terça-feira, 10 de novembro de 2009

escre-vendo

tenham piedade de mim os meus olhos, que olham que olham, vou vendo, escre-vendo o que meus olhos insistem em mirar o tempo todo, todo tempo... insisto em insistir em visões, em palavras, em emoções que não deixo guardadas, que deixo expostas, à flor da carne que murcha ao sol, que murcha sem água, sem visão...
tenham piedade meu olhos, piedade do que aqui pulsa, do que aqui respira, das minhas pirações, das minhas coisas encaixotadas, das minhas coisas guardadas a sete chaves de portas abertas, do peito rasgado de folhas de seda, em folhas ao vento, que não se segura, que não se doma... tenham piedade de mim, meus olhos e seus olhares certeiros, morteiros da ilusões que crio, que rego com água mineral e cascas de ovos intactas, tenham piedade e cuidado para não arranhar a pintura já patinada, já queimada, já descolorida das minhas retinas...
tenham piedade de mim os meus olhos, que nunca se fecham, que multifocam, que me chocam com visões de um mundo que nunca será só meu, que nunca fará parte de mim como faço parte dele, que nunca mais será de águas claras e calmas como outrora... que agora em tempestade me deito e me levanto e que agora em tempestade ouço o canto da sereia que vive dentro em mim...
tenham piedade de mim meus olhos, ainda que não por piedade, nem por compaixão... tenham piedade ainda que por rotina, que por comodidade de não serem lavados todos os dias com a água buricada que escorre do meu peito, vermelha e segue até vocês...

Nenhum comentário: