lugar melhor...

Eis o que eu acho!

Eu falo sexo... E você??

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

O AMOR!

O mais correto é que eu tivesse um gato. Um gato de qualquer raça, sem raça, de qualquer cor, com alguma cor. E no dia em que ele chegasse em minha casa, eu olhasse para ele e o chamasse de Amor. 
O certo é que ele, como gratidão por ter um nome do qual poderá se orgulhar, ronronasse para mim.



Seria perfeito.

Eu chegaria em casa no horário de costume ou fora dele e o Amor estaria me esperando. O Amor faria questão de falar comigo. Seria seu costume também ilhar-se entre as minhas pernas cansadas de mais um dia comum. Seria como sentir o Amor na própria pele. 

E então eu levaria o Amor para passear. Ensinaria a ele as coisas que eu sei. E em troca receberia Amor. Passaria a mão no Amor por horas e isso seria o mais próximo da felicidade que nós dois conseguiríamos chegar. 

Eu seria grata ao Amor por tudo e ele saberia disso só pelo olhar.

O certo é que eu soubesse do que o Amor gosta, qual seu carinho preferido, qual sua comida favorita, seu programa de televisão de domingo, qual sua flor mais perfumada, qual a cor dos seus olhos no escuro e que no fim tudo isso não fosse nada perto do Amor recebido.

O certo é que eu soubesse que o Amor estaria sempre lá. Haja o que houver, eu diria. E ele Amor. Que os anos passassem sem deixar seus rastros vertiginosos. Que continuássemos ao inés de parar. Que escolhêssemos ser Amor.

O mais certo é que o Amor ronronaria para mim todos os dias. E sentaríamos no sofá para não fazer nada além de calor. Nada além de eu e o Amor com um mundo dentro.

Talvez algum dia o Amor olhasse pela janela e visse que há um mundo de possibilidades do lado de lá. Se arriscasse. Arriscasse tudo por uma noite. Talvez ao chegar em casa e me dar conta de que o Amor não estivesse lá para me receber, eu só conseguisse sentar no sofá e chorar. Chorar por horas ou meses. 

Mas certamente no dia seguinte o Amor voltaria. Pularia na sacada sem fazer barulho (O Amor não é barulhento!) e eu me assustaria gostosamente por ver o Amor aos meus pés novamente. Certamente eu faria uma cara de arrogância e desprezo, e logo em seguida soltaria um gemido de alegria ao colocar o Amor de barriga para cima em meu colo e acariciar-lhe-ia a pança macia.

O certo é que eu me esquecesse de tudo o que passei e acolhesse o Amor de braços aberto. Mesmo que um vez ou outra ele resolvesse sair novamente. Mesmo que demorasse dois dias ou mais para voltar e que a preocupação fosse uma constante em meu peito.

O certo é que eu sempre confie no Amor. Esteja ele lá ou não. 

O mais correto nesta vida ou em outras que virão é que eu tenha um gato.

Que ao olhar em seus olhos miúdos e molhados eu sinta o desejo de chamá-lo de AMOR.

Que o Amor e seus pelos macios invadam minha vida. Que mesmo com as pulgas advindas do Amor eu não me queixe jamais. Não me queixe de ter o Amor por perto. Mesmo depois de uma noite de matança e coceira... Que eu aceite um sofá rasgado pelo Amor, um vaso quebrado ou umas penas espalhadas por algum lugar que não devia.

O certo mesmo é chamá-lo de Amor.

Mesmo que um dia o Amor não esteja mais lá.

Mesmo sabendo que certeza não há...

HÁ-MOR!

segunda-feira, 7 de julho de 2014

uma decepção vale mais do que 1000 alegrias?

Você já percebeu?


Já se tocou, no decorrer da sua vida, quantas vezes se lamentou e quantas sorriu?

E nas lamentações... Lembra por quanto tempo sofreu?

Certamente sim.

Se fizermos uma recordação apurada, veremos que quando sofremos ou nos decepcionamos, passamos muito mais tempo reclamando e nos lamentando do que quando somos felizes. Felicidade é sentimento fugaz e sofrimento duradouro.

