quarta-feira, 27 de agosto de 2008

a delicadeza do olhar...

meu olhar cuidando de cada detalhe entalhado no tempo, cada curva, cada nó, cada coisa que passava por lá...e então foram presos por aquela visão...uma cena de uma delicadeza que quase não é possível descrever...uma pintura, uma fotografia que ficará por muito tempo registrada em minha memória (emotiva)...ele estava lá, ao lado dela e fazia questão de estar...tinha em seu peito algo pouco comum, mas algo que lhe tornava tão vivo quanto a própria vida...protegia do sol, da vida, do vento nos ouvidos, lhe protegia de tudo o que pudesse...ele estava lá, com uma criança em seu colo, tal um canguru, com sua cria na bolsa, e aquela bolsa de tecido que já fazia parte de seus tecidos vivos, fazia parte de seu corpo, era seu...a solidão, estava claro em sua mente, nunca mais poderia existir, não para ele...e a comunicação dos dois se estabelecia a cada momento, eram gestos, olhares, toques, cumplicidade, uma cumplicidade que não existe senão ali...procurou a sombra, escondeu do vento, mostrou aos outros com orgulho, fez findar o choro, fez se prender ao sono com um leve balançar...fez...estava tão lá que não poderia estar em nenhum outro canto, nem mesmo em pensamentos...estava apenas nele...não era uma mãe e sua cria...era um pai e seu filho, tão conectados que nada precisavam fazer para saber da existência um do outro, não precisavam de mais nada, estava os dois lá, um dentro do outro em tamanha harmonia que o mundo estava destoando daquela visão...não era necessário o pano de fundo que se fazia presente...não era necessário que houvessem outras pessoas por lá...eles estavam juntos daquele dia em diante e sem saber até quando...e eu os observava de longe, sem que ao menos se soubessem observados...e meus olhos não podiam crer...estavam presos á algo tão maior do que muitas coisas bem grandes que já havia visto...era apaixonante ver aquela cena...era único ver algo que te pertence e que te faz pertencer também...era indigno ficar vendo de fora algo tão íntimo, tão profundo...era profano naquele momento o meu olhar...mas eu não podia fazer mais nada, o magnetismo me impedia de fechar meus olhos ou desviar o olhar...era apenas um pai e seu filho, nada mais do que isso...podia ser uma visão tão comum que nem chamaria minha atenção...mas o que a cena emanava, o que continha em seus detalhes, cada passada de mão na maciez daquela pele, cada deglutir daquela mamadeira segurada com paciência, cada embalo daquele soninho...era vida demais para não se olhar...era como viver um pouco mais apenas de olhar...mas era só um pai e sua cria...nada mais...

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