quarta-feira, 12 de novembro de 2008

já me bastava...

já me bastava estar lá, me bastava estar viva, ainda que não senti a dor parturiente, mas sentir no rosto a brisa já me bastava...já me bastava saber somente o que sabia, e as coisas que a cada dia descobria e redescobria e cobria, já me bastava...me bastava o quanto basta a uma qualquer, tal como sou, tão qualquer que qualquer outra pode ser e só isso já me bastava...me bastava olhar no espelho e ver o que vi, não desconfiar dos traços ali traçados por todos os dias que desenharam essa face que já me bastava, estava tão viva...já me bastava a fala mole, a boca torta, a nostalgia das quintas-feiras, o ouvido quase musical, as espinhas atemporais, os pêlos que ali nasciam, já me bastava quase tudo, que de tudo é quase nada, mas me bastava, estava viva...já me bastava abrir os olhos todos os dias, uns mais cedo, outros mais tarde, estava viva...já me bastava o alimento de consôlo, já me bastava toda aquela caloria, bastava até o dia que dei basta, já não bastava mais o que ali havia, nem espelho, nem alimento, chegava o fim da caloria...já não bastava estar viva, tinha que ter algo mais acima, já não bastava o que sabia, tinha que comer livro, tinha que escrever poesia...já não bastava o quase tudo, já que de tudo nada tinha...já não bastava os olhos abertos queria os abertos que olhavam e viam...já não bastava, até que deu basta...já bastava não ser oca, ter comida e bebida, já bastava ter perdido tempo e saber que tinha algum dele no bolso ainda...já bastava a primeira parte, a do meio e a parte finda...já bastava ter ainda, nesse tanto de vida, umas palavras que bastava pra dizer, ainda tão viva...

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