Percebe?

Normalmente quando queremos alguma coisa e não conseguimos, ou demoramos um certo tempo para conseguir, os lamentos são eternos. Mas, em contra partida, se conseguimos alguma coisa que talvez nem desejávamos, logo esquecemos.
Eis uma mania. Algo que deveria mudar, mas parece tão enraizado em nosso ser que fazemos o tempo todo, sem querer ou sem perceber.

Não sei se é uma coisa que podemos mudar, talvez já esteja instalado em nós o software da reclamação... Mas que tal, daqui para frente, inverter a situação? Vamos nos exercitar! Reclamar apenas uma vez por cada mau agouro e ficar feliz pelas coisas boinhas por horas, dias e quem sabe até meses.

 E então quando te perguntarem sobre a sua vida, conte como encontrou o que procurava em um só click, como o céu tem ficado mais dias azul do que encoberto, de como as coisas tem sido boas para você!

E por fim perceberemos que as coisas ruins continuam acontecendo na mesma proporção que sempre aconteceram, mas que em contra partida, as coisas boas também estão por ai... Nos lugares certos e nas horas mais do que certas!

Enjoy!!

sexta-feira, 27 de junho de 2014

Ser ou não ser?

Qual a diferença entre ser bom e ser bobo?

Quantas vezes é possível perdoar a mesma pessoa?

Eis a questão...



Sempre me pergunto se estou sendo boa ou se estou sendo boba. Você já teve essa sensação? De estar sendo tão boa que pode ser que esteja sendo feita de boba. E muitas vezes, sendo feita de boba por você mesma...

Perdoar é uma das coisas mais difíceis de se fazer. Porque só perdoar é fácil... Quero ver perdoar, esquecer e continuar como se nada tivesse acontecido. E está ai a chave do meu problema. O tal do "como se nada tivesse acontecido". Uma vez ouvi um senhor falar que os relacionamentos, qualquer um deles, são como cristais, uma vez que você derruba, não são mais os mesmos, criam marcas que não poderão ser apagadas. E sempre penso nisso quando preciso praticar o perdão. Perdoar... Mas e as marcas?

Sempre que alguém me faz alguma coisa ruim, cria em mim uma arranhadura. Meu desejo é o de perdoar, mas e o que fazer com aquela marca? Sempre que olhar para ela, saberei porque ela está ali. Como esquecer?

E então fico pensando...Quantas vezes é possível perdoar uma mesma pessoa? Pelo mesmo erro? Por erros diferentes?  

A pessoa comete um erro. Ok.

Eu erro.
Tu erras. 
Todos nós erramos.

Digamos que na primeira você perdoa e volta a conviver como se nada tivesse acontecido. Mas você e a pessoa sabem que aquilo que a pessoa fez te magoou. Tudo bem... Assim como ela te magoou por algum erro, você também deve tê-la magoado em algum momento. Vocês decidem ir em frente. Mas então a pessoa te magoa novamente. E novamente.  E again. E você continua perdoando e ela continua fazendo, já que você acredita que você também está caminhando e errando e seguindo a canção.

Mas e se a pessoa faz a mesma coisa sempre. Sempre te magoa, sempre vê que você fica magoado com tal atitude e continua fazendo. Qual é o limite entre ser boa e ser boba?

Pois não basta dizer um basta. Não basta dizer que não quer mais ser ferido. Se você continuar tendo esta relação, tenho a impressão que isso se repetirá, a pessoa te magoando e você se sentindo magoado. E se você resolver dar um basta e cortar a pessoa da sua vida, não terá mais a convivência com essa pessoa, o que pode causar grandes feridas...

Difícil né?

Deve ser assim mesmo, caso à caso. Decidindo a cada mágoa o que fazer... Colocando cada coisa em seu devido lugar. 
Acho que cada relação é reflexo de uma construção, sua e do outro. Acredito que existem aquelas pelas quais vale a pena lutar e outras que devemos abandonar para poder voltar a andar.
E cada mágoa terá seu peso, seu risco e seu rabisco em nossa vida.

