sábado, 27 de novembro de 2010

ctrl+d

não há verdade, não amor, não há nada que suporte uma vida onde ela não está. pois se temos boca, ouvido, cabeça e membros. pois se desde pequenos temos no peito a alegoria do coração. se funcionamos com perfeição. todos os dias, e até mesmo nos piores. se o olho se abre quando acordamos, se fecha quando dormimos e depois se fecha quando estamos acordados, quem sabe prum sonho atemporal. se escolhemos pares, vários deles como em uma loja de sapatos. sairia você somente com o esquerdo, somente com o direito, com um diferente do outro? há uma necessidade inata em mim. uma dessas que tive que ter tempo não perdido pra encontrar, pra identificar, pra saber como faz... como se vive uma vida sem saber o que há logo ali, bem na frente do seu nariz, arrebitado na ignorância de que é simples, muito mais do que se possa crer. pra que esses olhos tão grande, pra te ver, e a boca, pra te comer, te falar, te dizer, e os ouvidos pra te ouvir. caso contrário bastaria uma grande massa, um bloco móvel e ponto final. mas se temos acessórios, apetrechos tão bem elaborados, se tenho você do meu lado, na minha frente, atrás de mim. tank you man. de que adianta ter olhos pra não ver, ter boca pra não te comer, emudecer, não te ouvir, nem que seja num breve suspirar.  de que me adianta olhar e não ver, escutar e não ouvir, falar e não dizer. de que adianta tanta perfeição se a delicadeza nos falta? se nos falta saber do outro, onde doí, onde é bom. se você está ali mas não está, de que adianta verbificar? a verdade, preciosismo dos maiores, nada é se não houver em mim a delicadeza de perceber que o que é meu nem sempre lhe é pertinente. o que te adianta? de que adiantam tantas coisas se acha que aqui dentro é só sangue, comida, detritos, fluidos, ossos, carnes e banhas? se ao invés de ver um ser móvel, movediço em si, apenas vê uma fotografia em 3D. as salvações estão todas perdidas, se não há uma delicadez em nós, todos os dias, todas as horas, com todas as coisas. só a delicadeza salva. ctrl+d!

NA LOJA DE VARIEDADES

existem várias coisas na loja em que vivemos, na loja de variedades. das mais caras as mais baratinhas, das mais significativas as mais furrecas. e passamos o tempo todo negociando, vendendo, comprando, olhando o que tem de velho e as novidades. passamos o tempo todo. e lá no fundo existe uma prateleira, repleta de coisas fantásticas e ao lado uma placa, que nos queima a boca do estômago. e milhares de nós, se acotovelando na frente dela, olhando com as mãos nos bolsos, bolsos que escondem os dedos variantes, nervosos. unhas levemente roídas, compridas, pintadas, escondidas. existe lá no fundo da loja de variedades, uma prateleira. existem coisas na prateleira. e uma placa. PROIBIDO TOCAR - NÃO TOQUE! e depois de muito tempo, tem uns de nós, uns bem poucos, quem entendem, que existem coisas no mundo que são só pra olhar. nossos dedos não teriam tato pra lidar com tal material. pra olhar...

terça-feira, 16 de novembro de 2010

o telefone...

quando ele toca, toca em algum outro lugar não é? como uma voz pode passar por dentro de um fio que está lá em outro lugar e chegar aqui. e aqui chegando entra ainda mais, mais fundo, funde as coisas de dentro com as de fora. como posso estar aqui? como posso estar lá? como podemos? quando o telefone toca, do outro lado ele chama, mas do lado de cá também há o chamado, uma dúvida de quem está do lado de lá... uma dúvida se devemos atender ao chamado de quem chama. responder, ouvir, falar, sentir. e se não atende, se não ouve o que se diz do lado de lá, a dúvida do que era, do motivo, das palavras que ficaram presas na garganta de quem chamava e não foi atendido. sempre que o telefone toca me dá um sobressalto, um assalto no peito, nunca é corriqueiro quando o telefone toca por aqui. ainda mais se os que tenho aqui dentro, tenho dentro do aparelho também, e sempre que eles ligam eu sei... e se não atendo na hora, retorno, chamo... toda vez que o telefone toca um botão vermelho se acende em mim, toda vez que atendo ao telefone me coloco ao seu lado, te trago bem aqui...