segunda-feira, 22 de setembro de 2014

O AMOR!

O mais correto é que eu tivesse um gato. Um gato de qualquer raça, sem raça, de qualquer cor, com alguma cor. E no dia em que ele chegasse em minha casa, eu olhasse para ele e o chamasse de Amor. 
O certo é que ele, como gratidão por ter um nome do qual poderá se orgulhar, ronronasse para mim.



Seria perfeito.

Eu chegaria em casa no horário de costume ou fora dele e o Amor estaria me esperando. O Amor faria questão de falar comigo. Seria seu costume também ilhar-se entre as minhas pernas cansadas de mais um dia comum. Seria como sentir o Amor na própria pele. 

E então eu levaria o Amor para passear. Ensinaria a ele as coisas que eu sei. E em troca receberia Amor. Passaria a mão no Amor por horas e isso seria o mais próximo da felicidade que nós dois conseguiríamos chegar. 

Eu seria grata ao Amor por tudo e ele saberia disso só pelo olhar.

O certo é que eu soubesse do que o Amor gosta, qual seu carinho preferido, qual sua comida favorita, seu programa de televisão de domingo, qual sua flor mais perfumada, qual a cor dos seus olhos no escuro e que no fim tudo isso não fosse nada perto do Amor recebido.

O certo é que eu soubesse que o Amor estaria sempre lá. Haja o que houver, eu diria. E ele Amor. Que os anos passassem sem deixar seus rastros vertiginosos. Que continuássemos ao inés de parar. Que escolhêssemos ser Amor.

O mais certo é que o Amor ronronaria para mim todos os dias. E sentaríamos no sofá para não fazer nada além de calor. Nada além de eu e o Amor com um mundo dentro.

Talvez algum dia o Amor olhasse pela janela e visse que há um mundo de possibilidades do lado de lá. Se arriscasse. Arriscasse tudo por uma noite. Talvez ao chegar em casa e me dar conta de que o Amor não estivesse lá para me receber, eu só conseguisse sentar no sofá e chorar. Chorar por horas ou meses. 

Mas certamente no dia seguinte o Amor voltaria. Pularia na sacada sem fazer barulho (O Amor não é barulhento!) e eu me assustaria gostosamente por ver o Amor aos meus pés novamente. Certamente eu faria uma cara de arrogância e desprezo, e logo em seguida soltaria um gemido de alegria ao colocar o Amor de barriga para cima em meu colo e acariciar-lhe-ia a pança macia.

O certo é que eu me esquecesse de tudo o que passei e acolhesse o Amor de braços aberto. Mesmo que um vez ou outra ele resolvesse sair novamente. Mesmo que demorasse dois dias ou mais para voltar e que a preocupação fosse uma constante em meu peito.

O certo é que eu sempre confie no Amor. Esteja ele lá ou não. 

O mais correto nesta vida ou em outras que virão é que eu tenha um gato.

Que ao olhar em seus olhos miúdos e molhados eu sinta o desejo de chamá-lo de AMOR.

Que o Amor e seus pelos macios invadam minha vida. Que mesmo com as pulgas advindas do Amor eu não me queixe jamais. Não me queixe de ter o Amor por perto. Mesmo depois de uma noite de matança e coceira... Que eu aceite um sofá rasgado pelo Amor, um vaso quebrado ou umas penas espalhadas por algum lugar que não devia.

O certo mesmo é chamá-lo de Amor.

Mesmo que um dia o Amor não esteja mais lá.

Mesmo sabendo que certeza não há...

HÁ-MOR!

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