sexta-feira, 20 de abril de 2012

HOMEM TEM QUE TER SACO, MULHER TEM QUE TER PEITO

OU PARA VIVIKA.

Já que dela depende tudo, e ainda tem que andar com o peito esticado, empinado, siliconado. Se der certo a culpa é da mulher, mas se não der, daí é dela também.
Quem dera ter nas costas apenas a responsabilidade de brigar com alguns outros machos atrás de uns trocados. Mas não, é necessário fazer as unhas dos pés e das mãos, 20 ao total, tirar pelos de maneira extremamente dolor, se pintar para ir pra gerra, sobre um salto desumano, e ainda assim ter que manter os pés bem fincados num chão desnivelados pelas cobranças ancestrais.
E casar e ter filhos e parir e amamentar e dar o sangue todos os meses por um mundo masculinizado.
E deixar tudo bem, tudo em ordem, tudo em paz. Ter ombro amigo. E as pernas sempre abertas. Ser eternamente jovem, eternamente durinha, mas com uma ternura que "só a mulher" sabe ter.
Ser correta, ser honesta, ser direita, fina, comprometida com os valores de uma sociedade que nem sequer foi criada por nós.
E se depois de ser filha, sua experiência for tão traumatizante que você não se ache capaz de ser mãe, tira uma forcinha do cu e tenha uma dúzia de filhos problemáticos, que mulher só serve pra parir, só serve pra isso.
E se depois de anos enclausurada num molde que não te serve e te sufoca, a carne falar mais alto, mais forte e você fizer o que não deve, não se engane, mulher não é feita de carne, só de coração.
Comigo não!

Minha mãe achava que eu era um menino, mas tirei um bom proveito disso. Sou anfíbia.Uma mulher que carrega consigo a certeza de que não é só isso. Eu não menstruo, só depilo se me der vontade e na maioria das vezes não ligo, uso salto quando eu quero e depois ainda xingo o sapato por uns dois ou três dias. Me pinto pra ficar em casa ou tirar umas fotografias. Não quero ter filhos, mas amo os meus sobrinhos como se meus fossem. Moro em duas casas, numa sou solteira e noutra sou casada. Pensem o que quiserem. Pois a minha vida é feita dos meus pensamentos,  não dos seus. Não tenho liberdade, ainda, mas ando no seu encalço. Não estou  preocupada em morrer melhor do que nasci, já que isso vai acontecer impreterívelmente. Não tenho vergonha do meu corpo, se degradando com o tempo. Não tenho vergonha do meu corpo, redondo, que poderia ser quadrado, liso, reto, oblíquo que é, e ainda assim seria um corpo. Gosto de velocidade, de carros, de andar sem calcinha, de ver jogo de futebol e revista de "home" pelado. Gosto de dar risada. E de receber também. Gosto de massagem com creme nos pés.
GOSTO DE SER HUMANA.

Não consigo fugir dos padrões pré-estabelecidos, mas volta e meia, dou uma volta neles.
E quando não consigo, choro num canto, escondida, já que mulher chora, mas não na frente dos outros pra não incomodar o mundo inteiro.
Já que mulher não pode ser fraca, mesmo sendo a fraqueza a sua maior força. 
Já que mulher, bom, mulher é aquilo que ninguém entende.

2 comentários:

Marli Knap disse...

Aaaaaaaaaameiiiiiiiii....

Roberval Paulo disse...

Nana Rodrigues, mais uma vez aqui admirando seu texto. Parabéns pela irreverência e pela pregação ao ser mulher exatamente como é a mulher.
Abraços e....seja sim, seja sempre...a mulher que é.