Vida é assim mesmo.
Cada dia de uma vez... 
E nada mais.


segunda-feira, 16 de junho de 2014

Onde mora o seu desejo?




Uns tem o desejo morando na sola do pé. Outros bem no meio da cara, estampado. Tem aqueles cujo desejo mora na virilha, nas partes íntimas, no meio das coxas. Tem gente que o desejo mora no corpo inteiro. E ainda tem aqueles que o desejo é transitório, mora cada hora em um lugar diferente e nunca se sabe bem ao certo onde estará, sabe-se somente que estará.

E agora eu lhe pergunto: Tem coisa mais esquisita do que lidar com o desejo do outro?

Quando acontece ao mesmo tempo, tudo bem! Um olha o desejo do outro e reconhece no outro desejo o próprio. Tudo se facilita. Tudo se comunica. Tudo se ajusta e fica.

Mas quando o desejo é desencontrado? Do idoso pela menina. Da professora pelo aluno. Do pai pela filha.

É quando tudo se complica. Quando se nota o desencontro. Quando o desejo bate e não tem nada que venha de encontro. 

Pois desejo não se explica. Pode ser por um pedaço de corpo. De carne. De doce. De céu. De vida. De tudo. De tão pouco. Desejo não se explica. 

Se sente. Se sente muito. Se sente pouco. Mas sente...

E então vem a repressão. A dor contida de um desejo correndo no próprio corpo sem ter saída. Dor de sentir sem poder. Sem poder não sentir. A dor de ter que esperar passar. De ter que fechar os olhos. Os poros. Fechar o corpo todo para não desejar. 

Eu acho o desejo uma coisa ardida. Queimante. Sabe? 

Uma dessas coisas das quais somos feitos, mas que não podemos controlar.

Você controla o seu desejo?

E volta e meia nos deparamos com ele. Numa face meio retorcida. Num sorriso de canto. Num dedão do pé erguido. Num pele que se eriça. 

Volta e meia no deparamos com um desejo perdido, andando por ai, sem saber onde é que vai parar...

Desejar é tiro no escuro, ninguém sabe. É como andar de olhos fechados. É como se jogar. 

E quem reprime seu desejo, fica assim, meio morto. Meio sem viver, vivendo. Fica assim, procurando no outro um defeito, um desejo e reclamando de tudo que possa reclamar. 

Coisa triste essa de desejo, não é? 

Mas experimente desejar. Seja uma roupa, uma comida, um dia de sol, seja o que for... Experimente e vai saber do que estou falando... Não há nada neste mundo tão bonito e cruel como desejar...

E em tempo... Te desejo uma semana bem desejada ou desejosa... Enfim... Te deseo!


quinta-feira, 12 de junho de 2014

love - amor - amour - liebe



eu tenho aqui dentro um desejo
uma fome
uma sede
um beijo
não.
isso não vai passar
como passa o tempo
isso é raiz
é chão
e é sentimento
isso não vai passar tão tarde
nem tão cedo
eu tenho aqui dentro um medo
um olho
pão e queijo
e isso não vai passar
nem pra fora
nem pra mais dentro
vai ficar estufando o peito
vai ficar mascando
secando e molhando
ao mesmo tempo
não vai passar
eu tenho medo

quarta-feira, 11 de junho de 2014

Quando eu era criança...




Desde pequena minha família sempre gostou muito de televisão. E por gostar de televisão, gostávamos muito de tudo que nos motivasse a assisti-la. Sendo assim, campeonatos, programas de auditório e novelas eram os preferidos. E acredito que minha família seguia o padrão nacional das família de classe media (bem média!).
E então me lembro que desde sempre torci para todas as copas do mundo e para os campeonatos de fórmula 1. 


Hoje em dia não torço mais...


