domingo, 9 de dezembro de 2012

DEIXAR MORRER. DEIXAR VIVER.

SOBRE não deixar que certas coisas morram e para isso matar tantas outras. falo de cultura, de agente cultural, de produto cultural. não podemos deixar a cultura morrer, eles dizem. e no nordeste não se pode deixar a sanfona silenciar. e no rio "não deixe o samba morrer, não deixe o samba acabar". e em tanto outros lugares isso e cada vez mais. mas ai de ti se ao pegar numa sanfona e se apresentar, deixar de tocar uma asa branca ou coisa que valha. eles não vão gostar de você. eles não vão nem ao menos conseguir dizer, ao final de tudo, o que é que você estava fazendo ali. 
SOBRE acumular coisas em caixas, separadas por cor, formato e tamanho. e não se dar ao trabalho de sequer separar uma caixa para as coisas que não se pode classificar. é necessário inovar, tirar o ranço, arriscar, mas tudo dentro do aceitável, dentro do conhecido. e o desconhecido que fique do lado de lá da porta. do lado de fora. 
ENTÃO você passa a se irritar em ter que fazer o que os outros querem que você faça. e não fazer o que tem vontade de fazer. e ficamos tão contaminados e dominados, que acabamos fazendo para o velho apenas uma roupa nova e nos contentamos tanto com isso. só por tornar assim o mundo mais seguro, mais acolhedor. mais do mesmo!
QUANDO você olha uma fotografia de uma fila de mulheres dos anos 30 e as compara com as dos anos 40, 50, 60, 70, 80, 90 e todas as outras que possam vir, percebe que são só releituras de releituras dos que já nem lêem mais. e passa a ouvir uma música e ter ouvido todas. a ver uma peça e ter visto tudo. e não querer mais nem ver, nem ouvir.
É preciso não deixar morrer, mas é preciso também não querer matar. há necessariamente número suficiente de pessoas no mundo para gostar do que quer que seja. e não precisamos, de maneira alguma, cercear o direito de nascer com a mente aberta e com ela aberta morrer.