segunda-feira, 12 de outubro de 2009

360°

eu sempre achei que na torre em que ela estava, aquela bem alta, aquela cercada de jacarés e água, naquela sem ninguém por perto, sempre pensei que a porta estivesse fechada, trancada por fora, mas que a chave estivesse no pescoço dela... que ela não abria por que não tinha coragem, porque ficava lá e gostava da vista de 360°, pensava que talvez os seus cabelos eram curtos demais pra pedir pra alguém subir, pensava até ver o gigante...
o gigante com olhos de faísca, com palavras de chicote... andando de um lado para o outro, querendo as suas coisas na sua hora e no seu devido lugar...
pobre da princesa... dias e mais dias naquela masmorra, quem sabe morrendo de vontade de sair dali, de saber como é além do só ver... querendo sentir o que olha dali de cima, todo dia, toda noite, toda vida...
pobre princesa, nem ao menos se parece com uma princesa... parece só uma pobre mulher que deixou o tempo escapar pelas mãos e que fica ali, em forma de retrato ou paisagem, naquela horrenda masmorra...masmorrendo de vontade de sair dali...
acho que um dia ela vai perceber que o gigante tem umas manhas pra parecer tão grande, que na verdade nem tudo é o que parece ser... vai perceber que com uma das mãos bem fechada ela derruba o gigante... vai perceber que ele não passa de um anão...
acho que um dia eu rezo pra que esse dia chegue logo e ela se torne de verdade uma princesa e não uma foto na janela...

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