Era muito legal sentar com meu pai na sala e ver o Airton Senna do Brasiiiiiil ganhar uma corrida. Ficar ali parada, umas boas horas torcendo para que ele subisse ao pódio e erguesse a taça com aquele orgulho nos olhos que só ele ( e nós que o assistíamos religiosamente...) tinha. E depois quase sentir as gotas de champagne em nossa cara. Uma alegria e uma felicidade imensas. Mas então ele morreu. Morreu na nossa frente, num dia que deveria ser de exaltação e que se transformou, por fim, num dia muito-muito triste. Me lembro até hoje de ter um momento de esperança, enquanto o carro ainda estava lá, todo estatelado. Me lembro de ter juntado as mãos e rezado um pouco para que nada tivesse acontecido. E me lembro de ficar grudada na televisão, esperando por alguma noticia, que por fim veio e não agradou. Fiquei com vergonha de chorar por um cara que eu nem conhecia pessoalmente, mas fui encorajada por meu pai, que já chorava quando me olhou... Ele havia morrido. Morrido na nossa frente. E nunca mais consegui torcer na Fórmula 1. E nem sequer assistir... Como muitos outros brasileiros.

E então só restou ver novela e futebol. Quando falo futebol quero dizer especificamente Copa do Mundo de Futebol... Assisti todas elas. Desde que pude começar a torcer, sempre torci. Sempre vesti uma roupa com as cores da nossa bandeira e fiquei na frente da televisão, com  mão no peito, cantando o hino nacional. Sempre fiquei muito feliz de não ter aula, de ser férias quando tinha copa. Feliz por estarmos todos em casa... Assistíamos na minha própria casa, na casa de parentes ou amigos ou, bem depois, no trabalho. Sempre esperei a copa como se fosse uma viagem que programava a cada quatro anos... Sempre me preparei para a copa! E me lembro muito bem que quando era criança imaginava quando a copa fosse no Brasil. A última copa "brasileira" que havia existido era muito anterior a minha existência... E eu imaginava quando é que seria uma nova copa aqui, comigo no mundo... Eu imaginava o Brasil inteiro contando os minutos e segundos... Imaginava um pais inteiro em verde e amarelo. Aquelas multidões de gente feliz e animada marchando rumo aos estádios em dias de jogos. Fossem jogos do Brasil ou não... Um clima de festa em casa! Uma preparação... Uma adesão!



E agora estamos aqui... Sem Airton, sem novela que preste e sem ânimo para a Copa... Estamos aqui com o eco do "Imagina na Copa" nos intimidando... É claro que sendo criança eu nunca imaginei as implicações e trabalhos de fazer uma Copa em casa... De ter que reformar tudo e todos, de ter que investir um dinheiro que não temos e talvez nunca tenhamos... Quando criança só imaginei a festa, a alegria e felicidade. Só... E agora fico sem saber se é a Copa ou se sou eu... Fico imaginando se quando tudo começar vou sentir aquela alegria de sempre... Vamos ver... Hoje só sei que ter uma Copa no Brasil não tem sido como eu imaginava e fico imaginando se eu é que pensei errado essa tal de copa brasileira ou se a copa está toda errada mesmo...

E você? 

Como imaginou?

Como está se sentindo?


#vaitercopa
#nãovaitercopa

sexta-feira, 16 de maio de 2014

Meter os pés pelas mãos


Você já meteu os pés pelas mãos?



 

Eis uma máxima que eu sinto todos os dias da minha vida. Sou perita em meter os pés pelas mãos. Do contra, sabe?

Sempre tenho a impressão, depois de passado algum tempo de acontecimentos importantes da minha vida, que eu poderia ter feito diferente. Sempre me vi trocando as bolas... Fazendo uma coisa e depois me arrependendo. Sou impulsiva. E isso faz com que ao invés de pensar e agir, eu primeiro aja e depois pense. 

Tarde demais...

Então vivo com a sensação de estar fazendo as coisas ao contrário. E me punindo por ser assim.
Outra máxima em minha vida é a de pensar. Ainda que tardiamente. Mas sempre reflito a respeito das coisas que me incomodam. Sempre penso o porquê disso ou daquilo. Preciso chegar a conclusões...
E nessa de pensar em meter os pés pelas mãos, acabei chegando a uma conclusão que me agradou e abrandou essa minha culpa de fazer tudo ao contrário.

