quarta-feira, 7 de maio de 2008

na janela de uma kombi vermelha...o tempo não passa...

quando se acostuma ao irreal...ao plástico, diria até ao fantástico, o que esperar do real, do humano, do normal...o que esperar ver sem aquela luz que amanhece ou anoitece conforme o diretor manda...o que esperar...quando cessa a música e o silêncio falado invade o lugar...o que se pode ver quando o personagem vai embora e não se sabe o que esperar...sentada na quarta fileira vi se despedir dali o tal motorista da kombi vermelha que dirigia por uma autoestrada acompanhado de uma mulher que (eu) nunca havia visto antes...desmontou-se o que havia de plástico, muda-se a face, o respirar, sai a máscara e fica uma face nua que talvez nunca tenha visto com tanta plenitude, com tanta verdade...uma verdade crua e por vezes até indigesta, uma verdade tão real que é capaz de cortar...estava acostumada aos diversos personagens, não imaginava tanto material humano "real" por debaixo daquilo tudo que estava acostumada a contemplar...depois de verificar tantas faces, a face oculta se mostra e o torna ainda mais oculto aos meus olhos (pensamentos)...haviam palavras soltas no ar, ar que entrava e saia dos pulmões de todos que ali estavam...tão humanos e tolos que somos, dependemos do mesmo ar que nos cerca para nos manter...fiquei por tempos triangulando ali, nessa caixa (preta) de pandora...por horas me perdi e te trouxe de volta ao pensamento...foi quando te vi tão humano, ou ao menos, tão real...isso que aproxima e ao mesmo tempo torna ainda mais poético o meu olhar...o roer das unhas, a saliva que insiste em ficar na ponta dos dedos e que se seca na vestimenta, os pequenos goles d'água, as mexidas insistentes no tecido da roupa, o morder do canto direito interno da boca, o balançar das pernas com alternância de cruzadas de pernas, as piscadelas esporádicas que lhe trazem rugas momentâneas, o arquear da sobrancelha quando concorda ou discorda, ou aquelas arqueadas que vem logo após as piscadelas, essas involuntárias...isso que é capaz de lhe tornar tão real quanto quebrável...essa face outrora oculta que se mostra sem preparo, sem filosofia, sem pressa ou demora...essa humanidade que me assustaria em tempos de chuva...mas que em noites de frio e céu estrelado me fazem (não) pensar...toda essa carne e ossos e vida e contemplação que me trazem...essas brincadeiras que nos são impostas...dentre tantas coisas no mundo que são explicáveis, logo se mostram tantas outras que nos deixam vivos e que jamais se poderá explicar, ainda que simples demais seja a explicação...como estar na quarta fila, que é o dobro da segunda fila...que implica em dizer que dois e dois são irremediavelmente quatro, até que se tente o contrário...abrir os olhos para a face oculta dentre tantas outras faces...viver a vida em triângulos quando o que todos desejam é vivê-la em círculos...poder estar na janela de um kombi vermelha e ver com toda a simplicidade, que para certas coisas o tempo nunca vai passar, o tempo é mero acaso, neste momento o tempo não passa...

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