quinta-feira, 10 de setembro de 2009

saliva, SUOR e algumas gotas de MUITA paixão

estava parada por dentro e por fora. as minhas pernas mexiam volta e meia, ficava nas pontas dos pés e voltava ao chão quando sentia formigarem os meus dedos. tinha na bolsa um caderno, uma caneta de quatro cores, azul, verde, vermelho e preto. quatro cores. não me parecia que lá fora estivesse tão quente, lá fora. tirei o casaco e coloquei no colo, mexi na bolsa mais uma vez. não sou das que mais tem paciência na vida, não sou. virei na cadeira, meu termômetro de paciência apita quando começo a me mexer com frequência, já se sabe que é o meu limite de tolerância. limite que se estende até muito mais, mexendo ou não, se estende. bocejei, esfreguei as mãos contra os olhos e fechei-os por um longo minuto. sinal de que estou esperando a tempos é bocejo+sono+mãos nos olhos. quando fechei os olhos me veio um lampejo de sonho, daqueles sonhos que sonhamos de propósito. sonhei com um amor de verdade, um daqueles amores que aparecem do nada e ficam e ficam e amam, um amor de verdade que na verdade não é bem de verdade e nem bem amor. não pude resistir, fiquei ali esperando, impaciente e sonhando com os olhos levemente fechados. pensei no amor chegando com passos leves, desses que se escuta tão pouco que não dá pra notar que são passos, perfume que invade a sala, desses perfumes que de tão perfumados parece se sentir de verdade, e com uma voz tão, tão, tão, bom, tão inexplicável que seria como ouvir a voz de Deus. uma mão tocou nos meus joelhos. meus olhos se abriram de susto. não me assustei por que estava dormindo, sonhando e fui acordada. tinha realmente ouvido passos, o perfume estava no meu nariz e quando os meus olhos se abriram vi o amor de verdade, que não se parecia nem com a verdade e muito menos com amor. na minha frente, com a voz inexplicável, com uma beleza tão incompreensível que tive que fechar os olhos e abrir de novo para ter certeza de que estava realmente acordada. um amor de verdade que nem de verdade parecia, ali na minha frente e verso e frente e verso. se algum dia me dissessem que seria esse meu padrão de beleza aos 30 anos, se me dissessem eu duvidaria. duvidei. tive que articular milhares de pensamento pra sacar o que na verdade estava sentindo. tive que articular muita coisa aqui dentro pra me dar conta do que estava acontecendo ali. e pra mim foi o fim de um ciclo, sabia que dali pra frente nunca mais poderia prestar atenção a mais nada, sabia que não entenderia mais as coisas de maneira tão simples assim, sabia que daquele momento em diante as coisas seriam muito mais perguntas do que respostas. sempre duvidei dos amores de verdade, sempre duvidei. mas quando os meus olhos se abriram e uma gota de suor e paixão escorreu pela lateral do meu rosto. quando minha boca precisou falar um mero "oi" e a saliva me pareceu cola, densa, espessa e que solapava minha boca e nada mais saia dali. precisarei de muito mais tempo para digerir. na minha bolsa tinha uma caneta de quatro cores, vermelho, verde, azul e preto. um caderno inteiro. uma caneta de quatro cores e um caderno. pela primeira vez as coisas não foram exatamente assim, eu não tive que correr pra ele escrever desesperadamente por hora, eu não tive que escrever meu nome junto ao seu, não tive que desenhar uma porção de corações. pela primeira vez senti algo que não é cognitivo aqui dentro, senti algo que me deixou sem linha, sem cor, sem caderno. senti um vazio que preenche. não me parecia que lá fora estava tão quente. já tinha tirado o casaco. não poderia tirar mais nada. na minha bolsa tinha uma caneta de quatro cores, era pouco quatro cores naquele momento pra mim. quando fechei os meus olhos para me deixar levar por um sonho bom. quando abri os meus olhos. quando vi a cara de Deus. quando ouvi a sua voz. tenho muito mais perguntas dentro de mim. tenho essa vontade de abrir e fechar meus olhos a todo instante e ver se sonho novamente. são quase palavras de um sonho bom. quase só palavras sem nenhum sentimento. só uma histórinha dessas de novela, ou livro de romance. li uma sabrina essa noite, fechei meus olhos e imaginei acordar, fechar os olhos e poder sonhar um sonho bom, poder sonhar um daqueles sonhos que se direciona, que se premedita. fechei os olhos novamente, mas infelizmente agora, neste momento, é melhor não abrir.

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