Uma pequena história...

Sou a terceira filha. Minha mãe, gravida de mim, achava que eu seria um menino, devido ao fato d'eu mexer muito, chutar o dia inteiro e ainda por cima os exames pré-natais serem bastante escassos. Fomos para maternidade, 13 dias atrasadas, eu e minha mãe, que neste momento me chamava de Douglas. E depois de algum esforço e todos perceberem que por conta própria eu não iria nascer, realizaram uma cesariana. O que me salvou, pois descobriram lá pelas tantas da cirurgia, que eu estava sentada e com o cordão umbilical duas vezes enrolado no pescoço. (Olha o esforço de parecer feminina, um colar... E com duas voltas!!)
Eu nasci metendo os pés pelas mãos! Eis a grande explicação. Sou do contra mesmo! E não tem nenhum erro nisto. Sou uma pessoa que ao invés de fazer o que todos fazem, resolveu fazer diferente, inclusive na hora de nascer. E certamente isso me marcou de maneira bastante profunda. Não que eu entenda o que significa. Acho que esse entendimento é ainda mais profundo. A escolha de um bebê em ficar sentado. Essa movimentação intra uterina tão grande a ponto de dar duas voltas no cordão. Isso tudo ainda é obscuro e acredito que serão necessários outros meios para entender.

Mas o fato é que já nasci assim. De ponta cabeça. Ao invés de mostrar ao mundo cabeça e mãos, mostrei 
os pés e a bunda. Não há como mudar. E nem seria preciso. Nem todos são iguais. E respeitar a desigualdade é como deveria ser. Mesmo sendo esta a maior dificuldade do ser humano, RESPEITAR A DESIGUALDADE!

Então hoje, quando meto os pés pelas mãos... Fico menos, muito menos chateada. Não há com que se preocupar. Se existem aqueles que metem as mãos pelos pés, eu meto os pés pelas mãos e não devo estar sozinha neste mundo...

terça-feira, 6 de maio de 2014

dá pra confiar em quem não tem capacho na porta de casa?


Seria uma maneira gentil de convidar a entrar... Ou seria uma maneira discreta de bloquear, protelar ou barrar a entrada?

Sempre achei que capacho era um acessório indelével de uma casa ou apartamento. Sempre que pensei numa porta, via o capacho como um apêndice. Mas depois que me mudei algumas vezes, acabei notando aqui e ali, que várias pessoas não tem capacho na porta de casa. 

Você tem um capacho na porta da sua casa?

Eu não só tenho, como gasto um bom tempo procurando o capacho ideal para minha porta. Para mim, ele não pode ser só um tapetinho. Acho que um capacho tem que ter graça, tem que ter praticidade, tem que ter alegria, fazer com que as pessoas que vem a minha casa se sintam bem vindas, sem necessariamente ter essas palavras escritas nele. O capacho tem que limpar os pés de lama, poeira e qualquer outra sujeira. Tem que ser diferente de todos os outros capachos do prédio. Enfim... Tem que ser só tudo isso.

E então, quando eu não vejo um capacho na porta de alguém, logo imagino que não exista ninguém morando ali, imagino que o imóvel esteja vago, esperando por alguém e por conseguinte, um capacho. 

Mas nas minhas idas e vindas, notei que algumas casas ou apartamentos não tinham capachos, mas tinham gente! Gente morando, gente entrando e gente saindo. E então ficava esperando... Eles devem ter acabado de se mudar. Logo comprarão o capacho. Logo chegará a mudança e o capacho também. Logo...
E passavam um tempo e nada de chegar o tal capacho. E depois de algum tempo comecei a atinar a ideia de que certas pessoas não tem capacho!

Sim.

Elas não tem nada que separe a rua da casa delas. Elas chegam em casa e entram. Simples assim. 

E comecei a pensar em mim. Será que dá pra viver sem ter capacho? Parece bobo, mas talvez não seja tão bobo assim. Tudo nesta vida pode ser metaforizado. Desde as coisas mais complexas, até os capachos. E para mim ficou a pergunta: Dá para confiar em alguém que não tem capacho?

