segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

sob influência do seu mapa astral...

não do meu e sim do seu... o seu mapa norteando a minha mina, minha menina também é mina... o seu mapa estampado no fundo dos meus olhos d'alma... estampado e filtrando minhas visões e meus pensamentos... tudo em branco e se gira devagar tudo colorido como aquele vestido já usado no dia em que você nasceu... eu vejo o mundo com uma lupa... tudo é grande e muito claro, eu vejo o que os outros sequer sabem que existe, olho tudo com meu grande olha grande... e lá está você, lá está ela, lá estou eu, lá esta o mundo e eu com minha ampliação... vejo detalhes das coisas, cada partícula, cada partilha, cada partida... vejo... não há o que fazer... é dádiva eles dizem, ver o mundo nessa proporção... digno... e eu olho e lá vem as coisa, todas daquele tamanho, aquele em que formiga mata dragão... e as unhas roídas sem serem comida, pré-roídas, ainda estão nas pontas dos dedos nas pontas das mãos... mas o ato foi feito, foi planejado e executado, mas as unhas ainda estão quase intactas e acreditam na minha amplificação... mas me diz o mapa, da mina do tesouro do besouro e não se ofendam com tanto adjetivos, com tanta adjetivação... só piada das minhas, as mentirinhas certas de fim de domingão... e com a rima ao caralho... minha lente sempre posta, imposta ao meu tipo de visão... e no meu mapa p sol bem no meio...
A CONCLUSÃO
eu vejo o mundo de uma lupa e tenho o sol bem no meio do meu mapa astral... coloca uma lupa com o sol bem no meio... a minha lupa está voltada para o mundo e eu queimo o meu mundo todos os dias desde quando o sol chega até quando ele vai... alguma explicação pra escrita acontecer sob a lua... finda a queimação...

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

SINAIS

quão difícil é perceber o que está tão perto, quanto mais distante melhor se forma a visão, quanto mais perto mais detalhes vemos ou não vemos nada... será que muito disso que fazemos não é um sinal, será que não são sinais que damos um ao outro, sinais do que não vai bem , do que não está... porque é tão difícil perceber os códigos que usamos pra dizer o que nos falta em relação ao outro, em relação a você... porque quanto mais nos aproximamos do detalhe mais perdemos a noção do todo... porque chegar tão perto do coração se perde-se a noção de que há um corpo que clama por atenção... talvez passar batom, mexer no cabelo ou abrir levemente a boca em "a", talvez congelar uma "pose", talvez escrever, talvez piscar muitas vezes, talvez tudo isso queira dizer que estou aqui, inteira, e que é inteira que preciso de ti... talvez olhar para o lado seja um forte sinal, talvez a frase seguinte que mecanicamente percebe o olhar também queira dizer alguma coisa, mas nos falta interpretar o que cada um faz, o que cada um diz sem dizer nada... pois sem interpretação fica impossível a evolução, a manutenção das coisas normais, das coisas reais, das coisas que não são só do coração... estamos o tempo todo dando sinais, sinais do que somos, de quem somos, do que fazemos, do que vamos fazer... será hora de emitir menos e receber mais?... não sei... mas sei que tanto eu, quanto você estamos dando sinais, mas nenhum de nós consegue ver... estamos no escuro de uma percepção alterada que nos faz caminhar à esmo, sem ver...

