quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

101 dias em são paulo

8. enxurrada

nem só de chuva se fazem as enxurradas de são paulo. depois de sair da sala são paulo. depois de ver todas as belezas que poderia em um dia de semana, fui de encontro a realidade, nua e crua. nua, crua e lotada de todo tipo de informações, nem sempre boas. sai de lá a passos rápidos pelo medo da chuva e pelo medo da noite. sabia das minhas horas de volta. passo pela traseira da luz e não é tão iluminada assim. não que eu me incomode tanto assim com drogaditos, mãos leves e putas, fui criada perto do passeio público de curitiba. mas com uma quantidade grande de gente correndo, se acotovalendo e tudo misturado, dá uma certa insegurança e o pensamentos de "deveria ter guardado o dinheiro em vários lugares". me celular já tinha sido furtado (diz meu marido que roubo é quando você vê e furto quando não vê), então estava batizada na grande metrópole. comecei a andar cada vez mais rápido. quase corri. mas tive tempo pra ver uma figura. uma mulher com muitos anos de idade, muitos mesmo, diria que era quase uma centenária, sentada num degrau, com fones no ouvido, várias bijuterias escandalosas, um vestidinho tomara-que-(não)caia colorido, cigarro noutra mão e um batom vermelho impagável. estava lá sentadinha, parecia uma estátua, não se movia muito, mas tinha um sorriso meio "monalisa da rua" que era intrigante. tive que dar uma olhada. queria ter feito uma foto, mas fiquei sem graça de tirar uma foto dela, parecia pra ser levada na memória e não pra ser congelada numa fotografia, depois fiquei com medo de tirar a máquina da bolsa e por fim lembrei que um dia um amigo me disse que era meio "clichê" ficar tirando foto de gente pobre na rua. enfim, guardei na minha memória aquela imagem enigmática. voltei pra correria. peguei fila pra comprar o bilhete do metrô. fila pra entrar nele. e depois disso me deparei com uma enxurrada de gente indo no sentido contrário de onde eu queria ir. fiquei alguns minutos delicadamente tentando romper o fluxo e passar. delicadamente fui empurrada, pisada, espremida, esmagada. deixei a delicadeza na bolsa. me joguei no fluxo e tentei a sorte. andei alguns metros no sentido deles, levada pela correnteza de gente, depois, por fim, consegui fazer uma manobra e ir sentido ao destino que queria. fiquei imaginando aquela gente toda dentro de uma minhoca de lata. pensei em quantas iriam para o mesmo lugar que eu. pensei em esperar. se correr o bicho pega e se ficar ele te come. resolvi não pagar pra ver. fui. o metrô em horário de rush não tem nada de democrático. você desce onde eles querem e sobe se eles quiserem. "eles" é uma massa compacta de gente, meio sem face, meio sem vontade que arrasta o que há pela frente. desci e subi várias vezes no metrô até conseguir chegar ao meu destino final. mas o pior ainda estava por vir. fui até o ponto do ônibus e vi que várias pessoas já estavam lá. esperei. esperei. esperei. esperei por muito tempo até que veio o primeiro ônibus que eu poderia pegar. não deu, tinha gente saindo pela janela. o segundo idem, o terceiro, o quarto. eis que no quinto "buzão" eu entrei no afogadilho. metade da viagem e nada de esvaziar. metade de viagem e nada de conseguir passar a roleta. mais da metade e o povo nada de descer. chegou a minha parada eu estava bem perto da roleta, que fica no meio do ônibus, não consegui ir nem pra frente e nem pra trás. três pontos depois de onde eu deveria descer, consegui chegar perto da porta. pensei em descer. já tinha escurecido. eu não fazia idéia de onde estava. tive a bendita idéia de esperar chegar ao ponto final e voltar. bendita nem tanto. fui, fui e fui. andei tanto que já estava tonta. umas "quebradas" de dar medo. e dai que começaram a descer. longe, bem longe. fui parar no meio de um favelão que nem sei que nome tem. medo. noite. muito medo. pensei em descer e ligar pra minha amiga e pedir pra vir me buscar. estava sem celular, teria que achar um orelhão, não fazia idéia de onde estava, teria que perguntar e torcer pra ela saber onde era. além disso teria que esperar. nesse bonde de pensamentos, o cobrador me disse que era o ponto final. expliquei a situação e ele sorridente, como se aquilo fosse e deve ser, normal, me levou até o outro ônibus que estava saindo e disse pro cobrador onde eu deveria descer, pra ele me avisar. tem metade de gente ruim e uma outra metade de gente boa nesse mundo. voltei, voltei, voltei. já era bem tarde desci no shopping. passei no supermercado dentro dele e caminhei olhando pra todos os lados, agarradinha nas minhas coisas. quando cheguei minha amiga já estava com os olhos esbugalhados, pensando o que ia dizer pros meus familiares. depois de tudo tivemos que rir. mas percebi que nada em sampa é só isso. not just!

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