E com essa pergunta acabei percebendo. Tenho uma mania de limpeza, de manter as coisas de fora, do lado de fora e talvez o capacho seja meu mecanismo de proteção. Seja minha maneira de criar uma barreira entre o que está dentro e o que está fora. Talvez seja uma maneira de deixar as coisas de dentro protegidas...

E quando penso que existem pessoas no mundo que não tem capacho, fico pensando que elas não tem essa barreira. Que qualquer coisa pode entrar, sujar e ficar. 

Não sei...

Depois de pensar sobre isso, falei com alguém sobre essa minha mania por capachos. E ela me falou, assim, simples e praticamente: Já passou pela sua cabeça que ter capacho não muda nada? Existem pessoas que passam direto pelo seu capacho e sequer esfregam os pés nele. Acho que se você perguntar para a maioria das pessoas, elas não vão nem saber que tem um capacho na sua porta...

Talvez seja assim mesmo. Mas talvez a gente deva fazer as coisas para gente e não para os outros. Talvez o capacho seja para os meus pés e mais ninguém...

Talvez.

segunda-feira, 28 de abril de 2014

Que pressa é essa?


O ano nem bem começou. Ainda temos restos da ceia de Natal em nossas mentes. Mas já estamos na metade do ano. Ano este que vai passar como um foguete. Com feriados prolongados, com Copa do Mundo e o nosso corre-corre, não vamos nem perceber que 2014 chegou ao fim.

Faz tempo que tenho esta impressão, de ver o tempo correndo cada vez mais. Me parece que já podemos escrever mais um capítulo na história da evolução humana. No começo andávamos em quatro patas, evoluímos para um meio termo, que evoluiu para a forma bípede e então começamos a andar plenamente. E agora, dois mil e tantos corre-corres depois, começamos a correr. As próximas gerações não vão mais aprender a andar, passarão direto para a fase da corrida. 

E então o tempo, de quem sempre nos achamos donos, passou a ser nosso senhor. Não temos mais parada. Estamos sempre exaustos. Não conseguimos mais dar conta de nossas atribuições, cada vez maiores. É o tempo comendo o próprio tempo.

E fico pensando... De que adianta correr atrás do tempo? Quantas voltas o tempo é capaz de nos dar?

E com esses questionamentos, vem a certeza de que o tempo nos leva as horas e junto com elas a PACIÊNCIA!

Se não temos mais tempo para nada nos dias atuais, também não temos mais paciência para a maioria das coisas. Fico aqui me lembrando da minha avó. Uma mulher forte, que teve mais de dez filhos, uma escadinha trabalhosa. Fico aqui me lembrando de quando passava as férias no sítio. Dela sentada na varanda, tomando um ar. Dela e das minhas tias demorando o dia inteiro para fazer a faxina da casa. Do tempo da cera vermelha secando. Lembro do tempo que demorava para plantar, deixar crescer e colher o milho. Que depois de colhido, iria virar pamonha, bolo de milho e outras tantas gostosuras. 

PAUSA PARA RECEITA DE BOLO DE MILHO

12 espigas de milho verde
04 ovos
Açúcar
Queijo meia cura ralado
Leite
cravo da índia
canela em pó
bicarbonado de sódio
nata batida

MODO DE FAZER

Plante o milho. Deixe o solo arado, coloque a semente no sulco. Feche o buraco. Regue em abundância. Espere meses até o milho crescer e frutificar. Retire do pé. Retire da casca. Retire os cabelos do milhos com cuidado. Lave as espigas. Faça um ralador com latas vazias de azeite. Abra a lata. Pregue em duas ripas de madeira. Faça furos regulares com outro prego de maior espessura. Rale o milho. Dê os sabugos aos porcos. Busque os ovos no galinheiro, se as galinhas ainda não tiverem botado, aguarde até acontecer. Vá até o celeiro e ordenhe as vacas. Guarde parte do leite para usar no bolo. Ferva a outra parte para separar a nata. Bata a nata. Separe a parte que será utilizada para fazer o queijo. Aguarde o leite do queijo talhar. Retire o soro. Espere ele curar durante uma média de 30 dias. Misture lentamente todos os ingredientes e leve ao forno médio por 40 minutos.

