quarta-feira, 2 de março de 2011

TINHA.

tantos quantos ela podia contar. na verdade muito mais do que ela podia contar. tinha sim, muitos, diversos, diversificados. estavam sempre presentes, sempre por perto. presentes! não tinha do que reclamar. todos queriam estar em seu lugar, mais do que isso, queriam estar ao seu lado, os dois lados. e quando lhe perguntavam, ela não demorava a responder da felicidade que se apresentava por tê-los sempre por ali. 
mas havia os que desconfiavam, como sempre e como em qualquer lugar. havia os que maldiziam. que pensavam coisas e mais coisas a seu respeito, desrespeito. achavam inibida demais, introvertida demais, recolhida demais, achavam tudo demais. e questionavam tanto quando pudessem perguntar. 
como teria ela tantos amigos, se não era vista com niguém, se não era visitada, se não. quem eram esses benditos, aonde se escondiam?
mas um dia não suportou mais. pegou megafone e foi pro meio da rua, proclamar, reclamar o direito que tinha de ter quantos amigos pudesse suportar.
gritava para os que passavam, quem eram os seus amigos. e quem passava nada entendia, alguns paravam, outros iam. mas ela gritava, vociferava, dizia. 
tenho sim muitos amigos, tantos quantos minha alma pode aguentar. tem o da sacada do terceiro andar do prédio da frente. tem a moça da janela de revesgueio com a minha. tem o cara que varre a rua debaixo todos os dias. tem o menino que chuta bola, o que empina pipa. tem o moço da livraria. tem o do avião. o do parque. o da rua. o.
tantos quantos eu.
tenho.
tenho sim.
 e ninguém pode duvidar.

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