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

histórinha comum

levantou da cama, colocou os dois pés no chão, baixou os dedões que sempre queriam chegar mais rápido ao céu... caminhou até o banheiro, lavou o rosto, o olho direito estava vermelho, inchado, pingou colírio, secou. escolheu uma roupa qualquer, vestidinho preto de malha surrado. calçou chinelos de dedo, baixou mais uma vez os dedões que teimavam em subir sem saber da continuidade, sem saber que não podem sair voando sozinhos... para voar teriam que carregar o corpo todo pelo ar... saiu na rua sem motivo, sem saber o que fazer fora de casa, sem saber porque não ficar no seu canto... saiu meio tonta de calor e de céu azul... caminhou pelas ruas e percebeu os outros, os que ficavam, os que passavam, os que não iam nem ficavam... percebeu todos os que passaram pela sua vida naquele momento... escutou meias conversas, escutou juras e telefonemas, imaginou o outro lado da linha, imaginou de onde vinham... se imaginou neles... pois a caixola pra funcionar numa manhã qualquer... foi até a praça, sentou no banco e não desviou nenhum dos olhares que iam ao seu encontro... não desviou nenhum, preferiu ficar na avenida que se forma quando se cruzam dois olhos que se olham... pensou num mundo de pessoas iguais, da mesma cor, com os mesmos olhos, boca, nariz...pensou nas pessoas olhando os outros e vendo a si mesmos, delirou naquele mundo irreal... olhou para alguns e se viu, como pares, como clones seus espalhados pela cidade, riu sozinha da sua piada interna, sorriu... ficou horas pensando em criar uma metáfora para cada um dos seus pensamentos velados, quebrou a cabeça, fundiu os miolos... achou melhor deixar guardados do que ter que metaforizar... olhou para a praça, olhou para o pipoqueiro cortando bacon, fritando pipoca o dia inteiro... ele não comeu nenhuma pipoca, jogou sua parte aos pombos que esperavam ansiosos pela graça de correr de encontro a pipoca no chão... olhou o pinheiro com os braços abertos, vários deles, pegando um vento nos seus sovacos, balançando as mãos de folha contra o mesmo vento, espalhando seu jeito de viver pelas ruas e avenidas... ajeitou-se no banco, queria ficar confortável para não se preocupar com mais nada, só com observação... viu a dona do cachorro passeando com seu bicho, com sacolinha na mão e se abaixa e cata o cocô quente do filho e joga no lixo e nem cara de nojo e encontra mais pra frente mendigo e torce o nariz pro fedor do não-banho, pro cheiro de roupa lavada no chafariz... e torce o nariz enquanto o cachorro-filho mija no seu pé... e mais pipocas pros pombos e pra mulher que compra um pacote pra criança grudada em sua mão, como uma pessoa em duas versões, a grande e a pequena... e a versão pequena nem bem pega o pacote e derruba mais da metade da parte salgada, e os pombo agradecem num ruuuuuuuu... e correm pra pegar sua parte nesse mundo de pipocas e pessoas e pombos... as nuvens então se mexem, andam de um lado para outro, impacientes... andam, fazem desenhos, desmancham, mancham o céu azul... se preparar pra lavação de fim de tarde que certamente ocorrerá... olha o anuncio no outdoor, o pedido em letras garrafais pra mulher voltar pro cara... pra casar com ele... olha aquele outdoor sem olho, sem boca, sem nariz e pensa quem responde um pedido feito sem cara, sem voz, sem amor... um outdoor com um pedido de casamento serve para qualquer pessoas que ler, não serve?... procura o telefone no fim da mensagem e não encontra... mensagem incompleta... resolve parar de olhar um tanto e de respirar outro tanto... resolve deitar no banco e parar de respirar por uns dias... aperta o nariz... espera... fecha os olhos, espera... escuta os barulhos da praça indo pra longe, bem longe... mantém a respiração parada, agora sem tampar o nariz... mantém os olhos fechados... os barulhos ficam tão distantes que quase nada se ouve... aliás, se ouvi sim um silêncio que se aproxima... espera mais um tanto... pensa em respirar, prevê o que acontecerá em seguida, desiste... um homem de branco quebra o silêncio custoso que se aproximava com um assobio... ela abre as narinas e os olhos de supetão... está sentado na beirada do banco em que ela estava deitada... seus olhos grande olham para os dela, ela sabia disso mesmo quando estava de olhos fechados... olha os olhos de avenida do homem... olha para as mãos, para os pés, são como os dela só que de outra cor... são os dela só que de outra cor... é ela de outra cor... sorri e meneia com a cabeça... ensaia um aperto de mão... ensaia mas não faz... deixa subentendido que há um cumprimento ali... senta no banco e coloca as mãos nos joelhos... sorri por dentro e deixa escapar uma pontinha e o homem lhe diz sem palavras "eu vi, você sorriu"... devolve o sorriso que roubou... ela sente seu ouvido sendo puxado para aquele colo... sente que não poderá resistir por muito tempo... deita no colo de calças brancas... sente no outro ouvido a mão de outra cor sendo aplicada em vai e vem... deixa os olhos abertos e repara na praça lateralizada, olha as coisas que na vertical não se consegue ver... olha a conversa das pombas, tão distinta... olha os pés do pipoqueiro, iguais aos seus, mas de outra cor... olha vários pés iguais que passam para lá e para cá... olha para os próprios pés que saem sozinhos, andando pela praça, atravessando a rua, sumindo depois de uma esquina... ouve palavras ao ouvido... sente calor, sente frio, sente... ouve a circulação sanguínea no ouvido que está repousado na coxa, não sabe se quem pulsa é ela ou ele, as pulsações são iguais e da mesma cor... sem perceber sente a respiração parar... sente a flutuação... a mão no ouvido, o cheiro de sol, a praça de cima, o mundo de cima... olha os pontinho e não sabe se são pombas ou pipoqueiros...

inação inanição inanão inanimação

nenhum movimento interno acontecendo, nenhuma ação... com as coisas de dentro paradas na beira de uma estrada que reflete o não numa placa fincada na beirada... com os passos parados num ponto onde não há nada, nem ponto de ônibus, nem condução, nem posto, nem civilização... um deserto na frente, uma geleira bem branca no verso... sem apetite pras coisas carnais, sem carne, uma inanição... um buraco negro um branco, uma indecisão... inanão... desanimada pra mudanças tipicas dos seres humanos comuns em fim de ano, inanimação... desanimada de ser ser humano comum, de ser ser humano especial, incomum... uma inanimação... nem moda, nem muda, nem fala, pouco escreve, nem vai, nem fica... nem saliva se junta na boca, nem de outro a saliva... sem veludo, sem seda, sem sede do novo, sem vontade do antigo... uma paralisia sentimental atípica dos seres humanos em época de natal... nem pinheirinho na sala, nem luz no quintal... sem...