Bom Apetite!!

PENSE!

Eu mesma, olhando a receita agora, já teria desistido. Teria ido até a feira, a padaria ou aquele mercadinho que vende coisas deliciosas e teria comprado o bolo pronto. Imagina só o trabalho?

NÃO!!

Não imagine o trabalho, pois ele deve ser prazeroso. Não imagine o tempo que isso iria levar. Temos todo tempo do mundo! Não imagine nada, apenas faça. Pois naquela época era assim. As mulher e homens não pensavam no tempo como nós pensamos. Não valoravam tanto cada mexida dos ponteiros do relógio. Eles tinham que fazer e faziam. Faziam as tarefas que eram necessárias para manutenção da vida. E por isso tinham tempo de pitar um cigarro de palha no vizinho. Por isso mesmo tinham tempo de receber para café-da-manhã-almoço-janta! Por isso mesmo tinha uma paciência que nós não temos  mais...

                                                                                ***


Esses dias fui fazer um pão. 
O pão já vem pronto.
É só adicionar fermento e água quente.

É só amassar e deixar crescer.

DEIXAR CRESCER LEVA TEMPO.

Meu pão ficou pequeno.
Meu pão ficou duro.
Meu pão não teve seu tempo necessário.

Eu não sei onde está a minha paciência.
Eu não sei onde está meu tempo.
Eu perco tempo pensando onde meu tempo está.

Eu ainda uso a expressão "perder tempo".




sexta-feira, 25 de abril de 2014

FELIZ POR NADA...




Volta e meia você já deve ter sentido uma felicidade que não sabe explicar de onde vem. Assim como você, muitas outras pessoas também sentem uma felicidade assim do nada...
Mas reparando bem, confirmo aquela máxima de que "FELICIDADE ALHEIA INCOMODA".

Esses dias estava na aula de hidro, e o professor, que não é nem fechado, nem aberto, começou a cantar alguns sambas com muita alegria. Sacudia os braços e dizia "...hoje eu vou tomar um porre, não me socorre, que eu tô feliz...". Num primeiro momento ele só parecia gostar da música. Num segundo momento que acompanhou outra música, ele parecia gostar muito de samba. E por fim, quando passou a aula toda rindo e cantando, deu pra ver que estava realmente feliz. 

E quando ele cantava, sorria e olhava para mim, e eu parecia me envergonhar ou ficar constrangida com aquela felicidade explicita. E então comecei a me questionar, se a felicidade dele estava realmente me incomodando ou o que é que (raios!) eu estava sentindo. Eu me incomodei com o fato de a felicidade e alegria dele me incomodar.
Mas em seguida, assim que ele sorriu para mim e fez um gesto de "sai do chão" para a menina ao lado, eu automaticamente olhei pro lado... E percebi, pelo olhar que ela me lançou, que ela também estava estranhando aquela felicidade toda. 
Foi um misto de "ufa, não sou só eu!", com um pensamento de : Porque pessoas felizes nos causam estranheza e constrangimento? Principalmente aquelas que resolvem demonstrar publicamente que estão felizes. Passei o dia inteiro com a pergunta na cabeça...

E depois de dias pensando chego a conclusão de que não estamos acostumados a ser felizes por nada. Me parece que para sermos felizes é necessário um motivo, que tem se tornado cada vez mais refinado e requintado. Para ser feliz nos dias de hoje, me parece, não basta só estar vivo e saudável, não basta ter comida e bebida, ter bons amigos, família. Não! Parece que pra ser feliz nos dias de hoje deve haver um hecatombe de alegria, proporcionado por uma viagem internacional, por um aumento substancial no salário acoplado a uma promoção para um cargo bem invejável, um carro ou apartamento caro e novo e assim por diante. 

ESTAMOS CONSUMINDO NOSSA FELICIDADE!

