Cansada de quem com uma faca nas
mãos fere dizendo que faca sozinha não faz nada. E depois de ver todo o
sangue-vida escorrido no chão, diz sentir muito. Diz que sente muito, quem não
sente nada.
Cansada dessa gente sem verdade.
Que tendo na boca boas palavras, prefere proferir as mais pesadas, as mais
ferinas, as mais babacas.
Cansada de perdoar o erro alheio
sem nunca ser perdoada. Ter que passar por cima de minh’alma toda esfrangalhada
e sorrir dizendo que compreendo, que aceito, que não foi nada.
Cansada de ficar no canto do
mundo vendo gente morta sendo jogada nas valas da impunidade. (Ainda vivas.) De
uma sociedade que nada cobra, que nada faz, que nada fala.
Cansada de compreender
o incompreensível.
Cansada de ver o
invisível.
Cansada de nominar o
inominável.
Cansada de aceitar o
inaceitável.
Cansada de ser sozinha.
Cansada de andar na
mesma estrada.
Cansada de ser
ultrapassada por carros de egos inflados.
Cansada de ser
pisoteada por pés desumanos.
Cansada de ser
mastigada, cuspida e escarrada.
Cansada de não ser
nada.
Cansada de quem em prol de um nome, de um sobrenome, de um
codinome, erra e diz não estar errado.
Cansada de quem se esconde dentro de tradicionalidades
banais para decapitar
delicadezas, cabeças ou sonhos imortais.
Cansada de quem fala sem pensar. Vive sem pensar. Morre sem
pensar.
Cansada de quem fala o que quer e não houve o que não quer.
Cansada de quem não é nada.
Cansada de coisa qualquer.
Cansada de qualquer coisa.
Cansada e só.
Cansada.
Nenhum comentário:
Postar um comentário