sexta-feira, 2 de outubro de 2009

borboleta sem asa ou a inutilidade dos inúteis

fiz uns escritos
esses vão direto pra você
são escritos bem miúdos
são escritos bem escrotos
um apanhado de palavras
um apanhado e batido
borboleta sem asa
perdeu toda beleza
borboleta sem asa
já não voa com leveza
te dou essa rima
tão ruim quanto o que faz
tão bom quanto o que não é
te dou essa rima inteira
rima de banheiro
rima de revés
te dou a rima dentro do poema
lusco fusco fosco fraco lasco
te devolvo
te devolvo em dobro
uma borboleta e arranco as asas
uma borboleta despenada
deixo as asas numa caixa
já não servem pra nada
já não mais


resolvi fazer uma poema
sem muita utilidade
moral
e
cívica
resolvi escrever o que penso agora
neste exato momento
um sentimento
uma pulsação fraca
que bate no meu peito
que já pulsou forte
que já escreveu fortunas
resolvi escrever pra ver
pra saber se percebe
quão ruim é ser inútil
desfuncional
fútil
sem carga
positiva
ou
negativa
sem dom
sem brilho
sem graça
desgraça
barata tonta sem pernas
que simplesmente não vai
que simplesmente não faz
que simplesmente não é nada mais
do que uma inutilidade
a dos inúteis
só pra ver se se toca
num disco não riscado
numa vitrola bem boa
se afina o pensamento
com o que tenho aqui dentro
e se toca nas partes do corpo
e se fringe como ovos mexidos
mexe por dentro
se choca
e coloca umas sacolas plásticas biodegradáveis
no lugar das ex-asas
se degrada
me agrada
fazendo
vivendo
sendo
estando
pensando
ando
ando
ando
do
do
do
do
o
o
o
o
...

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