Estamos trocando felicidade por nada, por felicidade só se for por tudo. Estamos deixando de ser felizes, acordar felizes ou dormir felizes sem nenhum motivo. Estamos burocratizando a felicidade.


E então cada vez que alguém está feliz, estranhamos. Sentimos um certo desconforto em ver alguém sorrir sinceramente por mais de dois segundos. Alguém feliz, que canta alto por isso, acaba nos deixando sem graça, já que parece que de graça não vem nada... Nem felicidade!

terça-feira, 22 de abril de 2014

pelo direito de poder cair em paz!

Cair todo mundo cai. É quase um direito adquirido do ser humano, este de cair. Assim como o direito de poder se levantar depois. Metáforas a parte, pode acontecer com qualquer um. 



Ou não?

Essa semana tive a forte sensação de que o direito de cair nos é tirado gradativamente. Explico...
Quando você é criança tem todo o direito de cair. De cair de sono, cair de maduro, cair do alto ou do baixo. Está aprendendo, não é? 
Então você vai crescendo e começam a admitir que você caia cada vez menos. Talvez um tombo lá de vez em quando, mas que seja muito esporádico. Caso contrário você sera taxado de azarado, desastrado, desequilibrado ou bêbado. 
E anos mais tarde, quando você já dominou muitas lições em sua vida, na velhice, ai sim! Ai você é proibido de cair. Está vetado o direito de todo e qualquer idoso de cair!

Mas como assim?
É isso mesmo?
Fica decretado então, a partir de hoje, que idoso não pode cair?

Semana passada um conhecido meu caiu. Assim, de maduro mesmo. Foi pisar ali, escorregou lá e caiu! Nada muito grave. Só ralou um pouco o braço, ficou com umas dores típicas de quem cai e nada mais. Um tombinho qualquer.

Não fosse o fato dele ter 75 anos.

Eu caio.
Tu cais.
Todos nós caímos.

Mas se alguém que tem mais de 60 anos cai, está feito o drama. Está pronto o preconceito! Poderia ter morrido, diziam. Isso não é coisa que se faça, subir em escada nesta idade. Não tem juízo mesmo! Diziam todos. E eu comecei a me perguntar: Qual o problema de cair depois dos 60?

Claro que sei dos problemas de osteoporose que podem acarretar fraturas que podem nunca mais se curar. Sei que existe um diminuição em muitas pessoas da firmeza dos ossos e músculos. Sei que talvez a visão já não seja mais a mesma. Que o equilíbrio talvez se abale com mais facilidade. Claro que eu sei de tudo isso! Mas isso não acontece com todo mundo. Existem idosos, muitos deles, melhores do que muito jovem por ai. E isso é cada vez mais comum.  E digo mais... Cair faz parte. Seja com 1 ano ou com 100. Cair acontece, seja com quem quer que seja. Cair é uma das poucas certezas que temos na vida... (rs!)

O que mais me deixou sem graça, foi o fato de parecer que a pessoa caiu porque é considerada velha. De que caiu por não ter mais capacidade de fazer as coisas que sempre fez. De que caiu por não aceitar a suposta diminuição do seu tempo de vida. 

NÃO!!!



Caiu porque o chão estava liso. Caiu porque o sapato não era bom. Caiu para poder rir depois. Caiu porque tinha que cair e ponto final. 

SIM!!



A vida é feita de quedas. A vida é feita de tudo que podemos imaginar e das coisas que não podemos imaginar também. A vida é feita de começo, meio e até o fim. (fim que ninguém sabe quando é...) E não temos o direito de proibir ninguém de nada. Se caiu, pois bem, que levante e ria. Que levante e chore (de rir!). Se caiu, que levante e saiba que se pode cair a qualquer momento, em qualquer lugar e não há nada de errado nisso.

P.S. Eu também já cai, muito e em várias fases da minha vida. Espero continuar caindo sempre. E levantando cada vez, seja sozinha, seja com a ajuda de alguém. Espero poder envelhecer e fazer tudo o que eu quiser fazer. Sem que ninguém me olhe e me julgue somente pela minha idade.

MUITO MENOS PRECONCEITO.

MUITO MAIS AMOR!