quarta-feira, 8 de junho de 2011

DIA. APÓS. NOITE.

EU ACORDO. estou de acordo em acordar. na boca. um gosto. conhecido. nem por isso querido. quisto. o frio entra por frestas inexistentes. nem por isso menos gélido. o movimento involuntário pede para acontecer. complexidade. manhã. o dia segue. seguinte. mandíbula cortante. travada. trava social. focinheira humana. as pernas se deslocam cama afora. não. não é como se flutuassem. tem o peso real. na realidade um pouco maior do que a realidade exige. mas não há como mensurar. nem peso. nem realidade. consulta marcada. não mais o mesmo doutor de sempre. dentes. consulta marcada. programada dias atrás. eletiva. eleita numa manhã pra outra manhã. programação. ainda existem situações programadas. e essas mesmas, muitas vezes nos fogem. sempre. dia. após. noite. nos fogem. escova. pasta. água. dentes. saliva. o mesmo de sempre. por favor. o mesmo de sempre. não como sempre. já que o gosto conhecido se faz presente. desagradávelmente presente. desagradável. presente. você quer ganhar um presente? desagradável presente dado por outras mãos dentro da boca alheia a minha vontade de querer o gosto. gosto. escovo. dentrífico serve somente para os dentes. não tente. não tente isso. em casa. gosto. artificial de tutti-frutti. como se fosse possível colocar num pequeno tubo todas as frutas do mundo. você conhece todas as frutas do mundo? como cabem em meu pequeno tubo vermelho todos os sentimentos do mundo. mesmo que eu não conheça todos os sentimentos do mundo. mesmo assim eles habitam aqui dentro. que também é fora. que também é tudo e nada ao mesmo tempo. que no fim do dia é o que sou. nem dia. nem noite. e depois pensar e dirigir não são compatíveis. como um coração de alguém que nunca amou num peito de quem sempre ama. e dirigir um carro seria num momento qualquer como dirigir a vida de alguém. e quando se bate contra um poste se descobre que este alguém pode e vai já é você. e seus dentes de repente se quebram nessa quebra. e você sente o gosto que eles soltam quando partem. seus dentes. e o volante em suas mãos já não faz mais sentido. não tanto quanto as piores músicas tocadas nas piores rádios. que neste momento são só o que você deseja ouvir. 

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