sexta-feira, 28 de agosto de 2009

diga-me com o que sonha e te direi quem é

cada um é feito dos seus próprios sonhos, cada um tem os seus arquivos secretos que se manifestam toda noite, se manifestam toda vez que se fecham os olhos...
cada um é feito de misturinhas que depois se fundem numa noite, que passam como um filme dentro da cabeça de quem em profundo se deita...
cada letra, cada palavra, cada sonho, cada pesadelo é por certo um pedaço de nós, transferido à uma tela que está por dentro...
cada um tem a sua poética, cada um tem as suas visões e num sonhos isso se mostra tão presente como lá estamos nós, estampados em outras cores, em outras formas, mas sempre nada mais do que nós mesmo...
esse nós mesmos que nós não conhecemos, que não sabemos que temos por dentro, que se mostra em sonhos e por vezes em pesadelos...
ontem vi "os sonhadores" do bertolucci... vi aqueles sonhos que se pareciam com alguns dos meus, vi a vida feita em poesia, vi a vida vivida em sonhos de sono profundo... onde de tão adormecido se vive sonhando sem poder acordar, como se acordar fosse preciso... a sensibilidade do sangue que se sente, que se doa, que se vê... o sangue que está por dentro, o que está por fora, as formas que o amor pode ter e que nada se parecem com a vida real... a poética do bertolucci tocou onde outro filme dificilmente poderia tocar...
eu tenho cascas e mais cascas, umas por cima das outras, eu tenho coisas muito bem escondidas, coisas que nem eu entendo, mas que sei que estão lá, e por vezes elas aparecem nos meus sonhos, nos meus pesadelos, e demorei um tanto pra saber de onde vinham aquelas imagens, os sons, os cheiros, as formas... elas não eram alimentadas pelos meus olhos, mas sim projetadas deles pra dentro... era um material que já estava todo aqui, desde a minha composição, já estava tudo aqui dentro, guardado, cascado...
e quando eu me deparo com aquela poética, com aquela forma de ver o mundo que me é tão íntima, quando eu me deparo com aquelas fotografias expostas uma após a outras numa projeção que se projetava de fora... em mim entrou bem mais fundo, bem mais por dentro... entendo coisas dali que jamais poderia dizer, que jamais poderia explicar... tem uma poesia nisso tudo, nele, em mim, no nós, que não é possível escrever ou declamar... uma dessas poesias internas, mas tão internas que muitas vezes nem olhando pra dentro dá pra ver...
nossos sonhos e pesadelos falam de nós, estou aprendendo a ter um diálogo mínimo com eles nas noites de sol...

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