segunda-feira, 19 de abril de 2010

AO AMOR, MINHA IMEMÓRIAS

COM minhas sistoles e diastoles em suas mãos, ele me guiava por caminhos desconhecidos, que não voltei a percorrer sem tal pulsação. bastava saber que havia boa dose de verdade em todas as minhas mentiras. minhas imemórias, me refrescavam isso sempre que respirava o ar nostálgico das três da tarde.
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COMO não falar de amor, de turbulência e de doces mentiras no último dia de um ano enrubrecido desde os primeiros ares. pois se não me traem minha imemórias, se minhas verdades repletas de toda sorte de cores não falham, resolvi, no derradeiro suspiro de 2009, escrever para afugentar o calor e a saudade que sempre me acomete nas badaladas das três. respiro com a dificuldade normal dos dias mais quentes e sinto na pele a transpiração úmida dos poros desesperados por arrefecimento. sentada defronte para a sombra de uma das grandes árvores, plantada antes mesmo de eu ser semente, senti numa inspiração o gosto, o cheiro e a cor de outro tempo, não mais o meu, um tempo de ninguém ou de todos. comecei a escrever na urgência de retratar e reparar desvios que o destino ignóbil havia feito em meu destino e depois de algumas varias folhas rasgadas e arremessadas a desesperança, sob o vento verdadeiramente mentiroso de um ventilador, resolvi apenas lembrar, com todas as particularidades, o que fosse possível, sobre os amores que vivi.
passei e passeei por tentativas, mentiras, verdades nuas e cruas demais, dores, ousadias, lembranças das mais simples às mais ricas, passei pelos detalhes esquecidos, tentando rever as horas para saber em qual delas havia perdido tanto. criei toda uma lógica, uma técnica para falar do amor que vivi. uma cadência de acontecimentos em ordem histórica, coerente, prudente e desprovida de mentiras fáceis e insuportáveis. enjambrei o enredo, de modo que pudesse ser compreendido pelos que viveram tais desventuras e pelos que sequer souberam que existiu. ao fim, na releitura vital dos "escrivinhadores", me deparei com um objeto lindo, porém coberto de tantas demãos de laca, que ficou impossível descobrir o que fora aquilo. ao fim, ficava impossível recordar, numa sequência lógica e real, as verdades do amor.
resolvi alimentar o fogo que ainda queimava na ponta da minha caneta, com as páginas já escritas e rememorar tal qual é o amor vivido. com a lógica própria dos apaixonados, que se faz clara somente aos que já padeceram dos tremores e calafrios de uma febre sem fim, numa cama que arde e queima no mais rigoroso inverno. uma doença da qual nunca se soube da cura, mas que se vacina com gotas que ao invés de serem pingadas, saem dos cantos dos olhos de quem já amou.
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nada como uma boa mentira! um calor que faz suar até nos cabelos mais escondidos, e eu na frente de umas hélices de plástico, ligada numa tomada e que faz um vento deslavadamente mentiroso, mas que refresca com uma verdade que nem o mais cético duvidaria.

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