segunda-feira, 10 de maio de 2010

DEVIR

a sensação de tudo dito, de tudo feito, de tudo sentido. o não sentido de tudo isso. quando o que se faz é comum à todos. todos já sentiram o que senti, todos já fizeram o que fiz e o que ainda vou fazer. a não suportância da rotina disfarçada em esboços de tentativas frustradas de fazer o que nunca foi feito, de dizer e escrever o que nunca foi dito. quando tudo o que há é só eco do que já esteve, do que já está, do que estará. se o mundo vai continuar é porque já continuou e se acabar, uma vez lá trás já acabou. e se repetem as coisas e as pessoas se imitam e se refletem e se copiam e se fazem de descobridores de um nada. já está tudo descoberto. não faz sentido viver o presente, não hoje, não o hoje. não faz sentido o tempo, todo tempo, nenhum tempo. são só as coisas se repetindo, repetidamente. a descoberta, repito, não descobre o que, não revela, só aponta o que já existe. e nem as lágrimas são novas, já foram lágrimas, ou mijo, ou escarro, ou rio, em outro lugar, ou nesse mesmo lugar. e tudo o que tenho não é meu e nunca será. e quando perco essas coisas que nem minhas são, onde me encontro. se não há pegadas pelo caminho, num chão que não se permite marcar. se não há avanço. se não há. o que há então? teorias de que é possível, teorias que nos fazem achar que é diferente o que não é e não será. todos somos ecos de um mesmo grito, que não me faz tanto sentido em dias assim. ecos soltos pelo vento que carrega as mesmas coisas de lá pra cá. de cá pra lá. é o ônus de ser terra redonda, de não ter fim, de não ter começo, não ter meio, de ser assim, sempre volta, que não se sabe se primeira ou última. só volta. que volta. que volta. que volta a volver. repete-se esse post, dentro de uns outros que já viram o que vejo agora. num outro papel, numa outra tela, em um outro ou nesse mesmo lugar. são só pensamentos e o devir. que já veio e irá voltar. volta.

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