terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

101 dias em são paulo

04. hoje a tarde a marginal engarrafou
estava no centro da cidade. uma felicidade imensa. eu já estive aqui antes, tem coisas minhas por aqui, penso. caminho com uma facilidade. não sei bem onde estou, mas sei que é onde quero estar. olho coisas que tenho certeza que a maioria dos paulistanos não percebem. "nelson, o rei das bolsas", "bolsa de valores". coisas que nem todo mundo vê. caminho sem medo. inclusive sem medo de ser feliz. olho no rosto das pessoas, mas elas pouco me olham, estão em são paulo. eu também estou aqui (!), dizem meus olhos. estou aqui. o céu está claro. será esse o motivo da pressa? o dia está maravilhosamente claro, como esteve ontem, mas será que o mesmo de ontem é o que nos espera? tento não pensar que a qualquer momento o meu sorriso pode se fechar assim como o céu. céu de brigadeiro. e passo o dia todo nessa de andar e ver e sorrir e olhar e esqueço até a máquina na bolsa. caminho por lugares que não imaginava. caminho. tomo um suco, o calor está de matar. tomo guaraná, suco de cajú. já sabemos o que esse calor todo traz. tento não pensar. estou onde quero estar. caminho até um museu. perco a noção do tempo. sou uma caipira em nova york. perco a noção da chuva. depois de ver tudo e mais um pouco, saio, o museu já vai fechar. as coisas aqui fecham diz o moço e sorrio. o sorriso se fecha na medida que meus pés cruzam a linha que divide o interno do externo. o claro do escuro. o brigadeiro acabou, a festa acabou. run nana, run. de ônibus, isso não é nada bom, eu penso. espero. eu e milhares de pessoas. estão voltando depois de um dia de trabalho. estamos no mesmo não-barco. demora. deveria estar acostumada. tudo demora. tento não ligar. mas o teto pintado de cinza-escuro com desenhos prateados que vão e vem não me deixa não ligar. os carros se acumulam. se acumulam. se acumulam. o ônibus está lá atrás. esperamos. lota. nos acotovelamos. temos todos que chegar, pessoal, temos todos a mesma pressa. estar dentro do ônibus traz o alento de estar um pouco acima do nível da rua-rio. a chuva chega muito mais depressa que o trânsito. estamos todos no mesmo ônibus-barco. janelas fechadas, embassadas, calor, apreensão. estamos na mesma são paulo. horas, dias, meses, anos. estamos parados. engarrafados. podia ser champagne o conteúdo da garrafa. relaxo. o rio da marginal vaza. relaxo. reanaliso minhas chances de subir ao teto do "busão" se for necessário. tenho aptidões de ginasta. rio da minha própria cara. sou jacú fora do mato. o resto nem liga. lembro do "seo jorge" na versão da minha música favorita. estou há tempos dentro do veículo. depois de horas chego em casa. meu celular sem bateria. pego o cartão e tento ligar pra ele do orelhão. estava escangalhado e o cartão zerado. saio de lá com os pingos me molhando e canto em alto e bom tom "hoje a marginal engarrafou e eu fiquei à pé, tentei ligar pra você, orelhão da minha rua estava escangalhado, o meu cartão tava zerado, mas, você crê se quiser". seo jorge, eu te entendo quando adapta. eu não sou daqui, todos sabem. mas poderia ser. poderia ser de qualquer lugar.

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