segunda-feira, 14 de setembro de 2009

pela rua Xv de novembro

anda pela calçada com os pés em saltos altos certos de onde quer chegar... sabe o que acontecerá ao chegar, sabe...
vai assim mesmo, vai por vontade própria, sempre teve esse dom, de fazer as coisas que quer, na sua hora, no seu momento, como quer...
cantarola algumas canções, cantarola alto e por fim baixa o tom, guarda a canção que mais gosta, a preferida, dentro do peito, continua a caminhada, firme, certeza é o seu jeito.
compra um chicletes de tutti-frutti, misto de restos de outros chicletes que sobram na fábrica, é o que pensa, era o que sempre pensava dos tutti-fruttis da vida. masca ruidosamente. odeia o barulho da boca enquanto come, enquanto masca, mas não o seu barulho, ele era ouvido por dentro, ele sim faz sentido. faz bolas tão grandes, que tem medo de entrar dentro delas. tem medo de ficar colada numa goma de mascar. faz mais bolas, não há espaço para o medo, não naquele momento.
senta no banco de madeira, espera até o horário combinado, espera mais um pouco do que o combinado. espera por muito tempo. o chicletes perde o gosto, sua mandíbula doí. cospe no chão e observa por algum tempo se alguém pisa no chicle, se xinga, se tenta limpar a sola, ou se como de costume, pisa e nem vê no que pisou, se segue colando chicletes pelo chão. ninguém pisou. olhou para o relógio, parece parado. levantou. olhou em volta. olhou novamente para o relógio e confirmou, está parado.
abriu a bolsa, mais uma vez retirou de lá milhares de folhas de papel branco sulfite A4. pega fita durex e sai caminhando novamente. sem tanto ímpeto, sem tanto. cola nos postes e em todo lugar visível que encontra, distribui para os transeuntes. olha nos olhos de todos. que não vêem...
"procura-se macaca desaparecida que tem o costume de imitar gente. cuidado perigosa. dá-se boa recompensa."
andou até o final da rua XV.
parou no orelhão.
discou 190.
eu tenho notícias da macaca desaparecida. ela está distribuindo panfletos em plena rua XV, neste momento. tutututututututututuuuuuuuuuuuuuuuaaaauuuuuuuaaaaauuuuuuuuaaaa
joga os papéis para cima num ato violento de desespero. rasga as roupas, coloca as duas mãos no chão, anda de um lado para o outro, bate contra o peito, uuaaauuuaaauuu!
ninguém olha, o chicletes continua no chão, o relógio não marca o tempo.
- mãe, olha, um macaco...
- esse menino, sempre inventando mentiras...
recolhe as roupas rasgadas do chão, sobe na velha árvore em frente ao Girafas... se nega a olhar os humanóides dali de cima.
veste os trapos rasgados. desce com os sapatos nas mãos.
calça os sapatos e anda novamente pela rua, já não sabe o que é ímpeto.

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